Simpósio Custo da Doença Crônica no Brasil é realizado na ANM

23/08/2018

A Academia Nacional de Medicina realizou na última quinta-feira (23) o simpósio “Custo da Doença Crônica no Brasil”, sob organização da Acadêmica Eliete Bouskela e coordenação do Professor Denizar Vianna Araújo. Acadêmicos e palestrantes convidados abordaram temas referentes ao impacto econômico de doenças como como diabetes, obesidade, câncer e doenças cardiovasculares, e políticas públicas de saúde.

A Dra. Helena Cramer, do Instituto Nacional de Cardiologia, deu início ao simpósio versando sobre o tema “Custo da Doença Cardiovascular no Brasil”, enumerando os diferentes tipos de doenças cardiovasculares, estratégias de prevenção e combate, e seus impactos econômicos para a saúde pública e privada.

Os Acadêmicos Eliete Bouskela e José Galvão-Alves na abertura do Simpósio

Segundo a especialista, a abordagem para estimar o impacto social das doenças e o quanto poderia ser poupado se a doença fosse abolida, implica em custos diretos (assistência médica e tratamentos realizados), custos indiretos ou sociais (perda de produtividade devido à redução do tempo de trabalho), e custos intangíveis, que representam as mudanças na qualidade de vida e as consequências da doença em si ou do seu tratamento, como dor e sofrimento do paciente. A cardiologista apresentou então o trabalho de pesquisa realizado pela GBD (Global Burden of Disease) – parceria entre Banco Mundial e OMS que visa estudar a carga global de doenças por meio de estatísticas vitais, censos, bases administrativas, publicações, inquéritos e registros.

Em sua conclusão, a médica indicou a análise do impacto econômico das doenças cardiovasculares no Brasil no período de 2010 a 2015. De acordo com os dados, a mortalidade por doença cardiovascular representa 28% do total de óbitos ocorridos no Brasil nos últimos cinco anos e atinge 38% dos óbitos na faixa etária produtiva (18 a 65 anos). O custo médio das doenças foi estimado em 0,7% do PIB – entre custos estimados por mortes prematuras, custos de internações, consultas e medicamentos, e custos pela perda da produtividade relacionados à doença.

Em seguida, a Dra. Luciana Bahia, da Sociedade Brasileira de Diabetes, apresentou palestra sobre o impacto econômico e social da doença no Brasil. Em sua introdução, demonstrou o número de adultos com diabetes no mundo e suas principais causas, como o consumo abusivo de álcool, sedentarismo, excesso de peso e obesidade. Segundo ela, cresceu em 61,8% o número de pessoas diagnosticadas com a doença no Brasil, entre 2006 e 2016, sendo o sexo feminino o mais afetado.

A médica indicou os diferentes tipos de custo que o tratamento da doença provoca na economia nacional, entre eles custos de tratamento ambulatorial do SUS, custos em pacientes com presença de complicações, tratamento ambulatorial do sistema privado e custos indiretos, como aposentadoria precoce e licenças médicas. Por fim a especialista ressaltou a importância das análises econômicas em saúde no auxílio de gestores e formuladores de políticas de saúde para a escolha de intervenções com maior custo-efetividade. As principais ações custo-efetivas apresentadas por ela foram técnicas de rastreamento e diagnóstico precoce, intervenções como tratamento intensivo de glicemia e pressão arterial, controle de colesterol com estatinas e cessação do fumo.

Sobre o tema “Custo do Câncer no Brasil”, a cardiologista Alessandra Siqueira apresentou importantes dados a respeito das ocorrências de câncer no mundo. A doença é responsável por 70% das mortes em países de baixa renda, sendo o tabaco o principal fator de risco, representando 22% das mortes, enquanto um terço das mortes poderiam ser evitadas por medidas dietéticas e comportamentais. No Brasil, o panorama é ainda mais preocupante: a neoplasia é a segunda principal causa de morte no país – 1 brasileiro a cada 5 morre de câncer – e, de acordo com estimativas do Instituto Nacional do Câncer, cerca de 600 mil novos casos surgirão até o fim de 2018. Apesar dos números alarmantes, a médica afirma que um terço dos casos de câncer são evitáveis.

