Nesta semana, a aula no Curso de Atualização em Ciências Médicas da ANM, teve como tema o Traumatismo Crânio-encefálico (TCE). O Acadêmico Carlos Roberto Telles Ribeiro, responsável pela organização desta aula, convidou seu colega de especialidade, o Dr. José Fernando Guedes Correa, para ministrá-la.
José Fernando Guedes Correa é graduado em Medicina pela UNIRIO, especialista em Neurocirurgia pela Universidade de Ghent (Bélgica), Doutor em Medicina (Clínica Cirúrgica) pela USP e Pós-Doutor pela Universidade de Leiden (Holanda). Atualmente é Professor Titular de Neurocirurgia da UNIRIO, Professor de Anatomia Humana da UNIRIO, Chefe da Divisão de Neurocirurgia do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG), Vice-chairman of the Peripheral Nerve Surgery Committee of the World Federation of Neurosurgical Societies. Foi Chefe do Serviço de Neurocirurgia do Hospital Municipal Souza Aguiar, Presidente da Sociedade de Neurocirurgia do Rio de Janeiro (SNCRJ) e Presidente da Sociedade de Cirurgia Neurológica do Cone Sul.
Em sua aula, o Dr. José Fernando interagiu bastante com os alunos, tornando a aula bastante dinâmica.
Começou a sua explanação afirmando que o melhor tratamento para o TCE é, e sempre será, a PREVENÇÃO. Em seguida, expôs a importância do Advanced Trauma Life Suport (ATLS) e do bom atendimento pré-hospitalar para o sucesso do tratamento definitivo deste tipo de paciente. Falou também sobre a importância de se conseguir e manter uma via aérea pérvia, pois o tecido neural é rapidamente lesado em hipóxia; a ressuscitação cardiopulmonar bem realizada, para a chegada de glicose e oxigênio no tecido em sofrimento; além da imobilização da coluna cervical, pois nos TCE, em linhas gerais, há lesão cervical acompanhada.
Na emergência, o palestrante ratificou a importância do domínio da semiologia para suspeitar de diagnósticos. Os sinais de Battle e de Guaxinim, por exemplo, são típicos de uma lesão com fratura de base de crânio; otorreias e rinorreias podem caracterizar fístulas liquóricas. O palestrante também expôs a importância da escala de coma de Glasgow para a classificação dos pacientes.
Quanto aos exames complementares, o palestrante afirmou que a Tomografia Computadorizada de Crânio (TC) é o melhor exame complementar para definir diagnósticos, condutas e prognósticos em casos de TCE, sendo um exame imprescindível num Serviço de Neurocirurgia ou Trauma. Afirmou também que a classificação de Marshall é uma ótima forma de avaliarmos as TC em casos de TCE.
Seguindo sua aula, o Dr. José Fernando, expôs aos alunos os tipos de lesões mais comuns no TCE: fratura de crânio; lesões penetrantes; lesões encefálicas difusas, como a concussão cerebral, a lesão axonal difusa, dano axonal extenso e alguns tipos de lesões vasculares; lesões encefálicas focais, como a contusão, os hematomas (extradural, subdural, intracerebral etc), algumas hemorragias localizadas e também algumas lesões isquêmicas.
O palestrante afirmou que identificar lesões que precisam ser encaminhadas para o neurocirurgião intervir, além de iniciar a realização de procedimentos que tenham como objetivo a prevenção de danos secundários, é a principal função do médico no setor de emergência.
Segundo o palestrante, o controle da hipertensão intracraniana (HIC) assume um papel de máxima importância no TCE, pois é basicamente esta alteração que levará o paciente a óbito. A clínica básica da HIC é cefaleia, náuseas, vômito (geralmente em jato) e alterações visuais. A HIC deve ser evitada a todo custo, e para isso, deve-se monitorar a pressão intra-craniana do paciente (preferencialmente no ventrículo) continuamente.
Dentre as causas de HIC, o Dr. José Fernando afirmou que o edema cerebral é o que traz maiores desafios, por sua variedade de causas, e que este é um quadro crítico sobre o qual o neurocirurgião tem que atuar de forma mais precoce possível. Um bom sinalizador para se avaliar o edema encefálico é o desvio da Linha Média, através do índice de zumkeller.
Em sua conclusão, o palestrante resumiu os três aspectos mais importantes na conduta dos TCE: a prevenção, o atendimento pré-hospitalar de qualidade e a identificação precoce de lesões para evitar maiores danos ao paciente.
No fim da aula os alunos retiraram suas dúvidas e uma delas foi sobre a prevalência de lesões de TCE após o início da chamada “Lei Seca”. O Dr. José Fernando afirmou que pela sua experiência como chefe de um serviço público de neurocirurgia, esta lei contribuiu bastante para a redução de lesões crânio-encefálicas em acidentes de automóveis, motocicletas e no trânsito das grandes cidades do Brasil.