Nasceu em 12 de julho de 1846, na cidade de Campos dos Goytacazes, estado do Rio de Janeiro, filho do médico Dr. João Baptista de Lacerda e de Maria d’Assumpção Coni de Lacerda, por vezes assinava Dr. Lacerda Filho.
Bacharel em Letras pelo Colégio Pedro II, doutorou-se pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em 1870, defendendo a tese: “Das indicações e contraindicações da digitalis no tratamento das moléstias dos aparelhos circulatório e respiratório”.
Nomeado pelo ministro da Agricultura subdiretor da seção de Antropologia, Zoologia e Paleontologia do Museu Nacional do Rio de Janeiro, em 1876, fundou, mais tarde, juntamente com Louis Couty, o primeiro laboratório de Fisiologia Experimental, tornando-se seu subdiretor. Fez estudos pioneiros com o curare (relaxante muscular de origem vegetal atualmente utilizado em anestesia) e os venenos de ofídios e anfíbios. Sobre o veneno ofídico e seus antídotos, descobriu o efeito neutralizador do permanganato de potássio sobre a peçonha da cobra; tal descoberta salvou a vida de milhares de pessoas antes dos soros antiofídicos. Baptista de Lacerda lecionou o primeiro curso público de Antropologia do Museu Nacional, sendo promovido a Diretor, em 1895, ocupando o cargo até sua morte, vinte anos depois.
Estudou fósseis humanos provenientes das descobertas que fez nos sambaquis (depósitos arqueológicos de materiais orgânicos) das ostreiras de Santa Catarina, Paraná e São Paulo, e sobre as quais considerava pesquisas importantes para o conhecimento das populações pré-colombinas mais antigas do Brasil. Publicou diversos trabalhos baseados nesses estudos, que tiveram larga repercussão no exterior. Dedicou-se também à microbiologia e a estudos sobre febre amarela. Paralelamente, atuou em enfermaria do Hospital da Misericórdia, como Redator do Jornal do Commercio e Diretor da Revista Lux.
Professor Honorário da Faculdade de Santiago do Chile; Membro Correspondente da Sociedade de Antropologia de Berlim, Paris e Florença; da Sociedade de Geografia de Lisboa e da Sociedade Médica Argentina. Vice-Presidente Honorário do Congresso Médico Pan-Americano de Washington e Presidente Honorário do Congresso Médico Latino-Americano de Buenos Aires, recebeu, como prêmio, em virtude de seus trabalhos e estudos científicos acatados e respeitados nos centros mais cultos da Europa e da América, a Medalha de Bronze na Exposição Antropológica de Trocadero, em 1878, e na Exposição de Chicago.
Eleito Membro Titular da Academia Imperial de Medicina, atual Academia Nacional de Medicina, foi empossado em 21 de abril de 1885 e a presidiu no biênio 1893-1895.
Em sessão de 3 de outubro de 1963, foi escolhido Patrono da Cadeira 87.
Membro da Comissão Técnica que estabeleceu as bases do Convênio Sanitário Internacional entre o Brasil, o Uruguai e a República Argentina, Lacerda foi condecorado com a Comenda da Imperial Ordem da Rosa, concedida pelo Imperador Pedro II.
Era irmão do Acadêmico Álvaro de Lacerda.
João Baptista de Lacerda faleceu no dia 6 de agosto de 1915, na cidade do Rio de Janeiro.
Tese do Embranquecimento:
Entre a segunda metade do século XIX e a primeira metade do século XX, vigoraram em várias partes do mundo as teses eugenistas, isto é, teses que defendiam um padrão genético superior para a “raça” humana. Tais teses defendiam a ideia de que o homem branco europeu tinha o padrão da melhor saúde, da maior beleza e da maior competência civilizacional em comparação às demais “raças”, como a “amarela” (asiáticos), a “vermelha” (povos indígenas) e a negra (africana).
Nesse período, alguns intelectuais brasileiros incorporaram essas teses e delas derivaram a “tese do branqueamento.” A defesa do branqueamento, ou do “embranquecimento”, tinha como ponto de partida o fato de que, dada a realidade do processo de miscigenação na história brasileira, os descendentes de negros passariam a ficar progressivamente mais brancos, a cada nova prole gerada.
João Baptista de Lacerda, foi um dos principais expoentes da “tese do embranquecimento”, e foi o cientista eleito para representar o Brasil no Congresso Universal das Raças (Londres, 1911). Esse congresso reuniu intelectuais do mundo todo para debater o tema do racialismo e da relação das raças com o progresso das civilizações.
