Nasceu em 4 de dezembro de 1862, em Vargem Grande, no Estado do Maranhão, entre os rios Munim e Itapicuru, em uma zona produtora de algodão, frutas e cereais, onde o braço escravo negro era o instrumento de trabalho, filho do coronel Francisco Delano Rodrigues e D. Luiza Rosa Nina Rodrigues. Faleceu em 17 de julho de 1906, antes de completar 44 anos, em Paris, França.
Em 1882, com quase vinte anos, matriculou-se na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, passando Bahia, para voltar no 6º ano ao Rio, onde se formou em fevereiro de 1888. A tese de doutoramento de Nina Rodrigues tem como título “Das Amiotrofias de Origem Periférica”.
Em 1889 publicou a monografia “Métissage, Dégénerescence et Crime”, apreciando a etnografia criminal, onde demonstrava sua forte tendência como racista / eugenista.
Quando ia se apagando a monarquia no Brasil, fez concurso para o lugar de Adjunto da 2ª Cadeira de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Bahia e foi promovido no mesmo cargo. Com a Reforma Benjamin Constant, Nina Rodrigues foi nomeado Substituto da 5ª Seção (Higiene e Medicina Legal), passando a Catedrático de Medicina Legal em 1895.
Neste mesmo ano escreveu a célebre “Memória Histórica”, criticando, de forma avassaladora e irreverente, o sistema de ensino, sem poupar em sua análise os que o precederam na Cátedra. Foi obra de destruição e, por isso, repelida unanimemente pela Congregação. Travou a batalha pelo aprimoramento do ensino médico, pela criação de uma Escola de Medicina Legal e pelo estudo do negro trazido pela colonização portuguesa.
Nos primeiros anos de sua vida médica, mostrou somente preocupações de clínico, não tendo nunca abandonado o nobre exercício da arte de curar, onde foi sacerdote pela dedicação e desprendimento e sábio pela cultura invulgar. Iniciou-se pela patologia tropical, mas logo a seguir voltou-se para outros temas nacionais, disposto a encará-los e a estudá-los. Estudou, observou e experimentou, no Brasil, coisas brasileiras.
O grande mérito de Nina Rodrigues não está somente na copiosa e frutífera bagagem científica que deixou, excedendo a de todos os mais fecundos cientistas brasileiros; é que, para enaltecer ainda mais os seus valores, aí está a escola médico-legal brasileira que é sua, toda sua, representada por Afrânio Peixoto e Oscar Freire.
Raimundo Nina Rodrigues, o grande mestre da Medicina Legal no Brasil, dominou vários ramos do saber humano, grande pesquisador, homem de ciência cujo trabalho pertinaz e orientado, o levou às alturas de criador e chefe de uma escola científica de projeção mundial.
Antropologista e etnólogo, o negro e o mestiço foram sempre motivos principais de suas indagações. Realizou vários estudos sobre a psiquiatria forense no Brasil, publicando, entre outros, trabalho sobre “O Alienado no Direito Civil Brasileiro”. Entre suas obras devem ser citadas: “Os Mestiços Brasileiros” (1890), “As Raças Humanas e a Responsabilidade Penal no Brasil” (1894), “Epidemia de Loucura Religiosa no Brasil” (1898), dentre outros, muitas com fortes tendências racistas, disfarçadas de ciência.
Com seus estudos e pesquisas, Nina Rodrigues emprestou à Medicina Legal brasileira feição própria, características de autenticidade, traços vivos, afinal, de indiscutível individualidade científica. Estava seu nome vinculado, assim, a um movimento de ideias de grande profundidade e extensão, consubstanciando na Escola Baiana de Medicina Legal.
Fundou, juntamente com o Dr. Juliano Moreira e outros médicos, a Sociedade de Medicina e Cirurgia da Bahia e de Medicina Legal. Foi redator da “Gazeta Médica da Bahia”, fundou e manteve a “Revista Médico-Legal” e colaborou com o periódico “Brasil Médico”, a “Revista Médica de São Paulo” e outras publicações estrangeiras.
Foi eleito Membro Honorário da Academia Nacional de Medicina na Sessão do dia 13 de novembro de 1899, onde é o Patrono da Cadeira 59. Foi, ainda, sócio efetivo e vice-presidente, no Brasil, da Medico-Legal Society, de Nova York e membro estrangeiro da Société Médico-Psychologique, de Paris.
