São grandes as dificuldades enfrentadas, globalmente, na gestão e nas políticas de pesquisa para a saúde. Esta é a análise oriunda da discussão realizada na quinta-feira, 24 de setembro, na Academia Nacional de Medicina. A partir da conferência “Desafios Globais da Pesquisa em Saúde”, proferida pelo Prof. Reinaldo Guimarães, Vice-Presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Química Fina (Abifina), apresentado pelo ex-Ministro da Saúde Acadêmico José Gomes Temporão, médicos e estudantes debateram, com entusiasmo, a questão.
A palestra selecionou alguns dentre as dezenas, ou talvez centenas, de desafios nesse campo. Para isso, utilizou-se de dois critérios: em primeiro lugar, focalizou os desafios cujo enfrentamento envolve aspectos de gestão e de políticas de ciência, tecnologia e inovação e de saúde, deixando de lado os grandes desafios de base técnica existentes nos campos biomédico, tecnológico, epidemiológico e clínico; em segundo lugar, optou por focalizar desafios de pesquisa com uma interface mais visível em relação aos cuidados de saúde.
Seguindo esses critérios, foram abordados quatro grandes desafios globais, a saber: 1) a “crise de criatividade” pela qual passa a indústria farmacêutica e as respostas que vêm sendo dadas no estímulo à pesquisa para tentar superá-la; 2) “as relações atuais entre as tecnologias industriais em saúde e os sistemas nacionais de saúde”; 3) as “assimetrias globais” em termos de pesquisa e desenvolvimento no campo da saúde; 4) os “desafios postos ao sistema multilateral de solução de controvérsias”, no sentido de atenuar as assimetrias.
Os problemas da indústria farmacêutica dependem de vários fatores, não apenas das dificuldades de fazer progredir a necessária base científica para sua melhoria, conforme indicado pela estagnação do lançamento de novas moléculas realmente inovadoras oriundas da pesquisa e desenvolvimento. Nesse desafio atuam, também, aspectos regulatórios e ligados à propriedade intelectual. Mas é inegável o papel daquela estagnação, e uma das respostas dadas a isso foi o lançamento de propostas de uma pesquisa, medicina ou ciência “translacionais” (da bancada de pesquisa para a beira do leito do paciente), sobre as quais ainda restam muitas dúvidas quanto à sua efetividade em resolver o desafio.
Ao lado das inegáveis e valiosas contribuições das novas tecnologias médicas para o avanço do cuidado em saúde, observa-se, cada vez mais, a ocorrência de efeitos colaterais indesejados na utilização das mesmas. Chega-se ao que se poderia denominar de um “imperativo tecnológico” na condução das políticas de saúde e no metabolismo geral dos sistemas nacionais de saúde, incluídos aí o aumento desmesurado dos custos da saúde, a segurança dos pacientes e a instituição de determinados padrões na formação médica e de outros profissionais de saúde.
Se a distribuição global do cuidado à saúde é objeto de grandes assimetrias entre países, a produção científica e os desenvolvimentos tecnológico e produtivo em saúde são ainda maiores, constituindo-se em importante desafio na pesquisa global. Sendo o perfil epidemiológico entre países e regiões objeto de inúmeras diferenças e especificidades, a presença de grandes assimetrias na pesquisa, desenvolvimento e produção industrial contribuem de modo importante para que se deixe de lado a atenção sobre aquelas diferenças, o que pode estar impactando a situação de saúde de grandes contingentes populacionais.
Ao final da palestra, houve mais de 40 minutos de intensa discussão com a participação de Acadêmicos, médicos convidados e estudantes de medicina. O Presidente Francisco Sampaio encerrou enfatizando que foi uma sessão memorável, com palestra e discussões de fundamental importância para o entendimento de parte da crise na pesquisa em saúde, embora não se vislumbre no momento soluções para grande parte dos problemas apontados.