Simpósio sobre alergias alimentares e transtorno do espectro autista reúne especialistas na ANM

21/09/2017

A Associação Brasileira de Alergia e Imunologia define Alergia Alimentar como uma reação adversa a determinado alimento, que envolve mecanismos imunológicos e possui apresentação clínica muito variável, com sintomas que podem surgir na pele, no sistema gastrointestinal e respiratório. As reações podem ser diversas e resultam de uma resposta exagerada do organismo a determinada substância presente nos alimentos. Sendo esta uma síndrome que acomete cerca de 6% das crianças e 4% dos adultos, a Academia Nacional de Medicina organizou um Simpósio na última quinta-feira (21), reunindo diversos especialistas que, além de discutirem aspectos envolvendo definições, diagnóstico e tratamentos para a Alergia Alimentar, abordaram sua associação com o Transtorno do Espectro Autista.

Palestrantes do Simpósio

O Simpósio foi aberto com duas apresentações do Dr. Luiz Werber Bandeira (Santa Casa de Misericórdia-RJ), que abordou “Bases Fundamentais do Sistema Imunitário” e “Imunologia da Gravidez”. Acerca do primeiro tema, definiu a imunidade como o estado de reações moleculares que permite a perpetuação das espécies. Segundo o palestrante, o funcionamento do sistema imunológico se baseia no “ato de não conhecer, conhecer e reconhecer”. Sobre “Imunologia da Gravidez”, destacou que a gravidez normal constitui um grande desafio ao sistema imune materno, pois ele deve tolerar os persistentes aloantígenos paternos – o Dr. Werber Bandeira ressaltou que existem evidências que revelam que o reconhecimento imunitário da gravidez pela mãe é primordial para a manutenção da gestação.

O Acadêmico e organizador do Simpósio Aderbal Sabrá fez as apresentações “Nascemos para ser Alérgicos”, “Distúrbio Imunológico e Alergia Alimentar”, “Prevenção da AA e do TEA: Leite Materno ou Aminoácidos” e “Bases Imunológicas do tratamento do TEA”. Acerca do primeiro tema, destacou que dentre as razões pelas quais a Alergia Alimentar aumenta sua incidência em todo o mundo, estão a amamentação inadequada, a presença de infecções pós-natais e o uso abusivo de antibióticos, cuidados excessivos com a higiene e a alteração da digestão por anti-ácidos. Abordando “Distúrbio Imunológico e Alergia Alimentar”, ressaltou que o diagnóstico deverá passar por 3 etapas após a suspeita clínica: testes laboratoriais, exame endoscópico e, por fim, a aplicação de Dietas de Exclusão e do chamado “double blind placebo controlled food challenge” (DBPCFC, na sigla em inglês).

O Acadêmico e organizador do Simpósio Aderbal Sabrá

A Dra. Selma Sabrá (Unigranrio) apresentou palestra com o título “A Mamadeira ‘Assassina’”, na qual reforçou que o leite materno é o alimento ideal para as crianças até os 2 anos de idade ou mais. Ele contém todos os nutrientes (proteínas, vitaminas e sais minerais), inclusive água, de que a criança precisa nos primeiros 8 meses de vida, ressaltando que neste período o bebê deve receber apenas o leite materno, salvo nos casos nos quais a amamentação é impossibilitada, devendo ser substituída por uma dieta com aminoácidos. A médica ressaltou, ainda, que crianças amamentadas com leite de vaca têm 14 vezes mais chances de morrer por diarreia e 4 vezes mais chance de morrer por infecção respiratória aguda, quando comparadas com as crianças amamentadas com leite materno.

Discorrendo sobre “Prevenção da Alergia Alimentar e do Transtorno do Espectro Autista” e “Bases Imunológicas do tratamento do TEA”, o Acadêmico Aderbal Sabrá discorreu sobre a pesquisa que desenvolve a quase duas décadas sobre a associação entre alergias alimentares e transtorno do espectro autista, afirmando que as alterações causadas pela Alergia Alimentar podem interferir nos neurônios, podendo causar convulsões, hiperatividade, transtorno de déficit de atenção e, na sua evolução patogênica, autismo.

Na sequência, a Dra. Luciana Corsini (Unigranrio) discorreu sobre “Alergia Alimentar e TEA”. Chamando atenção para a chamada Conexão Cérebro-Intestino, afirmou que mais de 3.000 neurônios interligam o Sistema Nervoso Central e o Trato Gastro-Intestinal e que a descoberta, em junho de 2015, da presença de vasos linfáticos nas meninges exige uma reavaliação das suposições básicas da neuroimunologia, lançando luz sobre doenças neurodegenerativas e neuroinflamatórias, como o Transtorno do Espectro Autista.

Em sua palestra, a Dra. Ana Muñoz, de Lima (Peru), abordou casos clínicos envolvendo tanto quadros de alergias alimentares quanto casos de transtorno do espectro autista, abordando a utilidade do seguimento personalizado da Alergia Alimentar, baseado no teste cutâneo e no perfil imune do paciente, com o chamado “Método Sabrá”.

O Simpósio foi finalizado com a apresentação de um vídeo para a rodada de discussões intitulada “Conversando com Ex-autistas”, na qual foram apresentados depoimentos de pacientes do Drs. Aderbal e Selma Sabrá a respeito dos desdobramentos do tratamento realizado em crianças com Transtorno do Espectro Autista, com os comentários do Dr. Juan Rivera (Peru). Durante as discussões finais, o Presidente Jorge Alberto Costa e Silva ressaltou a importância do desenvolvimento de um protocolo de pesquisa bem definido e da adoção um critério diagnóstico bem aceito em instituições como a Organização Mundial da Saúde. Salientando a complexidade envolvida nas doenças mentais, o psiquiatra destacou que, após a adoção de estudos controlados, com um desenho metodológico bem definido, este estudo poderá lograr a comprovação científica e a aceitação dentro da comunidade acadêmico-científica, possuindo potencial para alcançar milhares de pacientes de maneira segura e benéfica.

Anfiteatro Miguel Couto repleto de estudantes, residentes e profissionais da Saúde

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