Simpósio em homenagem ao Dia do Médico aborda Relação Médico-Paciente com grandes nomes da medicina

18/10/2018

No dia 18 de outubro celebra-se o Dia do Médico e a Academia Nacional de Medicina, instituição científico-cultural mais antiga do Brasil, decidiu dedicar uma de suas já tradicionais sessões científicas a grandes nomes da medicina da área da relação médico-paciente. O Simpósio, organizado pelos Acadêmicos Mario Corrêa Lima e Ricardo Cruz, abordou este importante aspecto da prática médica a partir da perspectiva de quatro grandes nomes da medicina: os Drs. William Osler, Miguel Couto, Michael Balint e Danilo Perestrello. Ao final das apresentações, a rodada de debate foi mediada pelo Acad. Mario Corrêa Lima.

O simpósio foi iniciado com a apresentação do Acad. Daniel Tabak sobre o Dr. William Osler (1849-1919). O Acadêmico ressaltou que, mais do que um clínico renomado, o Dr. Osler sempre prezou pela prática filosófica da medicina, que conciliou com as carreiras de professor e historiador. O médico, que nasceu em Bond Head, Ontário, Canadá em 1849, teve sua atuação destacada por sua incontestável capacidade diagnóstica, a qual associou ao profundo conhecimento de seus pacientes. Os esforços para compreender o binômio saúde-doença iam além do físico e do químico, adentrando o campo do “espírito” das pessoas e partilhar suas aflições.

Acadêmicos Omar da Rosa Santos, Ricardo Cruz, Jorge Alberto Costa e Silva (Presidente), Mario Corrêa Lima e o Honorário Nacional Abraham Eksterman

Além deste fato, era grande entusiasta da ideia de que a formação acadêmica dos médicos deveria incluir as humanidades, em uma visão de que o médico deve, mais do que um técnico bem desenvolvido, ser um acumulador de conhecimento. Seu pioneirismo também se estendeu à suas reflexões sobre a prática médica, discorrendo sobre os perigos da sobrecarga de trabalho – hoje conhecida como “burnout”, síndrome que atinge cerca de 46% dos profissionais.

Na sequência, o Acad. Omar da Rosa Santos homenageou também Acadêmico Miguel Couto, Membro Titular e Patrono da Cadeira nº 9, e Presidente da Academia Nacional de Medicina de 1913 a 1934 – fato que lhe conferiu o título de “Presidente Perpétuo”. Durante sua apresentação, chamou atenção para a semelhança das visões de Miguel Couto com as do Dr. William Osler, destacando sua célebre frase: “Não existem doenças, existem doentes”. Fez, então, um apanhado de sua brilhante carreira, destacando sua atuação, que não ficou limitada ao campo da medicina, tendo ocupado posição de relevo nas letras e na política. Era poliglota e profundo conhecedor da língua portuguesa. O Anfiteatro da ANM leva o seu nome e, também em sua homenagem, foram nomeados o famoso Hospital Municipal Miguel Couto, no bairro da Gávea, na cidade do Rio de Janeiro, e o bairro de Miguel Couto, na cidade de Nova Iguaçu, além de ruas e praças espalhadas pelo país.

A conferência foi finalizada com a apresentação de um recorte de jornal acerca da visita da Dra. Marie Curie à Academia Nacional de Medicina. A cientista, primeira mulher a ser laureada com um Prêmio Nobel e a primeira pessoa a ganhar o prêmio duas vezes, foi recebida na instituição no ano de 1926, para receber, das mãos do Presidente Miguel Couto, a insígnia de Membro Honorário Estrangeiro. Em seu discurso de saudação, ressalta que Marie Curie não é médica, todavia, com seus estudos sobre a radioatividade, foi capaz de aliviar e curar inúmeros enfermos.

O Acad. Ricardo Cruz apresentou conferência sobre o Dr. Michael Balint (1896-1970), psicanalista e bioquímico húngaro graduado em medicina em 1918, com destacada atuação nas áreas de neuropsiquiatria, filosofia, química, física e biologia. Discorreu ainda sobre a formação dos chamados “Grupos Balint” – reunião multiprofissional destinada a diagnosticar e elaborar tensões irracionais que perturbam a tarefa de seus executores. Os Grupos foram criados para os profissionais de Saúde logo após o término da II Guerra Mundial devido às necessidades exigidas pelos familiares de soldados falecidos ou mutilados na guerra. Ressaltou, ainda, que a experiência com os Grupos lançou luz sobre a impossibilidade de uma posição neutra do profissional no campo da clínica. Sobre este fato, destacou a afirmativa de que no centro da medicina está sempre uma relação humana entre o paciente e o médico.

Ao final de sua apresentação, ressaltou que até a sua morte, em 1970, a obra de Michael Balint teve sua divulgação muitas vezes restrita à sua prática com os Grupos Balint. Todavia, seu legado ultrapassa a criação destes grupos, uma vez que permitiram estender a técnica psicanalítica a uma melhor compreensão das relações entre médico e paciente, sobre todo o terreno hospitalar, nos serviços de pediatria e medicina em geral. Também contribuíram para a humanização das duas disciplinas.

Encerrando a rodada de conferências, o Honorário Nacional Abraham Eksterman abordou a trajetória do Dr. Danilo Perestrello (1916-1989), professor do Setor de Psicossomática da 1ª Cátedra de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade do Brasil. Responsável por desenvolver importante trabalho que tinha por objetivo focar a ação do médico não predominantemente na doença, mas no paciente. Segundo Perestrello, os fatores subjetivos deveriam integrar a centralidade dos interesses médicos, ressaltando a importância do fato emocional das doenças, o estudo das relações humanas, o estudo do chamado “estresse social” e a utilização da relação médico-paciente como recurso terapêutico.

Ao final de sua apresentação, o Dr. Abraham Eksterman afirmou que a principal contribuição psicanalítica de Perestrello à prática medica pode ser resumida em singularidade em interação, tema que coincide com os estudos epistemológicos bem atuais que já não isolam seus objetos alvo do observador, mas incluem o observador como parte do estudo do objeto. Dessa maneira, a relação médico-paciente torna-se elemento central da prática médica, uma vez que humanizar a prática médica impõe conhecer o doente, e conhecer o doente obriga o profissional a estabelecer vínculo com sua biografia e com as expressões afetivas que o caracterizam e que constroem com o médico a relação terapêutica.

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