A Academia Nacional de Medicina comunica com enorme pesar o falecimento, no dia 04 de maio de 2020, do seu ex-presidente, o cirurgião oncológico Marcos Fernando de Oliveira Moraes.
Adorado por pacientes e reconhecido pela sua extrema capacidade de erguer instituições, lançar novos desafios e concretizar sonhos impossíveis, Marcos Moraesnasceu na cidade de Palmeiras dos Índios, em Alagoas, em 10 de agosto de 1936. Aos 12 anos, saiu do agreste alagoano para morar no Rio de Janeiro. Aqui, graduou-se em medicina na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, foi diretor do INCA por oito anos, presidente da Academia Nacional de Medicina em duas gestões, e recebeu o título de Professor Honoris Causa da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
O nome de Marcos Moraes tem reconhecimento nacional e internacional na idealização do Programa Nacional de Câncer, na década de 90, e na luta antitabagista, tendo levado o INCA a ser o representante oficial do Brasil na Organização Mundial de Saúde para o Programa Tabaco ou Saúdee contribuído para que o país reduzisse em 40% o número de fumantes.
Além da visão empreendedora e de liderança incontestável na saúde, Marcos Moraes foi uma pessoa ímpar junto aos mais vulneráveis. Seu olhar ia muito adiante da dor física, buscando formas de atenuar o sofrimento da alma.
Por muitos anos, acalentou um sonho de criar a primeira casa de acolhida para pacientes terminais na cidade do Rio de Janeiro. Segundo ele, “um lugar para onde as pessoas iriam para aproveitar da melhor maneira possível o resto de vida que tinham”.
Ele se orgulhava de contar que a Fundação do Câncer, onde presidiu o Conselho de Curadores, já obtivera parte dos recursos necessários para sua implantação: “O lugar deve ser bonito. Tem que ter plantas, flores”, dizia ele, que foi inspirado por uma paciente terminal, cuja história foi transformada em personagem em um conto escrito por ele.
Seu nome era “Marta”. Sua história: a pobre mulher protelou por dois anos a ida ao médico, depois de descobrir um nódulo no seio. Sua ideia era evitar a perda do emprego de doméstica. Ela tinha quatro filhos: Paula, deficiente física; João que bebia demais; Maria era prostituta e Cida, telefonista.
Quando Marta foi atendida no Hospital de Ipanema, já não havia o que fazer. Dali, foi transferida para a casa de repouso, que abrigava pacientes sem possibilidade de cura.
Tempos depois, apreensiva, voltou para casa quando soube que seus filhos estavam dispostos a participar de um programa supervisionado pelo INCA. João e Maria foram treinados e cuidaram da mãe durante 47 dias. Moraes contava que esteve duas vezes com Marta, quando vivenciou momentos gratificantes como médico. Marta havia confessado que estava nos dias mais importantes de sua vida. Seus filhos, por quem tinha grande preocupação, agora eram pessoas amorosas. Morreu feliz.
Marcos Fernando de Oliveira Moraes nos deixa em um momento crucial da saúde pública brasileira e mundial. Com certeza, teria muito a nos ensinar para além da pandemia.
– Marcos Moraes foi mais do que médico, mais do que cirurgião e mais do que cientista. Foi um dos maiores líderes brasileiros no combate ao câncer e ao tabagismo. Em sua trajetória de vida, construiu instituições e formou o melhor de uma geração de médicos no país. Na Academia Nacional de Medicina exerceu grande influência e, por duas vezes presidente, deixou marcas indeléveis em sua história, afirmou Rubens Belfort Jr, atual presidente da ANM.
A Academia Nacional de Medicina se solidariza com a família neste momento de extrema dor. Marcos Moraes cumpriu com louvor o seu ciclo e seus ensinamentos serão nossa inspiração.
Marcos Moraes faleceu de causas naturais. Deixa dois filhos, um neto e uma neta.