A Academia Nacional de Medicina sediou, nos dias 6 e 7 de junho de 2019, o I Seminário Brasileiro de Saúde Materno Infantil e Poluentes Ambientais. O evento foi possível graças à parceria entre a Academia Nacional de Medicina e a Universidade Federal do Rio de Janeiro, por meio da Faculdade de Medicina, a Maternidade Escola e o Instituto de Estudos de Saúde Coletiva (IESC).
Com dois dias de duração e contando com a participação de palestrantes de alto nível vindos de diversas especialidades, o evento fez importantes contribuições não só no campo teórico, mas também no incentivo às pesquisas sobre o efeito dos poluentes ambientais sobre a saúde de mães e crianças. Além de consagrados nomes da pesquisa nacional, o evento também teve a participação de convidados internacionais, configurando um importante ponto de convergência entre os trabalhos desenvolvidos no país e aqueles desenvolvidos em outros países.
Em seu discurso de abertura, o Presidente Jorge Alberto Costa e Silva ressaltou ser uma honra para a Academia Nacional de Medicina organizar, junto à UFRJ, um programa de tão alto nível. Chamou atenção para o fato de que os dois temas – “saúde materno-infantil” e “poluentes ambientais” – já são de grande importância quando tratados em separado;
Além do debate teórico, também foi ponto de destaque o desenvolvimento de estratégias de ação e prevenção, visando a implementação de ações de vigilância e atenção à saúde voltadas para a população infantil desde a gestação. De maneira geral, o evento teve como objetivo fazer um apanhado do conhecimento existente no Brasil acerca dos impactos sobre à saúde decorrentes da exposição aos poluentes ambientais durante a gestação e período perinatal até a adolescência. Além deste fato, o encontro na Academia Nacional de Medicina tornou possível a articulação de uma atuação em rede, favorecendo o intercâmbio de informações e a formação de recursos humanos.
Existem evidências crescentes de que a exposição a substâncias poluentes do ambiente (agrotóxicos, contaminantes atmosféricos, metais, substâncias plastificantes, solventes domissanitários) durante a gestação e período perinatal até a adolescência, pode levar a ocorrência de desordens ou alterações na saúde, não só na infância, mas também na vida adulta. O Brasil é um dos países da região das Américas que incorpora uma ampla variedade de fatores e condições ambientais que podem constituir um risco para a saúde infantil, entre eles a poluição atmosférica nos grandes centros urbanos e o uso disseminado e crescente de agrotóxicos em áreas rurais e urbanas de todo o país.
No primeiro dia de evento, o Acad. Jorge Rezende Filho abordou Saúde Materna, ressaltando que entre 1990 e 2015, a taxa de mortalidade materna global diminuiu apenas 2,3% ao ano. No entanto, a partir de 2000, observou-se uma aceleração nessa redução. Em alguns países, as reduções anuais de mortalidade materna entre 2000 e 2010 foram superiores a 5,5%. Já no Brasil, entre 1990 e 2015 a redução na razão de mortalidade materna no Brasil foi de 143 para 62 óbitos maternos por 100 mil nascidos vivos, o que representou uma diminuição de 56%. Destacou ainda que países de baixa renda são responsáveis por 99% dos óbitos maternos, sendo que esta é maior entre mulheres que vivem em áreas rurais e comunidades mais pobres.
Sobre estratégias para a redução dos índices de mortalidade materna, destacou a qualificação da atenção ao parto e ao pós-parto, incluindo as emergências obstétricas. Além deste fato, torna-se necessário o investimento em qualificação das equipes de atenção ao pré-natal. Chamou atenção para a necessidade de uma articulação em rede, envolvendo a atenção básica e a hospitalar. Por fim, destacou que é preciso que sejam implementadas ações de planejamento reprodutivo, o que inclui também ações de conscientização sobre o aborto, ressaltando que em 2016, houve um aumento dos óbitos por hemorragia, infecção puerperal e aborto no município do Rio de Janeiro.
Discorrendo sobre Equidade e Poluição, o Acad. Paulo Saldiva fez considerações sobre a história dos estudos sobre a poluição do ar, destacando que, na década de 80, a poluição do ar era “uma causa à procura de uma doença” e que, ao longo do tempo, foi possível observar os efeitos deletérios desta condição à saúde humana. Chamou atenção para o fato de que, no dia 19 de junho, será entregue na Assembleia Geral das Nações Unidas um documento que trata da poluição do ar nos mesmos moldes que a Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco, buscando o estabelecimento de políticas globais sobre a matéria.
Por meio de gráficos, demonstrou que, embora os maiores níveis de poluição sejam registrados nos centros urbanos, é nos pulmões das populações periféricas – que, mesmo trabalhando nestes centros urbanos, em geral residem em áreas mais afastadas e, portanto, permanecem mais tempo em deslocamento diário – que são observadas as maiores concentrações de poluentes. Ressaltou que a chance de uma criança completar um ano de vida na cidade de São Paulo pode variar em até oito vezes, dependendo de onde esta criança reside. Por fim, fez um apelo à audiência, destacando que é preciso que pensemos criticamente sobre nossa relação com o nosso ambiente, afirmando que as políticas voltadas para as cidades não são formuladas pela população, ainda, sim, é nela que são observados os desdobramentos mais graves.