O Brasil, única nação latino-americana convidada, seria visto como exemplo de mistura de raças, e Baptista de Lacerda defenderia que políticas de imigração fariam com que mestiços embranquecessem e descendentes de negros passariam a ficar progressivamente mais brancos a cada nova prole gerada. Lacerda levou ao evento o artigo “Sur les métis au Brésil” (Sobre os mestiços do Brasil), em que defendia o fator da miscigenação como algo positivo, no caso brasileiro, por conta da sobreposição dos traços da raça branca sobre as outras, a negra e a indígena.
Em um trecho do referido artigo, Baptista afirma: “A população mista do Brasil deverá ter pois, no intervalo de um século, um aspecto bem diferente do atual. As correntes de imigração europeia, aumentando a cada dia mais o elemento branco desta população, acabarão, depois de certo tempo, por sufocar os elementos nos quais poderiam persistir ainda alguns traços do negro.” Percebe-se, nitidamente, nesse trecho, o teor do anseio pelo branqueamento.
Fato curioso na apresentação foi a exibição de uma cópia do quadro “A Redenção de Cam”, do pintor espanhol Modesto Brocos. A imagem do quadro transmite categoricamente a tese que Baptista defendia: o embranquecimento através das gerações. Brocos propõe a diluição da cor negra na sucessão de descendentes e insere nessa sucessão a “redenção”, a “absolvição” de uma “raça amaldiçoada”, isto é, a descendência de Cam, filho de Nóe, que, no livro do Gênesis, é amaldiçoado pelo pai. A história de Cam, a despeito de seu simbolismo bíblico, foi interpretada à revelia pelo racialismo do século XIX, no qual Brocos estava envolto. O “escurecimento” dos descendentes de Cam teria desembocado na raça negra africana, que poderia ser redimida por meio da mistura com a raça branca europeia.
A tela mostra uma espécie de caminho para reverter a “maldição” (ser afro-descendente), branqueando os personagens. É perceptível o naturalismo presente na obra, que traz gradações de cores entre as três gerações dos personagens. O bebê é o mais branco, seguido pelo pai, sentado ao lado da mãe, que segura a criança no colo. No canto esquerdo da tela, quem tem a pele mais escura é a avó, com mãos erguidas ao céu em agradecimento. Por nascer branco, seu neto foi livrado da “maldição” de ser negro, já que sua filha, mulata, casou-se com um homem branco.
Sentados estão a mãe da criança, que a carrega em cima dos joelhos, e um homem com as pernas cruzadas, supostamente o marido branco e responsável pelo “branqueamento” do descendente. Podemos notar que essa gradação de cor segue da esquerda para a direita, mostrando a mestiçagem em seu processo completo. Aqui, não se trata apenas de uma eliminação cultural e racial, mas também da necessidade de um progresso que, aos olhos de Brocos, só viria por meio do branqueamento da população e da aproximação com a cultura europeia, eliminando e ignorando as demais etnias e costumes.
Essa negação da cultura africana fica aparente quando reparamos nas vestes das personagens femininas; já que ambas usam roupas ocidentalizadas e não trajes que remetem à origem das mesmas. O corpo da mulher sentada está coberto por roupas, fazendo com que pareça mais europeu do que africano. Aqui, está presente uma ideia de ajustamento das mulheres negras à moral cristã e a um ideal de reprodução branqueador. Além disso, é notório que as duas personagens que não possuem a pele branca, são mulheres: a mãe e a avó, estabelecendo uma oposição de cor em relação ao bebê e o pai. Há um reforço da visão progressista da pele branca quando percebemos que o chão em que o homem pisa é de pedra, mostrando uma evolução em relação ao que as mulheres pisam, que é de terra. Mais uma vez, o europeu de pele branca é representado como superior, e isso fica explícito até na pose em que o homem, de costas, olha o resto da cena (extraído de: https://pt.wikipedia.org/wiki/A_Reden%C3%A7%C3%A3o_de_Cam).