Viveu até as vésperas de completar 44 anos, vindo a falecer a 17 de julho de 1906, em Paris, França. Seu corpo foi sepultado a 10 de agosto de 1906, na Bahia.
Na Bahia, está imortalizado pelo Instituto Nina Rodrigues de Medicina Legal. Na capital do Maranhão, seu estado natal, foi fundado, em março de 1941, o Hospital Nina Rodrigues e a localidade onde nasceu, se desmembrou de Vargem Grande e passou a se chamar, em 1961, município de Nina Rodrigues.
Nina Rodrigues e o Eugenismo:
Nina Rodrigues, criador e chefe da Escola, foi um dos homens mais preeminentes da Medicina Legal de todo o mundo científico.
Entretanto, Nina Rodrigues defendeu ideias que hoje são claramente qualificadas como racistas, mas, à época, eram consideradas científicas e avançadas. Foi o racismo disfarçado de ciência.
Nina Rodrigues foi fortemente influenciado pelas ideias do criminólogo italiano Cesare Lombroso. No ano da abolição da escravatura, escreveu: “A igualdade é falsa, a igualdade só existe nas mãos dos juristas”. Em 1894, publicou “Mestiçagem, Degenerescência e Crime” no qual defendeu a tese de que deveriam existir códigos penais diferentes para raças diferentes, e descreve o mestiço e o negro como “naturalmente delinquentes”. Com base nisso, ele propôs uma reforma penal que atribuísse penas mais rígidas para africanos e seus descendentes.
Nina Rodrigues também se dedicava ao estudo das culturas e etnias oriundas da África, que ele enxergava como selvagem e intelectualmente subdesenvolvida, e segundo ele, esse atraso tinha motivo científico: era “produto da marcha desigual do desenvolvimento filogenético da humanidade”, escreveu em 1932.
Enquanto Nina Rodrigues liderava o pensamento sobre higiene racial na Bahia, outros estados fundavam associações para refletir sobre o futuro eugênico no Brasil. No Rio, o movimento foi endossado por nomes influentes como Miguel Couto, eleito Membro Titular da Academia Nacional de Medicina em 1886, e seu presidente entre 1913 e 1934.
Em 1918, o médico Renato Ferraz Kehl, que também pertenceu à Academia Nacional de Medicina, organizou uma reunião de médicos em São Paulo para discutir a eugenia. Ele era um dos maiores extremistas dessa seara – e um dos poucos que, hoje, são abertamente condenados nos livros de história.
Surgiu desse encontro a Sociedade Eugênica de São Paulo. Entre seus membros ilustres, estavam Arnaldo Vieira de Carvalho (fundador da Faculdade de Medicina de São Paulo), Vital Brazil Mineiro da Campanha (fundador do Instituto Butantan, e também membro da Academia Nacional de Medicina), Arthur Neiva (sanitarista e também nome de rua), Franco da Rocha (psiquiatra e nome de cidade), e Monteiro Lobato. O escritor do Sítio do Pica-Pau Amarelo patrocinou as primeiras publicações do movimento, editando ele próprio os Annaes de Eugenia, lançados em 1919.
À época, diante da importância que a eugenia foi adquirindo nos debates acadêmicos, políticos e jurídicos, a Academia Nacional de Medicina resolveu incluir o evento – primeiro Congresso Brasileiro de Eugenia – no escopo das comemorações de seu centenário (junho de 1929), após a proposta feita por seu presidente, Miguel Couto. Dessa maneira, fica documentado que a própria Academia Nacional de Medicina fez parte do movimento Eugenista no Brasil.
Em 25 de maio de 2023, como uma espécie de “acerto de contas”, o Presidente da Academia Nacional de Medicina, Acadêmico Francisco Sampaio, organizou um simpósio sobre “Equidade, Diversidade e Inclusão Racial na Força de Trabalho Médico” e na palestra intitulada “Eugenia – Racismo Disfarçado de Ciência: Nina Rodrigues” o Prof. Eduardo Saad-Diniz, da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, demonstrou claramente que Nina Rodrigues tinha ideias racistas, que foram por ele propagadas, disfarçadas de ciência.
