A atividade médica é feita de muitos percalços e na última quinta-feira (27), o simpósio da Academia Nacional de Medicina (ANM) abordou a importância da sutileza na profissão com o tema As Sutilezas da Atividade Médica. Organizado pelo Acadêmico José J. Camargo, as palestras reuniram assuntos que ressaltaram os fundamentos da relação médico-paciente em diferentes esferas. “Essa Sessão vai discutir situações especiais da atividade médica e que se caracterizam pela exigência de sensibilidade, delicadeza, bom senso e muito treinamento”, disse o Acad. José J. Camargo ao iniciar as apresentações.
Com essa declaração, o Dr. Eduardo Berbigier foi introduzido para apresentar o tema Entrevista com a Família na Doação de Órgãos, em que explicou a função desta entrevista com os familiares, como a comunicação evita situações difíceis no momento da partida de um ente querido e o impacto da falta de treinamento para esse momento. “Nós não estamos acostumados a aceitar a morte”, afirmou o médico durante a palestra. Por fim, também foi compartilhado alguns pontos principais para a realização deste diálogo, como a opção de um ambiente controlado, o respeito, autenticidade e empatia estabelecendo uma relação de ajuda, e uma comunicação baseada na rotina das conferências familiares.
A segunda apresentação abordou o tema A Arte de Ouvir na Relação Médico-Paciente, da Psicóloga Ana Luiza Novis, que usou diferentes autores e poetas para abordar o assunto e afirmar que “o vínculo só pode ser construído numa presença verdadeira e numa escuta genuína, que reconhece aquela pessoa, aquela família e não apenas a doença”. A psicóloga compartilhou a História de Maria, sobre um momento que viveu com seu pai e uma paciente que estava lidando com o falecimento de uma filha.
A abordagem e tratamento com dependentes químicos também é uma atividade que necessita de sutileza e empatia, e no tema Estratégias de Abordagem ao Usuários de Drogas, apresentado pela Professora Ana Cecília Marques, foram abordadas os principais conflitos na intervenção, em que a equipe multidisciplinar é fundamental e deve estar muito bem alinhada para que seja eficaz. A Professora explica sobre o abuso de substâncias em adolescentes, como intervir e o estigma sobre a chegada dos usuários nas emergências hospitalares. Ela finaliza mostrando um checklist para investigar o adicto e afirma: “Nunca confrontar o indivíduo e saber o momento de encaminhar para o especialista”’.
Na segunda parte do simpósio, o Acadêmico Antonio Egídio Nardi abriu as apresentações ao tratar um assunto delicado: O Suícidio Assistido. “É algo ambivalente na minha concepção de medicina falar a respeito do suicídio assistido”, iniciou o Acadêmico, ressaltando dilema do psiquiatra, que trabalha com a prevenção ao suícidio, e a importância do paciente estar lúcido para realizar a ação. Ele mostra casos famosos e os países que autorizam esse procedimento, e explica a principal diferença com a Eutanásia. “O direito à morte digna é um direito de todos nós, é um direito humano. Eu vejo que a morte digna evita um sofrimento indigno, evita um sofrimento por longos períodos para o indivíduo e para família”, disse o Acadêmico Nardi ao final da sua palestra.
Na apresentação seguinte, o Acadêmico Daniel Tabak trouxe a importância na definição de prioridade da informação com o tema Verdade Total X Verdade Útil em Oncologia, em que ele explica sobre a forma de se comunicar com o paciente, expressando a necessidade de compaixão e empatia ao informá-lo sobre o seu caso. Ele menciona os principais pontos a serem pensados na hora de dar a notícia e sobre como abordar o assunto.
Para finalizar o simpósio, a última apresentação veio diretamente de Portugal com o Presidente da ANM Portuguesa Acad. Duarte Nuno Vieira, e Correspondente Estrangeiro da ANM Brasil, sobre o tema A Proteção do Médico Ante a Demanda Judicial, que ele tem alta ligação pois presidiu o Conselho Médico-Legal de seu país. O Acadêmico abordou a lei diante de erros médicos, negligências, as obrigações do médico e o alarde no início do século XXI envolvendo, principalmente, a judicialização da medicina, responsabilidade médica e a qualidade em saúde, e as mudanças que isso gerou.