Experiência médica, equipe multidisciplinar e centros especializados são indispensáveis
A medicina do trauma e a abordagem ao paciente politraumatizado são alguns dos temas mais desafiadores da atualidade já que requerem grande experiência médica – com exímio conhecimento anatômico – suporte de uma equipe multidisciplinar dedicada e uma infraestrutura adequada, disponível em centros especializados em traumatologia para receber esse tipo de vítima. Esse cenário foi ilustrado e debatido durante a sétima sessão do Curso de Extensão em Cirurgia, promovido pela Academia Nacional de Medicina.
Segundo o acadêmico José de Jesus de Camargo, “o trauma é reconhecido como uma verdadeira epidemia do moderno mundo mecanizado, responsável por uma significativa taxa de mortalidade da população em idade labora produtiva, sem contar a imensa gama de sequelas funcionais, muitas delas irrecuperáveis. Sequelas de todo tipo, incluindo as vítimas emocionais pós-traumáticas.”
Na ocasião, foram debatidos diferentes tipos de trauma como o vascular abdominal e periférico, apresentados respectivamente por Maurício Godinho, da Universidade de São Paulo, do campus de Ribeirão Preto (USP-RP), e pelo convidado internacional Pablo Ottolino, da Universidade Católica do Chile, que falou dos cinco pontos mais importantes quando há trauma vascular periférico, incluindo as manobras essenciais. Foram abordados também as novidades no atendimento a queimados com a apresentação de Nelson Piccolo, do Instituto de Queimados, em Goiânia, que apresentou o uso da pele de tilápia e o uso de terapia celular com de células tronco derivadas da gordura.
Damage Control ou cirurgia de controle de danos (CCD), conceituada como um ato médico para manter o paciente gravemente traumatizado vivo por meio de procedimentos que limitem o sangramento e o mantenham estabilizado hemodinamicamente, foi apresentado pelo cirurgião Hélio Machado, do Complexo Hospitalar de Niterói (CHN). Machado relatou as indicações desse tipo de abordagem, suas fases, objetivos e reforçou como os pacientes gravemente feridos podem se beneficiar da CCD, alertando para o principal desafio: o fechamento da parede abdominal do paciente e uma falha, nesse momento, é responsável pelo aumento da mortalidade e reinternações.
Luiz Carlos Von Bahten, presidente do Colégio Brasileiro de Cirurgiões (CBC) – que promove o curso de extensão em parceria com a ANM –, falou sobre a síndrome compartimental abdominal, condição causada por um aumento anormal da pressão dentro do abdômen que pode levar a morte, caso não ocorra descompressão imediata; e reforçou que há diversos centros que pesquisam o manejo dessa condição.
Extracorporeal Membrane Oxygenation (ECMO), ou traduzido como Oxigenação Extracorpórea por Membrana, é um método que tem trazido muitos resultados para pacientes que sofrem traumas e que, por algum problema, o pulmão não fornece o oxigênio suficiente para o corpo. O procedimento tem alcançado resultados positivos e foi um dos temas discutidos pelos acadêmicos e pelo médico Antonio Marttos, da Miami University, EUA
Segundo Marttos, “um paciente pode ficar 2,3,4 dias, algumas semanas ou meses no ECMO. A ideia para a retirada do equipamento é que o fluxo da bomba seja reduzido progressivamente e que SaO2 – a gasometria que mede o nível de oxigênio, PH e gás carbônico – esteja acima de 95%.”
É importante ressaltar que equipes multidisciplinares, a abertura de unidades especializadas e profissionais treinados e com experiência para o manuseio desses pacientes graves em ECMO é fundamental.
Outro convidado do evento sobre traumas foi o chefe do comitê médico da Federação Internacional de Automobilismo (FIA, na sigla em inglês), de Genebra, na Suíça, Dino Altmann. O especialista abordou os traumas em eventos esportivos. À medida que as competições evoluem e se apropriam das tecnologias, o esporte torna-se mais seguro, tendo em vista que novos modelos de estrutura e segurança foram pensados para proteger os atletas de grandes traumas, como é o caso da Fórmula 1 que se aperfeiçoa, cada vez mais, com aparatos de proteção e seguridade para garantir o menor dano possível aos pilotos em casos de colisão.
Segundo descrições de Altmann, antes de cada evento esportivo, é realizada análise técnica e estratégica para bons resultados de prevenção, em tempo adequado de resposta pelas equipes médicas e auxílio na recuperação do piloto.
“Eu acredito que o preparo psicológico de toda a equipe deve estar mais alinhado do que qualquer outro preparo específico. Hoje, uma equipe completa de profissionais para o evento está em torno de 28 profissionais de alta competência, que estão habituados com traumas muito mais graves do que normalmente se vê no automobilismo. As equipes se encontram constantemente para treinamentos intensivos”, completou Altmann.
Participaram também Filipe Andrade, da Universidade de Vassouras, no Estado do Rio de Janeiro, com o tema Manejo do trauma de esôfago de diagnóstico tardio; Roger Normando, da Universidade Federal do Pará, que abordou as feridas do hilo pulmonar; Sizenando Starling do Hospital João XXIII, em Belo Horizonte, falando do importância da avaliação dos pacientes para tratamento não operatório no trauma abdominal contuso; André Gusmão, da Universidade Federal da Bahia, que tratou sobre protocolo hemotransfusão maciça e; José Fernando Guedes, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), abordando o tratamento do trauma dos nervos periféricos e neuroplasticidade.
O presidente da Academia Nacional de Medicina, Rubens Belfort, ressaltou o alto nível da cirurgia brasileira. “É muito bom e admirável observar o brilhantismo de médicos brasileiros de vários lugares e atuando em diferentes áreas.”A sessão foi organizada pelos acadêmicos José Jesus Camargo, Rossano Fiorelli, o médico Antonio Marttos, correspondente e Estrangeiro da ANM; e Bruno Monteiro, Jovem Liderança da ANM, que ainda palestrou sobre Fístula Migration.