A Academia Nacional de Medicina, que em junho completará 190 anos, tem como uma de suas principais características o compromisso com a inovação e a difusão de novas técnicas e tecnologias que possuem o potencial de melhorar a vida da população. Pensando nisso, os Acadêmicos Cláudio Benchimol e Fabio Jatene selecionaram 8 especialistas para o Simpósio “Fronteiras em Cardiologia”, no qual foram apresentadas as últimas inovações da área.
O primeiro módulo do Simpósio, dedicado à Cardiologia Clínica, foi iniciado com apresentação da Dra. Lenita Zajdenverg (UFRJ), que abordou “Novas Drogas no Tratamento do Diabetes Mellitus Tipo 2 em Pacientes com Cardiomiopatia”, ressaltando que, em 2008, o Food and Drug Administration (FDA) determinou a obrigatoriedade de avaliação da segurança cardiovascular de todos os agentes hiperglicêmicos dos ensaios clínicos randomizados. Ou seja, além de efeitos antihiperglicêmicos, as novas medicações devem comprovar segurança cardiovascular. Além deste fato, ressaltou também que diretrizes mais recentes das Sociedades Médicas indicam escolha das novas medicações antidiabéticas para prevenção secundária e primária de doença cardiovascular.
Já o Dr. Martino Martinelli Filho (Instituto do Coração – HCFMUSP) apresentou palestra sobre a prevenção da morte súbita, definindo-a como morte natural inesperada de causa cardíaca que ocorre no período de até 1h desde o início dos sintomas (testemunhada), ou nas últimas 24h (não-testemunhada). Chamou atenção para as altas taxas de prevalência da morte súbita no Brasil, que em 2009 teve 21.270 registros na região metropolitana de São Paulo. Apontou também que a principal morbidade associada à morte súbita cardíaca é a doença arterial coronariana, e que o reconhecimento precoce e o tratamento adequado da doença arterial coronariana são a melhor forma de prevenção da morte súbita cardíaca.
Na sequência, foram abordadas as “Novas Perspectivas na Terapia Hipolipemiante para Prevenção das Doenças Cardiovasculares” – conferência que coube ao Dr. Raul Dias dos Santos Filho (Instituto do Coração – HCFMUSP), que definiu a dislipidemia como a elevação do colesterol ou triglicerídeos no plasma ou uma baixa concentração de HDL, que contribui para o desenvolvimento de arterosclerose. Destacou que esta é uma das principais causas para doenças cardiovasculares e que carece que atenção dos formuladores de políticas públicas e chamou atenção para o fato de que a maioria dos casos ainda ocorrem sem nenhum tipo de controle, o que confere grande risco à população. Finalizou sua conferência apresentando as novas terapias que estão em desenvolvimento, constituindo uma esperança para este grave problema de saúde pública.
Com apresentação sobre o “Tratamento Percutâneo das Valvopatias”, o Dr. Luiz Antônio Ferreira Carvalho afirmou que a insuficiência valvar mitral é uma das doenças valvares adquiridas mais comuns, com prevalência de aproximadamente 7 a 10% na população com idade superior a 75 anos. Apresentou, então, a valvuloplastia mitral percutânea, destacando que esta possui como principais atributos a avaliação precisa da eficácia do procedimento, a otimização das decisões durante a intervenção e a rápida identificação das complicações. Finalizou sua conferência chamando atenção para a introdução do tratamento com o uso do chamado Mitraclip, que reduz significativamente os sintomas, a progressão da doença e melhora a qualidade de vida dos pacientes.
Abordando “Atualizações na Ablação por Cateter da Fibrilação Atrial por Via Percutânea e Prevenção de AVC através de Oclusão do Apêndice Atrial Esquerdo”, o Dr. Charles Slater (Hospital Pró-Cardíaco – RJ) demonstrou os números associados à fibrilação atrial e morbidade/mortalidade, afirmando que esta aumenta de 4 a 5 vezes o risco de AVC e duplica o risco de demência e triplica o risco de insuficiência cardíaca, o que resulta em um aumento de 40 a 90% o risco de mortalidade em geral. Demonstrou, por meio de diversos estudos, a eficácia dos tratamentos farmacológicos em comparação à utilização de implantes endocárdicos.
Na sequência, foi a vez do Acadêmico Arno von Ristow discorrer sobre “Dissecções Aórticas em Pacientes Assintomáticos”, ressaltando que trata-se de uma pequena parcela dos pacientes, que em geral apresentam sintomas como dor torácica e dorsal de forte intensidade, que pode irradiar-se para cabeça, abdome ou região lombar. Todavia, destacou que cerca de 70% dos pacientes evolui para um quadro assintomático após a fase aguda da doença, o que caracteriza grande risco. Chamou atenção para o fato de que a maioria dos pacientes com diagnóstico de dissecção aórtica possui indicação de tratamento imediato, uma vez que a doença é associada com altas taxas de morbidade e mortalidade em casos não tratados, tendo como exemplo pacientes com úlcera penetrante na aorta ascendente, cujas estatísticas apontam morte nos primeiros 30 dias quando manejados clinicamente.
Finalizando a primeira etapa do Simpósio, o Acad. Fabio Jatene apresentou conferência intitulada “Foco em Qualidade e Segurança: Novos Rumos da Cirurgia Cardíaca”, afirmando que sempre existem oportunidades de melhoria a serem exploradas; todavia, para que seja possível enxergar estas oportunidades, deve-se analisar cada etapa do processo, tendo conhecimento de todas as variáveis envolvidas. Acerca da melhoria da qualidade, ressaltou que na prática médica, o foco está na diminuição de erros com redução da morbidade e mortalidade. Na sequência, enumerou os cinco maiores problemas na área da saúde hoje, segundo a Revista Forbes: demasiados cuidados desnecessários, danos evitáveis para pacientes, bilhões de dólares desperdiçados, incentivos perversos na forma de como pagar pelo atendimento (por procedimento, não por desfecho) e falta de transparência nos procedimentos.
Em seguida, foi a vez do Dr. Roberto Botelho (Instituto do Coração do Triângulo – MG) abordar “Transformação Digital em Cardiologia: o Futuro já Chegou”. Em sua apresentação, o médico abordou o uso da telemedicina no atendimento aos pacientes, destacando que a telemedicina promove a descentralização da complexidade médica, levando conteúdo de médicos especialistas para áreas remotas e de baixo acesso. Chamou atenção para o fato de que, diferentemente do que ocorria anteriormente, o incremento em tecnologia baixa custos e aumenta a qualidade da assistência médica, atingindo o cidadão, a sociedade e para a gestão em saúde.