Na sepse as alterações circulatórias apresentam a base fisiopatológica comum à isquemia /reperfusão (I/R), à isquemia intestinal, ao infarto do miocárdio, à isquemia cerebral e à enterocolite necrotizante, caracterizadas pela baixa produção de ATP e valores de pO2 normais ou até supranormais nos tecidos. A degradação da adenosina trifosfato (ATP) é uma das primeiras alterações circulatórias, dando origem em sequência à ADP–adenosina difosfato, AMP–adenosina monofosfato, inosina monofosfato, inosina hipoxantina, xantina e finalmente ao ácido úrico (AcUr), pela xantina oxidase.
O pré-tratamento com alopurinol, entre 5 dias até 20 minutos antes da instalação da lesão, conferiu proteção nos modelos de:
· sepse experimental;
· I/R em rim, intestino, modelo de isquemia em torniquete em membros pélvicos, I/R cerebral;
· lesão induzida por cocaína;
· hipertermia;
· lesão induzida por frutose;
· instalação do diabetes induzido pela strepzotocina;
· morbidade e letalidade por veneno de cascavel, Crotalus terrificus;
· Em humanos com 15% a 40% de área corporal queimada, durante 14 dias.
Por outro lado, não houve melhora, em experimento com:
· perfuração cecal;
· cultura de células de amígdala humana (HK) expostas ao LPS, foi capaz de bloquear nas primeiras 24 horas a atividade da caspase-3 mas esse efeito desapareceu em 48 horas inexplicavelmente;
· zymosan 0,1 mg /g melhora mas não protege com 0,5 mg / g de peso corporal;
· lesão térmica melhorou apenas no 1º dia mas no 6º dia subsequentes não houve proteção significante;
· I/R renal cursou com alterações no clearance de creatinina (ClCr), NGALu, IL-18 e KIM-1;
· I/R em pulmão não conseguiram bloquear o aumento da expressão do gene que expressa TNF-alfa;
· queimadura de 30% de área corpórea, inoculados com Pseudomonas aeroginosa evoluiu com melhora no 1º dia, mas esta proteção desapareceu no 4 e 7º dias;
· durante o peri-operatório não protegeu de danos isquemia reperfusão em humanos;
Na literatura há evidências significantes por estudos de meta-análises recentes, que a o uso contínuo do alopurinol em pacientes com hiperuricemia evoluem com preservação da função renal, retardo da instalação da proteinúria e da hipertensão arterial e ainda cursa com menor progressão para a doença renal crônica e mortalidade.
Na maioria dos experimentos o pré-tratamento com o alopurinol conferiu proteção nas 1as horas utilizando modelo de lesões agudas com duração de 24 horas ou menos. Nos experimentos com duração superior a 24 horas esse efeito desapareceu inexplicavelmente. Mais estudos são necessários para uma possível explicação para esses resultados.
Autores:
Fátima Ramos
Disciplina de Nefrologia-Dept. Medicina. Escola Paulista de Medicina-UNIFES
Nestor Schor – Membro Titular da Academia Nacional de MedicinaAgenda