A especialista do INCA demonstrou ainda índices de mortalidade e incidência dos últimos 40 anos – 70% das mortes por câncer ocorrem nas Regiões Sudeste e Sul, sendo câncer de mama e colo do útero a principal causa entre as mulheres, e câncer de próstata, brônquios e pulmões entre os homens. Apresentou em seguida os custos indiretos e diretos em saúde, custos do cuidado dos procedimentos médicos e serviços associados ao tratamento, custos pela perda temporária ou permanente do trabalho e custo pela perda produtiva da pessoa falecida prematuramente pelo câncer.

Por fim, a convidada concluiu a partir dos dados apresentados que a previsão de custos referentes ao câncer é de R$ 76 bilhões até 2020 no Brasil, fator que influencia no descontrole dos custos previdenciários e representa um ônus societário elevado, afirmando que o principal desafio nessa situação é a alocação adequada de recursos para controle do câncer e que o investimento em medicina preventiva talvez seja o recurso que ofereça maior perspectiva de resultados eficazes.

O professor da PUC-RIO, Walmir Coutinho, realizou a conferência “Custo da Obesidade no Brasil”, na qual apresentou estudos sobre ao impacto causado pelos custos de doenças relacionadas a sobrepeso e obesidade no sistema de saúde brasileiro. Segundo ele, a obesidade aumentou em 110% entre jovens brasileiros no período de 2007 a 2017 e o ritmo de crescimento da prevalência de obesidade estabilizou-se desde 2015. Declarou que a obesidade é uma epidemia global ainda fora de controle e que seu fardo econômico é muito pesado no Brasil e no mundo, de modo que ainda não seja possível ter uma estimativa clara para o futuro em relação ao seu impacto econômico.

Na segunda etapa do simpósio, o Acadêmico Paulo Saldiva e o Professor Denizar Araújo abordaram temas referentes ao impacto da poluição ambiental e políticas públicas de saúde para o enfrentamento de doenças crônicas. O Acadêmico iniciou sua palestra sinalizando algumas das principais doenças causadas pela poluição atmosférica, como câncer de pulmão e vias aéreas superiores, infarto agudo do miocárdio e arritmias, e bronquite crônica e asma. De acordo com dados da OMS sobre os elevados níveis de poluição de grandes metrópoles, como o estado de São Paulo, há redução da expectativa de vida da população em cerca de um ano e meio por conta da poluição urbana.

Segundo Saldiva, o aumento dos casos de doenças cardíacas e respiratórias nas cidades brasileiras tem diversas causas: envelhecimento da população, sedentarismo, obesidade e também a poluição atmosférica. O Acadêmico ressaltou por fim a influência dos transportes públicos nas questões ambientais “a poluição veicular é responsável pela grande maioria das emissões de poluentes”, e afirmou que o investimento em combustíveis mais limpos e políticas públicas de médio prazo para privilegiar o transporte coletivo são as principais soluções para a redução da poluição atmosférica, o que acarretará grande benefício na prevenção de doenças respiratórias e cardíacas.

O Professor Denizar Vianna Araújo, finalizou o simpósio realizando palestra intitulada “Políticas públicas de saúde para enfrentamento das doenças crônicas no Brasil”. Ele versou a respeito do projeto Urban E-health, Força-Tarefa para investigar o potencial do uso de tecnologias de informação e comunicação para a saúde, avaliando os impactos econômicos, sociais e clínicos do uso da tecnologia e-health em áreas urbanas carentes. O projeto proporcionou acesso à saúde básica, monitoramento e acompanhamento profissional periódico para moradores da comunidade Santa Marta no Rio de Janeiro. O resultado observado foi a diminuição nas incidências de derrame, falência cardíaca e de rim entre os participantes. Além disso, houve economia de cerca de 200 milhões de dólares com a prevenção de doenças.

Em sua conclusão o médico declarou a importância da atenção primária e secundária na prevenção de doenças, afirmando que o investimento em um sistema urbano, que utiliza tecnologia da informação e comunicação para tornar a sua infraestrutura e seus serviços públicos mais interativos, mais acessíveis e mais eficientes, e políticas públicas de prevenção e conscientização social são essenciais para que os gastos com tratamentos diminuam, e para que a população tenha uma melhor qualidade.

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