A Sessão Ordinária realizada pela Academia Nacional de Medicina na última quinta-feira (8), teve como tema “Febre Amarela – Essa Nossa Velha (Des) conhecida”, sob organização do Acadêmico Celso Ferreira Ramos Filho, palestrantes discutiram temas relevantes para o atual cenário de surto em diversos estados do país.
O Acadêmico Celso Ramos deu início ao seminário com uma breve introdução a respeito do propósito do evento, que busca analisar a recorrência da Febre Amarela após ter sido considerada, por décadas, erradicada. Apresentou então os dados que reforçam ainda mais a necessidade de que seja feita essa discussão em uma instituição de grande porte como a Academia Nacional de Medicina. Destacou que no período entre junho de 2017 e março de 2018, já foram notificados mais de 3 mil casos da doença, com 900 confirmações.
Jaime Larry Benchimol, Professor da Casa de Oswaldo Cruz, abordou a História da Febre Amarela no Brasil, desde seu surgimento em 1685 – com a primeira epidemia em Recife, trazida por um navio da África -, passando pela criação das primeiras vacinas ao redor do mundo, e chegando até os dias de hoje, com a volta da doença. Relembrou a campanha sanitária de combate à Febre Amarela estruturada por Oswaldo Cruz no início do século XX e a descoberta da contaminação de macacos e transmissão por mosquitos Aedes Aegypti.
Finalizou apresentando gráficos que demonstram mudanças de fronteiras entre áreas endêmicas e áreas de risco nos últimos anos, por efeito de alterações ambientais e socioeconômicas e da ineficiência das políticas públicas no Brasil. Alertou também para o risco eminente de urbanização da Febre Amarela Silvestre nas Américas.
A Coordenadora do Centro de Informação em Saúde Silvestre e do Programa Institucional de Biodiversidade e Saúde da FIOCRUZ, Dra. Marcia Chame, abordou os fatores de expansão geográfica do vírus amarílico no Brasil. Iniciou sua conferência com a apresentação com gráficos que comparam as rotas de dispersão da doença no Brasil, afirmando que ainda não é possível compreender completamente os padrões de movimentação, que permanece similar atualmente.
A pesquisadora discorreu então sobre a dinâmica de transmissão da Febre Amarela e suas características. Segundo ela, a alta diversidade das áreas florestadas suporta um processo de transmissão mais abrangente, principalmente em doenças transmitidas por artrópodes. Concluiu que o maior problema é o tempo de viremia nos mosquitos. Enquanto a presença do vírus no sangue de humanos e macacos tem curta duração, no mosquito permanece por toda a vida.
Em seguida o Pesquisador Adriano Pintér, da Superintendência de Controle de Endemias de São Paulo, apresentou um estudo de geoprocessamento que demonstra a dispersão do vírus da febre amarela no estado de São Paulo. O trabalho mostra a origem amazônica do vírus e seus canais de entrada, especificamente em São Paulo. O projeto informa também o tempo de dispersão do vírus, são 60 dias a partir da entrada do vírus na região até que a população comece a ser contaminada.
A Presidente da Sociedade de Infectologia do Estado do Rio de Janeiro, Tânia Vergara, discorreu sobre os medicamentos já registrados para tratamento de outras doenças, com potencial para uso em febre amarela. Destacou que o momento ideal de intervenção com antivirais ocorre na fase virêmica (primeiros 3 a 5 dias de contaminação) e fase de remissão (48 horas após a contaminação). A intervenção na fase de intoxicação é limitada, por conta da baixa viremia e disfunção orgânica já estabelecida.
A palestrante expôs experimentos in vitro realizados em primatas, camundongos e hamsters para a identificação de agentes antivirais com atividade contra o vírus da febre amarela, e as estratégias para desenvolvimento das medicações. Demonstrou ainda pesquisas acadêmicas que indicam os principais agentes inibidores do vírus, como o Sofosbuvir, considerado o mais eficaz.
Na sequência, o Prof. Luiz Augusto Carneiro D’Albuquerque, do Laboratório Cirúrgico e Transplante de Fígado da USP, apresentou dados iniciais do transplante hepático na febre amarela. Esclareceu como o procedimento é realizado no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, que desde que foi identificado o recente surto buscou inovar os tratamentos oferecidos aos pacientes.
O médico explicou como são identificados os casos mais graves, aptos a realizar o transplante; os principais sintomas são disfunção renal, distúrbio grave de coagulação e encefalopatia. Apresentou então alguns casos clínicos em que ocorreram transplantes hepáticos e citou as contraindicações para a realização da operação, como pancreatite grave, hemorragia digestiva e no sistema nervoso central, e choque refratário.
O Secretário de Saúde do Estado de São Paulo, Dr. David Uip, abordou a situação epidemiológica da Febre Amarela na região. Apresentou gráficos da distribuição de contaminação entre os municípios, notificações de epizootias e suas classificações, ocorrências da doença nos últimos vinte anos e citou o crescimento exponencial do número de óbitos na capital. Ao finalizar sua palestra, comentou a campanha de vacinação de 2017, onde foram imunizadas 7 milhões de pessoas, em 77 novas áreas de recomendação cautelar de vacinação, e a campanha desse ano, que tem como meta vacinar 9.254.073 milhões de pessoas até o fim do primeiro semestre, e já atingiu mais de 50% da população-alvo.
Discutindo a situação atual da Febre Amarela no Estado do Rio de Janeiro e ações de bloqueio, o Acadêmico Celso Ramos realizou apresentação preparada pelo Subsecretario de Vigilância em Saúde do Estado do Rio de Janeiro, Alexandre Chieppe, que não pôde comparecer ao evento.
Os dados apresentados indicam o crescimento no número de casos confirmados e sua letalidade ao longo da história, a progressão das notificações de epizootias em todas as regiões do estado e as estratégias de vacinação da Secretaria de Saúde. Ressaltou, ainda, que a incidência é maior entre homens de 40 a 65 anos.
Em seguida, discorreu sobre a vacina amarílica como arma de controle da doença. O Acadêmico versou sobre as mudanças na vacinação desde sua criação em 1937, quando a vacinação era realizada a cada 5 anos, a partir dos 6 meses de vida em áreas endêmicas e a partir dos 9 em áreas não endêmicas.
Apresentou também um trabalho recente, publicado no “The Lancet Infectious Diseases”, que aponta os baixos níveis de cobertura da vacinação como um dos principais fatores de influência nos surtos de 2007 e 2008. O Acadêmico finalizou o seminário ressaltando as contraindicações de vacinação e a raridade de reações adversas. Por fim, concluiu que a vacina é a principal forma de combate à Febre Amarela, destacando evolução e inovação em seu tratamento.