O Dr. Ezequiel Corrêa dos Santos nasceu no dia 10 de abril de 1801, na freguesia do Pilar, hoje pertencente a cidade de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, filho de Ezequiel Antonio dos Santos e de D. Maria Rosa de Oliveira Santos.
Ingressou no curso de Farmácia da Academia Médico-Cirúrgica, provavelmente em 1817, após ter assistido aulas de química na Escola Militar, como previam os estatutos da instituição, matriculando-se no terceiro ano. Depois, teve de praticar por mais de um ano na botica designada pela Escola, a de José Caetano de Barros, Membro Honorário da Academia Nacional de Medicina. Aprovado nos exames finais, o Dr. Ezequiel foi diplomado Boticário (Farmacêutico) por Carta Régia, de 2 de junho de 1819 e doutorou-se adiante pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, apresentando tese intitulada “Monografia do geissospermum vellosii (“Pau Pereira”)”.
Era extremamente interessado nos estudos de Bromatologia e lutava pela elaboração de um novo Código Farmacêutico que levasse em conta a vasta flora medicinal.
Foi eleito Membro Titular da Academia Imperial de Medicina, em 1835, e foi Orador em 1837.
Fundou um laboratório e passou a estudar e preparar especialidades – um estabelecimento que ficava à disposição dos alunos da Faculdade – que posteriormente se chamaria UFRJ. Mais tarde, fundou a Fábrica Nacional de Produtos Químicos e Farmacêuticos Ezequiel & Filho, na atual rua Moncorvo Filho.
Em 1840, apresentou na Academia Imperial de Medicina um estudo sobre o princípio ativo que isolara da casca do “Pau Pereira”, a pereirina, reconhecidamente o primeiro alcaloide isolado no Brasil, cujo preparado sob a forma de cloridrato foi amplamente empregado no combate à malária até o início do século passado XX. A ele também se atribui a síntese do primeiro composto orgânico no Brasil, o clorofórmio, em sua oficina farmacêutica e química na rua do Piolho (hoje rua da Carioca).
Em 26 de julho de 1850, um decreto imperial apontou-o Farmacêutico do Imperador D. Pedro II. Como uma das figuras mais proeminentes dentre os farmacêuticos, o Dr. Ezequiel participou de associações de classe com voz ativa em prol da melhoria do ensino de Farmácia. Ezequiel se destacou, ainda, no combate às epidemias. Durante os surtos de febre amarela e cólera no Rio de Janeiro, forneceu, sem qualquer ônus, medicamentos a postos de saúde, população carente, Hospitais dos Artífices e 4º. Batalhão de Artilharia.
Em 1851, fundou e presidiu a primeira sociedade da classe farmacêutica no Brasil do século XIX, a Sociedade Farmacêutica Brasileira, com fins de regularizar e garantir o exercício da farmácia no Brasil. Criou a “Revista Farmacêutica”, que circulou entre 1851 e 1853 e, mais tarde, entre 1862 e 1864, voltou com o nome “A abelha”.
O Professor Francisco de Paula Cândido, que foi presidente da Academia Imperial de Medicina, e então presidente da Junta Central de Higiene Pública, em novembro de 1851, solicitou a colaboração da Sociedade Farmacêutica Brasileira na organização das tabelas e dos materiais que uma botica deveria conter. Ezequiel Corrêa dos Santos foi nomeado para o cargo de Adjunto, em 7 de julho de 1852, passando a visitar as farmácias e procurando facilitar o papel fiscalizador da autoridade sanitária. Um dos frutos dessa participação foi o decreto de 7 de outubro de 1852, do Governo Imperial, que indicava para uso das boticas do Império, a tabela de medicamentos, as farmacopeias, os vasilhames e instrumentos adequados. Em 1852, nomeada a Comissão de Farmacopeia da qual fazia parte o Dr. Ezequiel, com o objetivo de elaborar o Código Farmacêutico, entretanto, divergências profundas com a Central de Higiene Pública impediram a realização do grande sonho, sendo a matéria somente resolvida muitos anos depois, em 1926, com a elaboração da 1ª Farmacopeia Brasileira.
Em 1861, foi formalizado o acordo entre a congregação da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e o Dr. Ezequiel para a cessão do laboratório químico farmacêutico de sua propriedade, onde era ministrada a cadeira da Farmácia Prática. A reivindicação de criação desta cadeira nas faculdades de medicina, dirigida ao Imperador em 1852 e prevista na reforma do ensino em 1854, se concretizava, tendo à frente da Cadeira o seu filho, o Dr. Ezequiel Corrêa dos Santos Júnior.
