Chega à emergência um paciente com tosse, febre, dor no tórax e falta de ar. O exame de imagem confirma o quadro de pneumonia, porém, que piora muito com a administração de antibióticos e antifúngicos. O que fazer? A questão foi apresentada em sessão da ANM, no dia 21 de novembro, pelo acadêmico Carlos Alberto de Barros Franco, professor da PUC-Rio, Diretor Médico da Clínica Barros Franco e Chefe do Serviço de Pneumologia, Endoscopia Respiratória e Distúrbios do Sono da Casa de Saúde São José, no Rio de Janeiro.
O pneumologista defendeu a importância dos exames de endoscopia respiratória (broncoscopia), análise do lavado broncoalveolar e biópsia para solucionar o diagnóstico, com a busca de alguns indicativos fisiológicos e, principalmente, para descartar a presença de infecções. Assim, é possível suspender com segurança a administração de antibióticos, que geralmente pioram o quadro. “Muitos médicos evitam tratamentos invasivos em pacientes muito graves, mas nesses casos a biópsia é fundamental, pois não há tempo para testar tratamentos”, ressalta. “Em nossos pacientes, observamos que ela é segura, com poucas complicações pós-operatórias e em 75% dos casos modifica a direção do tratamento”.
Porém, é fundamental relacionar o resultado da biópsia com a análise do quadro clínico e checar se os medicamentos que o paciente recebe constam na lista de possíveis causadores de pneumonia (disponível em www.pneumotox.com). “Esta é uma ferramenta fundamental, atualizada semanalmente. Porém, é preciso tomar cuidado com os novos medicamentos, que ainda não têm este efeito colateral descrito”, afirma. A principal forma de tratamento é suspender a medicação suspeita, ou trocá-la por outra que não apresente o efeito. Dependendo do caso, também podem ser administrados anti-inflamatórios hormonais (corticoides).
Um dos medicamentos que mais ocasionam este quadro são os tratamentos para hipertensão com enzimas inibidoras de angiotensina. Outra forma comum de infiltrados pulmonares em doentes idosos ou crianças é devido à ingestão regular de óleo mineral como laxante, para tratar constipação intestinal crônica. Ele é facilmente aspirado, sem causar irritação ou tosse, e pode ser diagnosticado pela presença de gordura na análise do líquido bronco-alveolar. Outras drogas que podem ter o efeito colateral são as que alteram a coagulação (como aspirina); antibióticos; quimioterápicos; anti-inflamatórios não-hormonais; anti-arrítmicos; antidepressivos; dentre outras. “É importante que o médico esteja atento para essa possibilidade, pois a pneumopatia induzida por drogas é de difícil diagnóstico e isso pode levar à administração de mais medicamentos que podem piorar o caso. Portanto, muitos pacientes acabam morrendo antes mesmo do diagnóstico”, completa.