Quais as possibilidades e limitações da medicina robótica? Vale a pena investir nesta tecnologia? O tema foi amplamente discutido no 1º Fórum Médico Franco-Brasileiro da Fondation de L’Académie de Medicine, que aconteceu nos dias 24 e 25 de abril, na sede da Academia Nacional de Medicina brasileira.
Diversos especialistas franceses com larga experiência em medicina robótica apresentaram algumas de suas diversas possibilidades. O cirurgião francês Jacques Marescaux, presidente do IRCAD, um centro de referência mundial em vídeo cirurgia, afirmou que as novas metodologias de imagem permitem fazer uma simulação pré-cirúrgica de acordo com a anatomia de cada paciente. Durante a cirurgia a máquina evidencia ao cirurgião a posição exata de veias e artérias, diminuindo a possibilidade de sangramentos. Além disso, o centro IRCAD guarda todas as imagens geradas, que são classificadas por palavras-chave e facilmente resgatadas para o ensino e treinamento de novos cirurgiões. O cirurgião ortopedista francês Eric Stindel também mostrou que a ortopedia mudou completamente com a robótica, pois agora é possível construir modelos em 3D de cada paciente, fazer medições mais precisas e análises que levam em conta os movimentos, para inserir próteses mais funcionais.
No Brasil, a medicina robótica ainda está em fase inicial. Os principais entraves para sua implementação são principalmente o alto custo dos equipamentos (cerca de 2 milhões e meio de dólares, mais 10% de manutenção anual), dos materiais cirúrgicos, que são descartáveis (2 mil dólares por cirurgia) e do complexo treinamento profissional, além da dificuldade devido à falta de sensibilidade do cirurgião através da máquina.
O chefe do departamento de cirurgia do Inca, Roberto Araújo Lima, apresentou os resultados das cirurgias de cabeça e pescoço da instituição, que é o 1º hospital público brasileiro a ter a nova tecnologia. O cirurgião mostrou que a robótica é especialmente útil nas cirurgias mandibulares, pois permite visualização e acesso a áreas que antes tinham que ser amplamente expostas e causavam grandes cicatrizes, além do maior risco de complicações. Também no Rio de Janeiro, o Hospital Samaritano, de rede privada, tem investido muito na medicina robótica recentemente. Os cirurgiões Fabio Madureira e José Reinan Ramos contaram como se deu a experiência de treinamento dos profissionais e os primeiros resultados após um ano, que ambos consideraram bastante satisfatórios e promissores.
No entanto, o cirurgião brasileiro Fernando Vaz fez algumas ressalvas quanto à disseminação do sistema no Brasil agora. Para isso, comparou a cirurgia robótica como a expansão do automóvel: “O carro foi uma tecnologia cara, eficiente e rápida, porém, para as ruas e estradas do Brasil na época, um cavalo era mais útil”. Ressaltou, porém, que não deve ser descartada. “Com certeza, no futuro essa discussão será absurda, mas a medicina será muito diferente. É preciso entender onde estamos atualmente no Brasil, mas manter a mente aberta para saber aonde poderemos chegar no futuro.”
Adolescência: mentes inquietas
Como a medicina deve se adaptar à modernidade e aos adolescentes? Com esta pergunta de Raymond Ardaillou, da Academia Nacional de Medicina da França, abriu a sessão sobre a adolescência no mundo em mudança e atraiu os participantes do I Fórum Médico Franco-Brasileiro, na tarde do dia 25 de abril de 2014. Dez convidados abordaram desde concepções sobre um adolescente normal, transtornos psiquiátricos, drogas até o impacto psicológico da formação escolar e universitária.
Segundo Marcel Rufo, de Marseille, a adolescência começa muito cedo nos dias atuais, por volta dos nove anos, e se estende até os 24 ou 25 anos, sendo um momento de muitas transformações e um período de grandes riscos. Na França, há 45 mil tentativas de suicídios entre os jovens por ano, 30% pensam em acabar com suas vidas. “Alguns desses adolescentes têm mais medo da vida que virá do que da morte”, afirmou. Por isso, de acordo com sua percepção, é fundamental se criar espaços específicos como casas para se tratar esses adolescentes e que ofereçam também atividades culturais e gastronômicas, cyber cafés além de atendimento psiquiátrico.
Entre os brasileiros, o acadêmico Claudio Tadeu Daniel Ribeiro, do Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz abordou os desafios diante do excesso de informações no mundo contemporâneo e como driblar isso para gerar conhecimento. Citou também os 7 bilhões de indivíduos no planeta e lembrou os 18 séculos que levamos para triplicar a população e os 200 anos para sextuplicar a humanidade e fez um paralelo com a produção do conhecimento: temos 50 milhões de artigos publicados, sendo que em 2009 foram divulgados no PuBMed 680 mil novos artigos, ou 1,3 artigos por segundo. São 3 bilhões e meio de biologistas, do qual se estimam 0,15 a 3% de creacionistas. Por fim, sugeriu o estímulo a interdisciplinaridade e o seu potencial de gerar conhecimento. “Não temos mais que pensar no que ensinar, mas ensinar a aprender”.
A obesidade infanto-juvenil e a difícil tarefa de convencer os adolescentes sobre essa bomba relógio, construída ainda na vida intra-uterina e a importância do peso adequado foi exposta pelo pediatra e acadêmico Azor José de Lima. O acadêmico ressaltou ainda o papel nefasto da propaganda de alimentos processados e a vida que enclausurou as crianças dentro das casas com estímulos variados para que não brinquem mais nas ruas e nem façam exercícios. Na outra extremidade de transtornos alimentares, o também acadêmico Aderbal Sabrá falou sobre anorexia nervosa durante a adolescência, abordando desde fatores de risco, quadro clínico para um diagnóstico correto até formas de tratamento com equipe multiprofissional.
Drogas e vício foram temas ainda abordados nessa sessão por Marion Plaze, da França, que trouxe resultados de um estudo com 3.807 estudantes, dos quais 44% já tinham experimentado drogas. Ela ainda contou para os participantes que um em cada cinco adolescentes, ao consumirem drogas, sentem efeitos psicóticos.