Acad. Francisco Sampaio
Cadeira homenageado: 59
Eleição: 13/11/1899
Indicação: Antonio José Pereira da Silva Araújo
Secção (patrono): Medicina
Classificação: Nacional
Falecimento: 17/07/1906
Cadeira homenageado: 59
Eleição: 13/11/1899
Indicação: Antonio José Pereira da Silva Araújo
Secção (patrono): Medicina
Classificação: Nacional
Falecimento: 17/07/1906
Nasceu em 4 de dezembro de 1862, em Vargem Grande, no Estado do Maranhão, entre os rios Munim e Itapicuru, em uma zona produtora de algodão, frutas e cereais, onde o braço escravo negro era o instrumento de trabalho, filho do coronel Francisco Delano Rodrigues e D. Luiza Rosa Nina Rodrigues. Faleceu em 17 de julho de 1906, antes de completar 44 anos, em Paris, França.
Em 1882, com quase vinte anos, matriculou-se na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, passando Bahia, para voltar no 6º ano ao Rio, onde se formou em fevereiro de 1888. A tese de doutoramento de Nina Rodrigues tem como título “Das Amiotrofias de Origem Periférica”.
Em 1889 publicou a monografia “Métissage, Dégénerescence et Crime”, apreciando a etnografia criminal, onde demonstrava sua forte tendência como racista / eugenista.
Quando ia se apagando a monarquia no Brasil, fez concurso para o lugar de Adjunto da 2ª Cadeira de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Bahia e foi promovido no mesmo cargo. Com a Reforma Benjamin Constant, Nina Rodrigues foi nomeado Substituto da 5ª Seção (Higiene e Medicina Legal), passando a Catedrático de Medicina Legal em 1895.
Neste mesmo ano escreveu a célebre “Memória Histórica”, criticando, de forma avassaladora e irreverente, o sistema de ensino, sem poupar em sua análise os que o precederam na Cátedra. Foi obra de destruição e, por isso, repelida unanimemente pela Congregação. Travou a batalha pelo aprimoramento do ensino médico, pela criação de uma Escola de Medicina Legal e pelo estudo do negro trazido pela colonização portuguesa.
Nos primeiros anos de sua vida médica, mostrou somente preocupações de clínico, não tendo nunca abandonado o nobre exercício da arte de curar, onde foi sacerdote pela dedicação e desprendimento e sábio pela cultura invulgar. Iniciou-se pela patologia tropical, mas logo a seguir voltou-se para outros temas nacionais, disposto a encará-los e a estudá-los. Estudou, observou e experimentou, no Brasil, coisas brasileiras.
O grande mérito de Nina Rodrigues não está somente na copiosa e frutífera bagagem científica que deixou, excedendo a de todos os mais fecundos cientistas brasileiros; é que, para enaltecer ainda mais os seus valores, aí está a escola médico-legal brasileira que é sua, toda sua, representada por Afrânio Peixoto e Oscar Freire.
Raimundo Nina Rodrigues, o grande mestre da Medicina Legal no Brasil, dominou vários ramos do saber humano, grande pesquisador, homem de ciência cujo trabalho pertinaz e orientado, o levou às alturas de criador e chefe de uma escola científica de projeção mundial.
Antropologista e etnólogo, o negro e o mestiço foram sempre motivos principais de suas indagações. Realizou vários estudos sobre a psiquiatria forense no Brasil, publicando, entre outros, trabalho sobre “O Alienado no Direito Civil Brasileiro”. Entre suas obras devem ser citadas: “Os Mestiços Brasileiros” (1890), “As Raças Humanas e a Responsabilidade Penal no Brasil” (1894), “Epidemia de Loucura Religiosa no Brasil” (1898), dentre outros, muitas com fortes tendências racistas, disfarçadas de ciência.
Com seus estudos e pesquisas, Nina Rodrigues emprestou à Medicina Legal brasileira feição própria, características de autenticidade, traços vivos, afinal, de indiscutível individualidade científica. Estava seu nome vinculado, assim, a um movimento de ideias de grande profundidade e extensão, consubstanciando na Escola Baiana de Medicina Legal.
Fundou, juntamente com o Dr. Juliano Moreira e outros médicos, a Sociedade de Medicina e Cirurgia da Bahia e de Medicina Legal. Foi redator da “Gazeta Médica da Bahia”, fundou e manteve a “Revista Médico-Legal” e colaborou com o periódico “Brasil Médico”, a “Revista Médica de São Paulo” e outras publicações estrangeiras.
