Poluição Ambiental é discutida na Academia Nacional de Medicina

14/07/2016

A Academia Nacional de Medicina realizou, na última quinta-feira (14), Simpósio sobre Poluição Ambiental organizado pelo Acadêmico Walter Zin, Professor Titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Além do Acadêmico, o Simpósio contou com palestras de especialistas de diversas áreas, incluindo o Magnífico Reitor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, o Padre Josafá Carlos de Siqueira.

Mesa de Abertura do Simpósio: Prof. Paulo Saldiva, Diretor do Instituto de Estudos Avançados da USP; Pe. Josafá de Siqueira, Reitor da PUC-RJ; Acadêmicos Walter Zin (Organizador); Francisco Sampaio (Presidente da ANM); Profa. Sandra Azevedo (UFRJ); Prof. Israel Felzenswalb (UERJ).

A Professora Sandra Azevedo (UFRJ) apresentou “Cianobactérias Tóxicas: Causas e Consequências para a Saúde”. Chamou atenção para algumas das características desses seres vivos que contribuem para sua ocorrência frequente, destacando sua alta capacidade adaptativa, inclusive a ambientes extremos, além da produção de metabólicos secundários extremamente tóxicos, como as microcistinas, que são capazes de causar sérios danos à saúde.

A Professora Sandra Azevedo (UFRJ)

O perigo da ocorrência de cianobactérias em corpos de abastecimento de água foi representado pelo caso ocorrido em Caruaru (PE), quando aproximadamente 60 pacientes morreram em razão de hepatite tóxica, causada pela concentração de cianobactérias na água utilizada nas sessões de hemodiálise. Foram apresentados os impactos das Cianotoxinas na Biota Aquática e para a saúde humana, podendo ser de forma direta (ingestão de células e/ou cianotoxinas diretamente da água) ou indireta (consumo de outros organismos que já tenham acumulado cianotoxinas).

Ao final, a Profa. Sandra Azevedo apresentou as diversas formas da exposição humana às cianotoxinas, destacando: exposição oral, que pode estar relacionada ao consumo de peixes advindos de ambientes com altas concentrações de cianobactérias; exposição por inalação, que pode ocorrer por meio de atividades recreacionais ou profissionais e a exposição intravenosa, por hemodiálise ou por meio da nutrição parenteral.

Com apresentação intitulada “Tem Perigo no Ar”, o Professor Israel Felzenswalb (UERJ) apontou que, diferente de outros “perigos”, a exposição à poluição do ar não é opcional. Para ilustrar a gravidade do problema, o Professor apresentou quadro comparativo das necessidades diárias de comida (1,5kg), água (2,0kg) e ar (15kg). Além deste fato, foi comparada também a capacidade humana de ser privar de comida (por volta de 5 semanas), água (5 dias) e ar (5 minutos).

Segundo o Professor, o que chamamos de ar poluído é constituído de material particulado, que constitui uma mistura de compostos sólidos e líquidos, além de ácidos (nitratos e sulfatos), compostos orgânicos, metais e poeira. As principais fontes de emissão de material particulado são a emissão veicular, atividade industrial e as queimadas de biomassa.

Professor Israel Felzenswalb (UERJ), em conferência sobre poluição do ar

Foi apresentado, então, experimento realizado em diferentes pontos da cidade, a fim determinar a exposição humana a poluentes ambientais e os potenciais efeitos adversos na saúde associados a essa exposição. Os resultados apresentados demonstram que a exposição à poluentes pode induzir a formação de danos no material genético e polimorfismo em genes de metabolização, resultados que, combinados, apontam para suscetibilidade ao câncer de pulmão.

Em seguida, o Dr. André Leoni Riguetti (INEA) fez apresentação sobre “Qualidade da Água no Estado do Rio de Janeiro”, apresentando os trabalhos do Instituto Estadual do Ambiente. Uma das atribuições do órgão é o monitoramento da qualidade das águas, por meio de análise da balneabilidade (próprio/impróprio para banho), enquadramento dos corpos d’água (doce, salgada ou salobra), enquadramento das águas subterrâneas e a potabilidade das águas. Também foi abordada a divulgação de avaliações, boletins e relatórios periódicos, que possui grande importância na integração do órgão com os gestores públicos.

Dr. André Riguetti em apresentação sobre os trabalhos do INEA

Ao final da exposição, foram apresentados os monitoramentos especiais realizados pelo órgão. O primeiro deles se refere ao recente estresse hídrico na bacia do Rio Paraíba do Sul, impulsionado por níveis de chuva muito abaixo da média histórica. Foram apresentados também os planos de monitoramento da qualidade das águas das áreas de provas olímpicas, que é realizado de segunda à sexta desde o dia 20 de junho de 2016 e se tornará diário a partir do dia 20 de julho, com a aproximação dos Jogos Olímpicos.

