A Academia Nacional de Medicina (ANM) esteve, mais uma vez, à frente na discussão dos assuntos polêmicos da medicina e saúde pública ao apresentar na última quinta-feira (23) o simpósio Cigarros Eletrônicos: Aspectos Científicos e Regulatórios, os famosos vapes, assunto que a instituição já expressou sua opinião em um Documento Oficial, em junho deste ano. A sessão foi organizada pelos Acadêmicos Carlos Alberto Barros Franco, Marcelo Morales, Paulo Hoff e Margareth Dalcolmo, que ressaltaram a importância da regulação, do controle da importação no país e do impacto no futuro.
O simpósio também contou com a participação de Gloria Latuf, membro da área técnica de controle do tabaco da ANVISA, na mesa diretora. Ela explicou ao público sobre o processo regulatório da agência e como será o processo de avaliação da consulta pública do novo texto sobre cigarros eletrônicos, que ocorrerá no próximo dia 01 de dezembro.
A importância dessa discussão logo se mostrou presente durante a apresentação da Acadêmica Margareth Dalcolmo, na segunda parte do simpósio, em que foi abordado As Consequências Respiratórias dos Vapes. A Acadêmica ressaltou dados sobre o crescimento de uso exponencial dos aparelhos nos Estados Unidos, causando 60 mortes em menores de 35 anos e 2.560 hospitalizações, com diversas consequências ao aparelho respiratório, como asma em 25% dos casos.
Um dos principais pontos mencionados nas apresentações foi a forte campanha contra o tabagismo feita nos anos 80. O Acadêmico Jorge Alberto Costa e Silva explicou a luta da Organização Mundial de Saúde (OMS) para diminuir o consumo de tabaco, dando início a restrição de fumar em ambientes fechados na palestra Tabaco X Saúde: Sua história, passado, presente e futuro. O Acadêmico também ressaltou a importância do psiquiatra e o seu papel na luta contra esse vício. Em seguida, o Dr. Drauzio Varella compartilhou como o cigarro apresentava riscos desconhecidos para a geração passada. A palestra Os Cigarros Eletrônicos e a Dependência de Nicotina iniciou relembrando que o médico começou a fumar aos 17 anos, explicando sobre o período que ele esteve em contato com usuários de crack, analisando sobre o vício em nicotina e criticou a regularização dos cigarros eletrônicos e a normalidade na venda do produto.
Ao abordar os Aspectos Regulatórios do cigarro eletrônico, Gonzalo Vecina Neto, ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) afirmou que “não tenho a menor dúvida que o cigarro eletrônico é tão ruim quanto o cigarro comum, por causa das questões apontadas pelo Drauzio, pode ser pior porque estamos envolvendo adolescentes”. Apesar disso, ele não acredita que a proibição do item gerará qualquer efeito ou algum tipo de consequência: “Eu acho que nós temos que criar um espaço de legalização do uso do Vape e controlar. A ANVISA tem que fazer a regulamentação”, finalizou.
O assunto é uma preocupação mundial e a Professora Graziele Grilo, do Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health, apresentou a palestra Cenário Regulatório Internacional de Cigarros Eletrônicos e Produtos de Tabaco Aquecido, com o objetivo de descrever as abordagens usadas por outros países para a regulamentação dos cigarros eletrônicos. A professora ressalta na campanha de marketing para atrair os jovens, com embalagens chamativas, e que um dos principais desafios é o risco para o vício e as consequências desconhecidas para saúde. De acordo com os dados exibidos pela Profª. Graziele, 4 países proíbem a venda dos vapes com nicotina e 31 proíbem todos os tipos de cigarros eletrônicos, enquanto 85 censuram ou limitam o uso em espaços públicos e 78 não permitem o marketing do produto. Ela finaliza afirmando que é necessário diferentes abordagens regulatórias e clareza para ser eficiente.