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Quais são os impactos do ensino remoto para o curso de medicina? Há limites para a formação de médicos através de plataformas online? Quais os desafios e estratégias para cursos médico na pós-pandemia? Estes e outros assuntos foram debatidos em simpósio promovido, no dia 23 de julho de 2020, no Web Hall e pelo Facebook da Academia Nacional de Medicina.
Estima-se que seis milhões de estudantes brasileiros do ensino superior ficaram sem aulas durante a pandemia. Destes, 171 mil são alunos de medicina. Algumas instituições saíram na frente para suprir o vácuo acadêmico com o ensino remoto de emergência como é o caso das escolas de medicina da Universidade de São Paulo, da Unicamp, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Ensino Einstein, entre outras.
Entre os debatedores desse simpósio, o professor visitante da USP e representante da Universidade Federal da Bahia, Naomar de Almeida Filho. Segundo ele, a pandemia acelerou e nos obrigou a pensar na maneira como os alunos estão aprendendo no país. Além de expor deficiências e rupturas necessárias do ecossistema educacional brasileiro muito resistente à mudança; preso ao rigor de uma grade curricular, pedagogias passivas, com baixa inclusão tecnológica no ensino que apontam desigualdades e um racismo estrutural.
“A pandemia trouxe, não só para a saúde em geral, mas também para a educação, um estímulo de trazer à tona a discussão das desigualdades que, de modo tão estrutural quanto o racismo, organiza a sociedade.”
Para ele o uso da tecnologia, se bem gerenciado por parte das instituições de ensino, torna-se um fator de inclusão e redução desigualdades.
Ensino híbrido – Para alguns especialistas, o ensino híbrido pode ser um grande legado da pandemia à educação médica no país. Segundo a professora Cristina Neumann, coordenadora do curso de medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a instituição tomou diversas iniciativas imediatas que equilibraram o ensino remoto e a prática do internato, propiciando a continuidade do calendário acadêmico com apoio integral dos alunos que demonstram satisfação com as aulas on-line, mas insatisfeitos com a ausência prática das disciplinas.
O mesmo pensamento foi observado pelo discente da Escola Paulista de Medicina, Luiz Fernando de Moraes, que realizou uma pesquisa com diversos estudantes da área, mostrando que 50% avaliam como bom ou muito bom o ensino remoto que estão tendo, porém 80% disseram aprender mais com aulas presenciais. Entretanto, a maioria afirma recorrer às videoaulas como outro método de ensino.
Com isso, o ensino híbrido – que mescla aulas remotas, educação à distância com atividades práticas – mostra-se uma grande perspectiva e deve ser mantido no pós-pandemia. A reboque, entram aspectos importantes a serem discutidos como metodologias ativas de aprendizagem, avaliações assíncronas, apoio a alunos e docentes para acesso remoto e uso das ferramentas digitais e a equidade no ensino.
Cenário da pandemia – Em 72 horas, 10.500 respostas de alunos de 257 entidades médicas (75,4% de todas as escolas médicas do país) responderam a um questionário elaborado pela coordenação do Curso Medicina da Universidade de São Paulo para tentar entender o cenário imposto pela pandemia.
No levantamento, os respondentes opinaram sobre a participação dos estudantes no serviço à população; segurança e aptidão para atender pacientes covid-19; além de questões sobre o que aprendemos e quais as estratégias para o período da pós-pandemia.
Os resultados foram apresentados pelo professor da USP, Milton de Arruda Martins, na mesma sessão científica.
Arruda Martins refletiu sobre o que é essencial para a formação médica: Como podemos aprimorar a prática docente e o diálogo com os estudantes? Como incluir os estudantes com maior vulnerabilidade se 40% são cotista na USP? Segundo ele, a inclusão digital veio para ficar e impôs o enfrentamento do ensino não presencial para os cursos médicos.
Estratégias americanas – A professora Nancy Hueppchen, da Escola de Educação Médica da Johns Hopkins, falou para os acadêmicos e médicos que participaram da sessão que abordou a graduação medicina sobre as estratégias adotadas pela universidade americana para superar as limitações impostas pela pandemia pelo SARS-CoV-2.
Hueppchen ressaltou as lições que estamos aprendendo durante esse período, como acomodar os impactos provocados pelas mudanças e que precisamos planejar o ensino híbrido: presencial e à distância, sincrônica ou assincrônica. Além disso, comentou sobre o incrementando dos centros de simulação, os sistemas de telemedicina, a troca virtual de experiências clínicas e a participação de estudantes voluntários nesse processo, que tem sido multidisciplinar e interprofissional.
Atualmente, a Johns Hopkins adota as principais recomendações do Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos com a disponibilidade de testes acurados e equipamentos de proteção individual até a aprovação de uma vacina eficaz contra o novo coronavírus. Mas Nancy questiona quando será seguro que estudantes voltem para os estágios rotatórios na clínica e outras atividades?
A convidada ainda abordou o trabalho de inúmeros voluntários que foram essenciais para que a faculdade não interrompesse suas atividades.
A sessão “Impactos da covid-19 no ensino de graduação em medicina” foi organizada pelos acadêmicos Francisco Sampaio, ex-presidente da ANM, e Rui Monteiro de Barros Maciel.