Foi eleito Membro Honorário da Academia Nacional de Medicina na Sessão do dia 13 de novembro de 1899, onde é o Patrono da Cadeira 59. Foi, ainda, sócio efetivo e vice-presidente, no Brasil, da Medico-Legal Society, de Nova York e membro estrangeiro da Société Médico-Psychologique, de Paris.
Viveu até as vésperas de completar 44 anos, vindo a falecer a 17 de julho de 1906, em Paris, França. Seu corpo foi sepultado a 10 de agosto de 1906, na Bahia.
Na Bahia, está imortalizado pelo Instituto Nina Rodrigues de Medicina Legal. Na capital do Maranhão, seu estado natal, foi fundado, em março de 1941, o Hospital Nina Rodrigues e a localidade onde nasceu, se desmembrou de Vargem Grande e passou a se chamar, em 1961, município de Nina Rodrigues.
Nina Rodrigues e o Eugenismo:
Nina Rodrigues, criador e chefe da Escola, foi um dos homens mais preeminentes da Medicina Legal de todo o mundo científico.
Entretanto, Nina Rodrigues defendeu ideias que hoje são claramente qualificadas como racistas, mas, à época, eram consideradas científicas e avançadas. Foi o racismo disfarçado de ciência.
Nina Rodrigues foi fortemente influenciado pelas ideias do criminólogo italiano Cesare Lombroso. No ano da abolição da escravatura, escreveu: “A igualdade é falsa, a igualdade só existe nas mãos dos juristas”. Em 1894, publicou “Mestiçagem, Degenerescência e Crime” no qual defendeu a tese de que deveriam existir códigos penais diferentes para raças diferentes, e descreve o mestiço e o negro como “naturalmente delinquentes”. Com base nisso, ele propôs uma reforma penal que atribuísse penas mais rígidas para africanos e seus descendentes.
Nina Rodrigues também se dedicava ao estudo das culturas e etnias oriundas da África, que ele enxergava como selvagem e intelectualmente subdesenvolvida, e segundo ele, esse atraso tinha motivo científico: era “produto da marcha desigual do desenvolvimento filogenético da humanidade”, escreveu em 1932.
Enquanto Nina Rodrigues liderava o pensamento sobre higiene racial na Bahia, outros estados fundavam associações para refletir sobre o futuro eugênico no Brasil. No Rio, o movimento foi endossado por nomes influentes como Miguel Couto, eleito Membro Titular da Academia Nacional de Medicina em 1886, e seu presidente entre 1913 e 1934.
Em 1918, o médico Renato Ferraz Kehl, que também pertenceu à Academia Nacional de Medicina, organizou uma reunião de médicos em São Paulo para discutir a eugenia. Ele era um dos maiores extremistas dessa seara – e um dos poucos que, hoje, são abertamente condenados nos livros de história.
Surgiu desse encontro a Sociedade Eugênica de São Paulo. Entre seus membros ilustres, estavam Arnaldo Vieira de Carvalho (fundador da Faculdade de Medicina de São Paulo), Vital Brazil Mineiro da Campanha (fundador do Instituto Butantan, e também membro da Academia Nacional de Medicina), Arthur Neiva (sanitarista e também nome de rua), Franco da Rocha (psiquiatra e nome de cidade), e Monteiro Lobato. O escritor do Sítio do Pica-Pau Amarelo patrocinou as primeiras publicações do movimento, editando ele próprio os Annaes de Eugenia, lançados em 1919.
À época, diante da importância que a eugenia foi adquirindo nos debates acadêmicos, políticos e jurídicos, a Academia Nacional de Medicina resolveu incluir o evento – primeiro Congresso Brasileiro de Eugenia – no escopo das comemorações de seu centenário (junho de 1929), após a proposta feita por seu presidente, Miguel Couto. Dessa maneira, fica documentado que a própria Academia Nacional de Medicina fez parte do movimento Eugenista no Brasil.
Em 25 de maio de 2023, como uma espécie de “acerto de contas”, o Presidente da Academia Nacional de Medicina, Acadêmico Francisco Sampaio, organizou um simpósio sobre “Equidade, Diversidade e Inclusão Racial na Força de Trabalho Médico” e na palestra intitulada “Eugenia – Racismo Disfarçado de Ciência: Nina Rodrigues” o Prof. Eduardo Saad-Diniz, da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, demonstrou claramente que Nina Rodrigues tinha ideias racistas, que foram por ele propagadas, disfarçadas de ciência.
Acad. Francisco Sampaio