Acad. Francisco Sampaio
Número acadêmico: 138
Cadeira: 87 João Baptista de Lacerda
Cadeira homenageado: 87
Membro: Titular
Secção: Ciencias aplicadas à Medicina
Eleição: 21/04/1885
Posse: 21/04/1885
Sob a presidência: Agostinho José de Souza Lima
Falecimento: 06/08/1915
Número acadêmico: 138
Cadeira: 87 João Baptista de Lacerda
Cadeira homenageado: 87
Membro: Titular
Secção: Ciencias aplicadas à Medicina
Eleição: 21/04/1885
Posse: 21/04/1885
Sob a presidência: Agostinho José de Souza Lima
Falecimento: 06/08/1915
Nasceu em 12 de julho de 1846, na cidade de Campos dos Goytacazes, estado do Rio de Janeiro, filho do médico Dr. João Baptista de Lacerda e de Maria d’Assumpção Coni de Lacerda, por vezes assinava Dr. Lacerda Filho.
Bacharel em Letras pelo Colégio Pedro II, doutorou-se pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em 1870, defendendo a tese: “Das indicações e contraindicações da digitalis no tratamento das moléstias dos aparelhos circulatório e respiratório”.
Nomeado pelo ministro da Agricultura subdiretor da seção de Antropologia, Zoologia e Paleontologia do Museu Nacional do Rio de Janeiro, em 1876, fundou, mais tarde, juntamente com Louis Couty, o primeiro laboratório de Fisiologia Experimental, tornando-se seu subdiretor. Fez estudos pioneiros com o curare (relaxante muscular de origem vegetal atualmente utilizado em anestesia) e os venenos de ofídios e anfíbios. Sobre o veneno ofídico e seus antídotos, descobriu o efeito neutralizador do permanganato de potássio sobre a peçonha da cobra; tal descoberta salvou a vida de milhares de pessoas antes dos soros antiofídicos. Baptista de Lacerda lecionou o primeiro curso público de Antropologia do Museu Nacional, sendo promovido a Diretor, em 1895, ocupando o cargo até sua morte, vinte anos depois.
Estudou fósseis humanos provenientes das descobertas que fez nos sambaquis (depósitos arqueológicos de materiais orgânicos) das ostreiras de Santa Catarina, Paraná e São Paulo, e sobre as quais considerava pesquisas importantes para o conhecimento das populações pré-colombinas mais antigas do Brasil. Publicou diversos trabalhos baseados nesses estudos, que tiveram larga repercussão no exterior. Dedicou-se também à microbiologia e a estudos sobre febre amarela. Paralelamente, atuou em enfermaria do Hospital da Misericórdia, como Redator do Jornal do Commercio e Diretor da Revista Lux.
Professor Honorário da Faculdade de Santiago do Chile; Membro Correspondente da Sociedade de Antropologia de Berlim, Paris e Florença; da Sociedade de Geografia de Lisboa e da Sociedade Médica Argentina. Vice-Presidente Honorário do Congresso Médico Pan-Americano de Washington e Presidente Honorário do Congresso Médico Latino-Americano de Buenos Aires, recebeu, como prêmio, em virtude de seus trabalhos e estudos científicos acatados e respeitados nos centros mais cultos da Europa e da América, a Medalha de Bronze na Exposição Antropológica de Trocadero, em 1878, e na Exposição de Chicago.
Eleito Membro Titular da Academia Imperial de Medicina, atual Academia Nacional de Medicina, foi empossado em 21 de abril de 1885 e a presidiu no biênio 1893-1895.
Em sessão de 3 de outubro de 1963, foi escolhido Patrono da Cadeira 87.
Membro da Comissão Técnica que estabeleceu as bases do Convênio Sanitário Internacional entre o Brasil, o Uruguai e a República Argentina, Lacerda foi condecorado com a Comenda da Imperial Ordem da Rosa, concedida pelo Imperador Pedro II.
Era irmão do Acadêmico Álvaro de Lacerda.
João Baptista de Lacerda faleceu no dia 6 de agosto de 1915, na cidade do Rio de Janeiro.
Tese do Embranquecimento:
Entre a segunda metade do século XIX e a primeira metade do século XX, vigoraram em várias partes do mundo as teses eugenistas, isto é, teses que defendiam um padrão genético superior para a “raça” humana. Tais teses defendiam a ideia de que o homem branco europeu tinha o padrão da melhor saúde, da maior beleza e da maior competência civilizacional em comparação às demais “raças”, como a “amarela” (asiáticos), a “vermelha” (povos indígenas) e a negra (africana).
Nesse período, alguns intelectuais brasileiros incorporaram essas teses e delas derivaram a “tese do branqueamento.” A defesa do branqueamento, ou do “embranquecimento”, tinha como ponto de partida o fato de que, dada a realidade do processo de miscigenação na história brasileira, os descendentes de negros passariam a ficar progressivamente mais brancos, a cada nova prole gerada.
