VITAMINA “D” E SAÚDE

19/05/2016

Aumentou o consumo de vitaminas pela população. A vitamina do momento é a vitamina D, também conhecida como a “vitamina do Sol”. Mais de um bilhão de pessoas no mundo têm deficiência dessa vitamina, sendo essa condição considerada um problema de saúde pública porque a vitamina D tem um papel importante no desenvolvimento de diversas doenças, principalmente as doenças crônico-degenerativas, inclusive a obesidade, diabetes e hipertensão, além de doenças neurológicas, autoimunes, cardiovasculares, ósseas e câncer. Em crianças, a deficiência de vitamina D é uma das causas do raquitismo, enquanto que em idosos esta vitamina está associada com a osteoporose e um risco elevado de fraturas. Devido a essas evidências, a vitamina D aparece como sendo o suplemento nutricional mais comentado da última década pelo New York Times.

Antes pensava-se que a vitamina D atuava apenas sobre o metabolismo ósseo, manutenção dos dentes e balanço de cálcio sanguíneo. Porém, estudos recentes demonstraram que o papel da vitamina D é muito mais abrangente, agindo no funcionamento de vários órgãos e sistemas e na prevenção de doenças não comumente associadas a esta vitamina.

O acompanhamento da dosagem sanguínea de vitamina D faz parte dos protocolos de investigação clínica. O fato de o Brasil ser um país tropical (com muito sol), leva a falsa ideia de que a população brasileira não apresenta deficiência de vitamina D, mas a realidade não é assim. Devido à rotina da vida contemporânea, à baixa exposição à luz solar e ao cuidado excessivo com a pele por causa do risco de câncer, a prevalência de deficiência de vitamina D no Brasil é muito alta.

Para medir os níveis de vitamina D é necessário dosar a 25(OH)D3, que indica o status do indivíduo como adequado, insuficiente ou deficiente. A deficiência de vitamina D é caracterizada quando a 25(OH)D3 é menor que 20 ng/mL e a insuficiência menor que 30 ng/mL. Para atingir o nível adequado de vitamina D recomenda-se a ingestão diária de 600 UI/dia. No entanto, a principal fonte de vitamina D é o Sol, pois a substância é produzida pelo organismo quando os raios ultravioletas B (UVB) incidem sobre a pele, dando origem a diversas reações que resultam na síntese dessa vitamina. Quando é absorvida pela corrente sanguínea, sofre modificações no fígado e no rim, sendo transformada em Calcitriol [1,25(OH)2D3], a forma ativa de vitamina D, um hormônio que aumenta a absorção de cálcio pela via intestinal. Além disso, a vitamina D pode ser absorvida via alimentação, sendo encontrada em alimentos como leite e ovos, porém as quantidades encontradas nesses alimentos são baixas e não suficientes para a manutenção dos níveis ideais.

Para a produção adequada de vitamina D o ideal é expor o tronco, os braços e as pernas, sem filtro solar, por cerca de 10 minutos, entre 10 e 15 horas. Pessoas com predisposição ou que já tiveram câncer de pele devem evitar essa exposição, devendo assim, procurar orientação médica para avaliar a necessidade de suplementação.

Nos últimos anos a venda de suplementos de vitamina D teve grande aumento, perseguindo um valor de referência que ainda não está totalmente consolidado, levando a ingestão de grandes doses dessa vitamina. O problema é que a suplementação excessiva de vitamina D pode não ser eficaz e até prejudicar a saúde. A sobredose de vitamina D pode levar ao aumento da concentração de cálcio na urina, levando a formação de cálculo renal. Doses extremamente altas (em torno de 10000 UI/dia) podem levar a depósitos de cálcio nos vasos sanguíneos e sua obstrução.

Estudos recentes mostram uma forte associação entre os níveis sanguíneos de vitamina D e o menor risco de câncer colorretal e de mama. Novas pesquisas estão sendo realizadas para entender os mecanismos biológicos envolvidos e identificar se a adição de vitamina D pode melhorar a sobrevivência e retardar a progressão da doença. Os tumores possuem uma grande dependência dos vasos sanguíneos para sua nutrição, uma das teorias da diminuição da progressão do câncer com a suplementação de vitamina D é de que esta vitamina diminui a angiogênese (formação de novos vasos sanguíneos) nos tumores, diminuindo a irrigação e consequentemente a diminuição do tumor.

A influência da vitamina D vai muito além de sua ação direta sobre o organismo. Mães que têm insuficiência ou deficiência de vitamina D durante a gestação têm filhos com alterações no desenvolvimento dos rins, do fígado e do pâncreas (órgão responsável pela produção de insulina e glucagon) com possibilidade de levar ao desenvolvimento do diabetes tipo 2 e obesidade nos filhos (leitura sugerida: Maia-Ceciliano et al. Maternal vitamin-D-restrict diet has consequences in the formation of pancreatic islet/insulin-signaling in the adult offspring of mice. Endocrine (doi: 10.1007/s12020-016-0973-y).

A escola de medicina da Universidade de Harvard está conduzindo uma pesquisa com cerca de 26000 participantes de diversos grupos étnicos, para definir melhor os níveis adequados de vitamina D. Os primeiros resultados estão previstos para divulgação em meados de 2017. Até que estudo seja divulgado, os médicos devem seguir a recomendação de ser necessária a suplementação com pelo menos 600 UI de vitamina D por dia para indivíduos saudáveis. Em idosos, obesos, doentes crônicos, pessoas com doenças inflamatórias, má absorção intestinal ou que foram submetidas à cirurgia bariátrica (pessoas consideradas como participantes de grupos de risco para deficiência da vitamina D) há necessidade de suplementação de vitamina D, pois a exposição solar e síntese natural podem não ser suficientes. Leitura sugerida: Borges et al. Adverse effects of vitamin D deficiency on the Pi3k/Akt pathway and pancreatic islet morphology in diet-induced obese mice. Mol Nut Food Res 2016;60:346-357.

A vitamina D, também conhecida como “vitamina do sol”, está envolvida em diversos processos fisiológicos e sua deficiência está associada com diversas doenças.

Autores:

Celina Carvalho Borges

André Rodrigues da Cunha Barreto Vianna

Carlos A. Mandarim-de-Lacerda – Membro Titular da Academia Nacional de Medicina

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