O Acadêmico Walter Zin proferiu palestra intitulada “Uma Quimera Chamada Poluição”, justificando o uso da figura mítica de aparência híbrida como uma comparação com o fato de que a poluição possui diversas fontes e causas. O Acadêmico chamou atenção para o fato de que uma em cada três pessoas no mundo corre o risco de morrer precocemente devido à poluição caseira – resíduos que circulam em ambiente doméstico devido ao uso de madeira ou carvão para aquecimento, iluminação e/ou no preparo de alimentos, o mau armazenamento de produtos de limpeza (que possuem diversos agentes químicos), etc.

Organizador do Simpósio, o Acad. Walter Zin faz apresentação sobre “Uma Quimera Chamada Poluição”

O Acadêmico abordou especificamente a dispersão de nanoplásticos no oceano e os motores a combustão. A respeito do primeiro, foi apontado que, dentre outras fontes, as impressoras 3D são altamente poluentes, e que este tipo de poluição pode causar alteração da cadeia alimentar, intoxicando micro-organismos da base. Com relação ao segundo, foram apresentados estudos que comprovam que os motores a diesel possuem potencial carcinogênico para seres humanos. Além deste fato, apesar dos avanços tecnológicos, os motores disponíveis no Brasil são altamente poluentes, configurando um risco permanente para a saúde da população, uma vez que são amplamente utilizados no transporte público.

Com o auxílio do Acadêmico Fábio Jatene em São Paulo e do Acadêmico Ricardo Cruz no Rio de Janeiro, foi organizada videoconferência com os Acadêmicos residentes em São Paulo. Os Acadêmicos Silvano Raia, Paulo Bydlowsky, José Osmar Medina, Fábio Jatene, Samir Rasslan e Moacyr Krieger não só assistiram às palestras quanto fizeram perguntas aos conferencistas do Simpósio de Poluição Ambiental.

Os Acadêmicos Silvano Raia, Paulo Bydlowsky, José Osmar Medina, Fábio Jatene, Samir Rasslan e Moacyr Krieger não só assistiram às palestras quanto fizeram perguntas aos conferencistas do Simpósio de Poluição Ambiental.
Mesa Diretora da Sessão: Pe. Josafá de Siqueira, Reitor da PUC-RJ, Acadêmicos Cardoso de Castro (2º. Secretário), Antonio Nardi (Secretário Geral), Francisco Sampaio (Presidente), Claudio Ribeiro (1º. Secretário), Walter Zin (Organizador) e Prof. Paulo Saldiva, Diretor do Instituto de Estudos Avançados da USP. Na tela, o Acadêmico Silvano Raia fazendo seus comentários de São Paulo, em tempo real, por videoconferência.

Com apresentação sobre “Poluição: uma Abordagem Ética e Filosófica”, o magnífico reitor da PUC-RJ, Padre Josafá Carlos de Siqueira, apontou para o predomínio, em nossa sociedade, de uma racionalidade quantitativa, operacional e de resultados imediatos, onde o lucro tem a primazia e de uma falta de consciência sobre a capacidade de suporte do Planeta e seus recursos.

O Padre Josafá Carlos Siqueira em conferência na ANM

Na conclusão de sua apresentação, o Reitor propôs uma abordagem multidimensional do problema da poluição, afirmando que a poluição não é só um problema tecnológico e científico, mas um problema ético. Além deste fato, é apontada uma falta de visão integrada do mundo, pois a degradação ambiental está intimamente relacionada com a degradação social. Por fim, a poluição foi apresentada também como um problema antropológico, com ênfase no individualismo e agravada pelo fascínio tecnológico, que não acompanhou um “desenvolvimento humano”.

O Professor Paulo Nascimento Saldiva (USP) fez apresentação sobre “Urbanismo e Morbidade”, ressaltando que as Universidades desempenham um papel importante na promoção de melhores condições de vida no ambiente urbano. O Professor destacou que é necessária uma abordagem não convencional das questões relativas à poluição, onde não seriam apenas as ciências naturais e exatas as responsáveis por desenvolver soluções: as ciências humanas possuem o importante papel de desenvolver narrativas que integrem os conhecimentos produzidos e aumentem sua funcionalidade.

A palestra do Prof. Paulo Saldiva (USP) encerrou o Simpósio de Poluição Ambiental

Sendo assim, o Professor Saldiva concluiu a palestra afirmando que a solução partirá da criação de conexões entre as áreas consideradas “pontos-chave” na sociedade, como saúde, educação, segurança e transporte. Segundo o Professor, somente uma abordagem que provenha da colaboração de todos esses setores será capaz de solucionar a problemática da poluição.

Ao final do Simpósio, Acad. Antonio Nardi (Secretário Geral); Acad. Francisco Sampaio (Presidente ANM), Pe. Josafá de Siqueira (Reitor da PUC-RJ), Acad. Walter Zin (Organizdor do Simpósio) e Prof. Paulo Saldiva (Prof. Titular de Patologia e Diretor do Instituto de Estudos Avançados da USP).

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