João Baptista de Lacerda, foi um dos principais expoentes da “tese do embranquecimento”, e foi o cientista eleito para representar o Brasil no Congresso Universal das Raças (Londres, 1911). Esse congresso reuniu intelectuais do mundo todo para debater o tema do racialismo e da relação das raças com o progresso das civilizações.
O Brasil, única nação latino-americana convidada, seria visto como exemplo de mistura de raças, e Baptista de Lacerda defenderia que políticas de imigração fariam com que mestiços embranquecessem e descendentes de negros passariam a ficar progressivamente mais brancos a cada nova prole gerada. Lacerda levou ao evento o artigo “Sur les métis au Brésil” (Sobre os mestiços do Brasil), em que defendia o fator da miscigenação como algo positivo, no caso brasileiro, por conta da sobreposição dos traços da raça branca sobre as outras, a negra e a indígena.
Em um trecho do referido artigo, Baptista afirma: “A população mista do Brasil deverá ter pois, no intervalo de um século, um aspecto bem diferente do atual. As correntes de imigração europeia, aumentando a cada dia mais o elemento branco desta população, acabarão, depois de certo tempo, por sufocar os elementos nos quais poderiam persistir ainda alguns traços do negro.” Percebe-se, nitidamente, nesse trecho, o teor do anseio pelo branqueamento.
Fato curioso na apresentação foi a exibição de uma cópia do quadro “A Redenção de Cam”, do pintor espanhol Modesto Brocos. A imagem do quadro transmite categoricamente a tese que Baptista defendia: o embranquecimento através das gerações. Brocos propõe a diluição da cor negra na sucessão de descendentes e insere nessa sucessão a “redenção”, a “absolvição” de uma “raça amaldiçoada”, isto é, a descendência de Cam, filho de Nóe, que, no livro do Gênesis, é amaldiçoado pelo pai. A história de Cam, a despeito de seu simbolismo bíblico, foi interpretada à revelia pelo racialismo do século XIX, no qual Brocos estava envolto. O “escurecimento” dos descendentes de Cam teria desembocado na raça negra africana, que poderia ser redimida por meio da mistura com a raça branca europeia.
A tela mostra uma espécie de caminho para reverter a “maldição” (ser afro-descendente), branqueando os personagens. É perceptível o naturalismo presente na obra, que traz gradações de cores entre as três gerações dos personagens. O bebê é o mais branco, seguido pelo pai, sentado ao lado da mãe, que segura a criança no colo. No canto esquerdo da tela, quem tem a pele mais escura é a avó, com mãos erguidas ao céu em agradecimento. Por nascer branco, seu neto foi livrado da “maldição” de ser negro, já que sua filha, mulata, casou-se com um homem branco.
Sentados estão a mãe da criança, que a carrega em cima dos joelhos, e um homem com as pernas cruzadas, supostamente o marido branco e responsável pelo “branqueamento” do descendente. Podemos notar que essa gradação de cor segue da esquerda para a direita, mostrando a mestiçagem em seu processo completo. Aqui, não se trata apenas de uma eliminação cultural e racial, mas também da necessidade de um progresso que, aos olhos de Brocos, só viria por meio do branqueamento da população e da aproximação com a cultura europeia, eliminando e ignorando as demais etnias e costumes.
Essa negação da cultura africana fica aparente quando reparamos nas vestes das personagens femininas; já que ambas usam roupas ocidentalizadas e não trajes que remetem à origem das mesmas. O corpo da mulher sentada está coberto por roupas, fazendo com que pareça mais europeu do que africano. Aqui, está presente uma ideia de ajustamento das mulheres negras à moral cristã e a um ideal de reprodução branqueador. Além disso, é notório que as duas personagens que não possuem a pele branca, são mulheres: a mãe e a avó, estabelecendo uma oposição de cor em relação ao bebê e o pai. Há um reforço da visão progressista da pele branca quando percebemos que o chão em que o homem pisa é de pedra, mostrando uma evolução em relação ao que as mulheres pisam, que é de terra. Mais uma vez, o europeu de pele branca é representado como superior, e isso fica explícito até na pose em que o homem, de costas, olha o resto da cena (extraído de: https://pt.wikipedia.org/wiki/A_Reden%C3%A7%C3%A3o_de_Cam).
Acad. Francisco Sampaio