Realizada no auditório Xavier Sigaud, a Jornada contou com a presença de estudantes e diversos Acadêmicos, reunindo também profissionais de destaque da área. Ao longo das apresentações, foram apresentadas abordagens diversas para o tratamento de doenças como o câncer de pulmão.
Com palestra intitulada “Estado Atual e Futuro da Terapia Alvo-Dirigida em Oncologia Torácica”, o Dr. Carlos Gil Ferreira (INCa) apresentou um histórico dos tratamentos existentes, dividindo-os em “Eras”. A primeira delas é relacionada à Quimioterapia, que apresentava baixas taxas de sobrevida para os estágios avançados da doença. A segunda “Era” se refere à terapia alvo-dirigida. Segundo os dados apresentados, dos pacientes aptos a receber o tratamento, aqueles que receberam a terapia alvo-dirigida tiveram uma sobrevida maior que um ano. Alguns dos desafios relacionados a esse tratamento envolvem a resistência aos medicamentos, o acesso às áreas afetadas – principalmente levando-se em consideração países em desenvolvimento, como o Brasil, onde ainda existe uma carência de equipamentos e tecnologia – a qualidade e a quantidade dos tecidos a serem tratados e, sobretudo, o fato de que o tratamento não confere cura aos pacientes.
Nas considerações finais, o Dr. Carlos Gil frisou que os dogmas clássicos da oncologia não são mais suficientes para compreender um cenário de mudança contínua de paradigmas. Além deste fato o Dr. Carlos Gil considera a pesquisa translacional, o diagnóstico molecular e a multidisciplinaridade como as bases para a oncologia torácica contemporânea.
Abordando o “Papel Atual da Ultrassonografia Endobrônquica no Estadiamento do Câncer de Pulmão”, o Dr. Mauro Zamboni (INCa) iniciou sua palestra alertando para o fato de que o carcinoma de pulmão usual é a principal causa de morte por câncer em todo mundo; sendo assim, o estadiamento (processo pelo qual se determina a extensão do câncer no paciente) da doença torna-se essencial. Nesse sentido, o Dr. Mauro Zamboni passou a analisar o procedimento realizado por meio de ultrassonografia endobrônquica e punção aspirativa por agulha, modalidade de estadiamento minimamente invasiva. Dois dos principais benefícios da utilização deste método são o fato de que ele possibilita quantificar as lesões e permite livre acesso a quase todos os linfonodos mediastinais. Concluindo sua palestra, o Dr. Mauro Zamboni chamou atenção para o fato de que o estadiamento por ultrassonografia endobrônquica está indicado principalmente para o estadiamento inicial dos pacientes com câncer de pulmão e que as amostras colhidas por meio desta técnica são adequadas para análises de mutação. É importante notar que o estadiamento por EBUS e punção aspirativa deverá ser considerado quando se avalia a radioterapia com intenção curativa. Além deste fato, é importante notar que a confiabilidade do estadiamento do mediastino depende mais da expertise do examinador do que o exame por si só, o que acaba por aumentar a importância da especialização.
Dando seguimento à Jornada, a Dra. Lisa Morikawa (COI-RJ) proferiu palestra sobre “Por que Tratar com Radioterapia Estereotáxica Ablativa Câncer de Pulmão Estágio-I em Pacientes Clinicamente Aptos a Cirurgia”. Chamou atenção para o fato de que, para o controle tumoral, muitas vezes a ressecção pulmonar possui um impacto negativo na função respiratória, além disso, a cirurgia nem sempre é possível ou envolve riscos excessivos. Ressaltou-se a importância da melhoria tecnológica e radiobiológica, representada por procedimentos como a Radioterapia Estereotáxica Ablativa, que consiste em fornecer uma alta dose de radiação em diversos feixes direcionados ao tumor. Esse tipo de procedimento se destaca no tratamento de pacientes com a fase periférica inicial e que não estão aptos à cirurgia. Com relação à radioterapia convencional, a Radioterapia Estereotáxica Ablativa em geral é administrada num período de tempo menor do que a radioterapia convencional, além de reduzir o risco de danos às células normais. A Dra. Lisa Morikawa apresentou estudos comparativos da Radioterapia Estereotáxica Ablativa com relação à cirurgia, levando em consideração tópicos como a qualidade de vida do paciente após o tratamento. Em conclusão, a Dra. Lisa Morikawa destacou os tratamentos por Radioterapia Estereotáxica Ablativa são novas e promissoras opções para o tratamento de câncer de pulmão em estágios iniciais, tendo como principais vantagens as baixas taxas de toxicidade e um excelente controle tumoral local. Sendo assim, o uso de Radioterapia Estereotáxica Ablativa para pacientes operáveis é obviamente uma nova área a ser explorada pelos profissionais da área.
O Dr. Eduardo Saito (UERJ) proferiu palestra sobre “Por que Tratar com Lobectomia Vídeo-Assistida Câncer De Pulmão Estágio-I em Pacientes Clinicamente Aptos à Cirurgia”. Com relação aos demais procedimentos, a lobectomia vídeo-assistida apresenta vantagens como menor tempo de internação, menos complicações, custo reduzido, retorno mais rápido do paciente às atividades, dentre outros. As limitações técnicas, como a existência de linfonodos calcificados e a incapacidade de tolerar qualquer colapso pulmonar também foram apresentadas. O Dr. Eduardo Saito também apresentou algumas desvantagens na utilização desta técnica, como a perda da função tátil, material de alto custo e uma maior complexidade do procedimento, que exige o desenvolvimento de uma curva de aprendizado. Em conclusão, o Dr. Eduardo Saito apresentou dados que comprovam que resultados excelentes foram mostrados para ressecções limitadas para tumores pequenos em pacientes selecionados para a lobectomia. Além deste fato, o Dr. Eduardo Saito afirmou que, para paciente clinicamente operáveis, a cirurgia permanece o tratamento padrão.
A respeito de “Tumores Traqueais”, o Acadêmico José Camargo fez apresentação demonstrando os principais tipos de tumores e suas apresentações clínicas. O Acadêmico Camargo chamou atenção para o fato de que alguns tumores são constantemente confundidos com asma; todavia, o Acadêmico ressaltou que a ausculta facilmente poderia desfazer esse tipo de problema e possui importante papel no diagnóstico diferencial. Acerca do tratamento destes tumores, o Acadêmico apresentou a cirurgia como único tratamento para lesões benignas e tumores malignos de baixo grau. Após a apresentação de diversos casos clínicos, o Acadêmico José Camargo concluiu a palestra afirmando que a maioria dos tumores traqueais são malignos e que a ressecção é o tratamento de escolha, sempre que possível, tendo em vista que o índice de cura cirúrgica é alto. Por fim, o Acadêmico ressaltou que terapias não cirúrgicas possuem benefício limitado.
Iniciando a rodada de discussões, o Acadêmico Carlos Alberto de Barros Franco destacou a “visão oncológica” que possuíram as palestras da Jornada. Ressaltou também o aspecto multidisciplinar que o tratamento para o câncer de pulmão deve possuir, mencionando a necessidade de uma equipe envolvendo pneumologistas oncológicos, oncologistas torácicos, cirurgiões de tórax voltados para o tratamento de câncer de pulmão e patologistas treinados especificamente para identificar o câncer de pulmão (“tumor board”). Por fim, o Acadêmico também chamou atenção para o fato de que eventos como este são uma importante oportunidade para atualização dos profissionais, pois apresentam o estado da arte dos procedimentos de Cirurgia Torácica.