Estratégias terapêuticas para doença gordurosa do fígado relacionada ao consumo ou não do álcool e tumores hepáticos; técnicas cirúrgicas e os remanescentes hepáticos e os transplantes de fígado foram as temáticas da última sessão científica promovida pela Academia Nacional de Medicina (ANM), no dia 23 de setembro de 2021.
Organizada pelo Secretário Geral da ANM, Carlos Eduardo Brandão, e o jovem Líder Médico pela Academia, Yuri Boteon, o evento contou com médicos expoentes de diversas instituições brasileiras como Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo, Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Universidade de São Paulo, Hospital São Lucas, do Rio de Janeiro, entre outros; além de brasileiros expoentes internacionais em instituições como Jackson Memorial Hospital, da Universidade de Miami, e da Massachusetts Worcester, ambas nos Estados Unidos, e da Cliniques Universitaires Saint-Luc, da Bélgica.
Durante o evento, alguns convidados apontaram como certos mitos, que existiam há 10 anos, foram derrubados e como o tratamento e as cirurgias hepáticas evoluíram, possibilitando uma sobrevida aos pacientes. Atualmente, de acordo com dados de Boteon, a sobrevida média de um paciente transplantado é de 22 anos; nos primórdios da técnica, o sucesso era medido em dias. O problema é a alta taxa no descarte de órgãos, que supera os 30% no país. E as taxas de mortalidade em lista de espera, que mudaram pouco, oscilando entre 20 a 25% desde 1988.
Há uma década, nódulos maiores do que 5 cm ou 3 nódulos de 3 cm eram considerados inoperáveis, hoje segundo o médico Eduardo Fernandes, do Hospital São Lucas do Rio de Janeiro, não se desiste do paciente com tumores hepáticos maiores ou em números superiores. Questionamentos aos critérios estabelecidos para realizar transplantes hepáticos também foram referendados pelo convidado Eliano Riani, da Bélgica. E sobre os tipos de transplantes, Fernandes destacou ainda as várias técnicas que permitem inclusive a hepatectomia em duas etapas, o transplante intervivos, a retirada do fígado para remover o tumor e o reimplante da parte saudável no próprio paciente. Outro destaque da sessão foram os avanços trazidos pela máquina de perfusão e, por outro lado, as limitações e dificuldades de logística na preservação dos órgãos doados. O tema foi apresentado pelo médico Paulo Martins, da University of Massachusetts.
Infelizmente, 60% dos pacientes com carcinoma hepático procuram os especialistas com a doença avançada, apontou Leonardo Schiavon, da Universidade Federal de Santa Catarina. Ele ainda abordou avanços: “há uma década, havia apenas um medicamento para tratamento desse tipo de câncer e, hoje, são cerca de 10 drogas utilizadas.”
Outro aspecto importante foi abordado pelo médico Luiz Carneiro de Albuquerque, da Universidade de São Paulo, sobre a desproporcionalidade entre a oferta e a necessidade de órgãos para doadores. Em virtude dessa situação, Carneiro lembrou que os doadores devem avisar as famílias e deixar por escrito o seu desejo. Além disso, a importância de campanhas de conscientização da população em relação a essa escassez de órgãos para transplante, visando o aumento no número de brasileiros doadores.
Os debatedores da sessão foram os acadêmicos José Galvão Alves, vice-presidente da ANM, que comentou sobre a importância do diagnóstico precoce das doenças do fígado e fatores de risco com dieta, obesidade, entre outras; e Silvano Raia, que elogiou as apresentações de trabalhos, segundo ele, de ourivesaria no tratamento das doenças do fígado.
À noite, na sessão ordinária da ANM, os debates foram sobre hepatite C, dificuldades dos transplantes de fígado e o impacto da pandemia de covid-19 para os transplantes de órgãos no Brasil.
“Cerca de 70 milhões de pessoas no mundo estão vivendo com o vírus da hepatite C. No Brasil, hoje, há uma prevalência entre 0,8 até 1,2% da população infectada pelo vírus C, isso significa de 700 mil até 1,2 milhão indivíduos infectados”, destacou o acadêmico Carlos Eduardo Brandão, na palestra sobre os avanços no tratamento da hepatite viral C.
Segundo o acadêmico, o grande problema no cenário brasileiro é o percentual muito alto de indivíduos que sequer sabem que tem a infecção por esse vírus. A maioria dos portadores é de assintomáticos e, dessa forma, esse tipo de paciente não procura a unidade básica de saúde, nem consultórios ou hospitais.
“A hepatite C é dita como uma epidemia silenciosa, exatamente pelo fato de ser uma doença sem sintomas iniciais na sua quase maioria. Isso gera uma enorme tendência da doença se tornar crônica”. Ou melhor, o vírus da hepatite C tem apenas 20% de chance espontânea de cura, pois 80% desses indivíduos podem evoluir para uma doença crônica, até uma cirrose, falência hepática, e mesmo uma indicação de transplante de fígado”, alertou Brandão.
Na sequência dos debates, o acadêmico Silvano Raia ressaltou que o fator limitante para os transplantes de fígado ainda é a falta de órgãos em todo o mundo. “Para contornar essa dificuldade, temos que aumentar o estímulo a doação de órgãos. Mas, existe um horizonte que se abre que são os xenotransplantes. Essa é uma perspectiva promissora,” enfatizou.
“O Brasil foi um dos epicentros da pandemia de Covid-19. No início da pandemia, tivemos uma queda de cerca de 20% da atividade transplantadora no país. Os candidatos a doadores internavam como casos muito graves, por conta da dificuldade de mobilidade e acesso aos serviços de saúde”, disse médico Eduardo Antunes da Fonseca, do Hospital Sírio-Libanês.Os debates deste bloco foram capitaneados pelo cirurgião Paulo ChapChap, da Universidade de São Paulo (USP), o acadêmico Carlos Eduardo Brandão e médico Yuri Boteon, do programa de Jovens Lideranças Médicas da ANM.
Para rever a sessão, acesse:
Parte I – https://www.anm.org.br/simposio-novas-perspectivas-terapeuticas-nas-doencas-hepatobiliares-23-de-setembro-de-2021-parte-i/