A trajetória de Ezequiel Corrêa dos Santos nos dá uma ideia do tempo em que viveu. Primeiramente, seu engajamento político nas fileiras do liberalismo, depois como farmacêutico, lutando pelo reconhecimento profissional, pela qualidade do ensino a ser ministrado aos farmacêuticos e pelo combate ao charlatanismo, que invadia o mercado brasileiro de remédios com panaceias e elixires.
Ezequiel Correia dos Santos faleceu no dia 28 de dezembro de 1864, vítima de enterocolite, como noticiou o Diário do Rio de Janeiro, dizendo apenas que havia falecido “um químico habilitado e que era um liberal”.
Após a sua morte, a Academia Imperial de Medicina fez colocar um busto de Ezequiel na sala de suas sessões públicas em homenagem ao cientista, ao historiador de sua classe, ao jornalista e ao político. Em sua homenagem foi dada a uma rua, na Cidade do Rio de Janeiro, na área do Mangue, o nome de Dr. Ezequiel, mas esta desapareceu na reurbanização da Cidade Nova.
O Acadêmico José Messias do Carmo considerava o Dr. Ezequiel Corrêa dos Santos o pai da Farmácia brasileira e, em 29 de março de 1972, o propôs como Patrono da Cadeira 100 da Academia Nacional de Medicina.
● Ezequiel Corrêa dos Santos e o Liberalismo:
(https://www.scielo.br/j/qn/a/HZQss9XmXrSzgvK8kBLsphL/?lang=pt)
Ezequiel era um liberal convicto, com ampla penetração nos movimentos políticos, sendo o principal representante da classe dos boticários na época da Independência. Assinou os autos do Fico e da Aclamação e Coroação de D. Pedro I. Em 1823, após o fechamento da Assembleia Constituinte, Ezequiel ingressou na Sociedade Secreta dos Amigos Livres, onde dois traços característicos de sua trajetória política o acompanharão posteriormente: a luta pelas liberdades e o associativismo.
Nas boticas do Brasil, tanto na época colonial como na imperial, reuniam-se em determinadas horas da tarde ou da noite para discussão de natureza política ou religiosa, para conversas sobre assuntos variados, os homens de importância do lugar. Algumas boticas, como a de Ezequiel, na rua das Mangueiras, eram um espaço de sociabilidade para discussão e propagação das ideias exaltadas. Daí a quadrinha:
“Na botica vende tudo.
Vende da purga ao sudário.
Só não vende, por cautela,
a língua do boticário…”
A partir de 1829 com a radicalização das lutas políticas surge na Corte uma nova facção, os liberais exaltados. Seus membros não eram integrantes da elite política ou socioeconômica do Império, sendo basicamente oriundos das camadas médias urbanas. Os exaltados fazem da imprensa seu principal canal de ação. Dentre os periódicos do período editados na Corte, encontra-se a Nova Luz Brasileira (1829-1831), cujo redator era Ezequiel Corrêa dos Santos. Processado em agosto de 1831, sob a alegação de abuso da liberdade de imprensa, por comprometer a segurança pública ao fazer apologia ao regime republicano, foi absolvido em setembro do mesmo ano.
Após o processo, mudou de tática e de espaço de atuação: findou a publicação da Nova Luz Brasileira e congregou seu grupo em nova associação política, fundada em dezembro de 1831, a Sociedade Federal Fluminense, cujo principal objetivo era derrubar a Regência e proclamar o sistema federativo ou republicano.
A trajetória de “exaltado” de Ezequiel terminou com o Ato Adicional à Constituição em 12 de agosto de 1834, que consagrou a descentralização. Tornou-se membro do Partido Liberal, elegendo-se duas vezes vereador à Câmara Municipal da Corte, muito mais em função de sua ação como boticário que por suas atividades políticas.
Ezequiel era considerado um “Jacobino” na Corte do Imperador. Durante a Revolução Francesa, os jacobinos defendiam reformas sociais e, na Assembleia Nacional, sentavam-se do lado esquerdo da sala de reuniões. No Brasil, os clubes republicanos radicais do fim da monarquia se diziam jacobinos por defender as mesmas ideias dos franceses um século antes.
Acad. Francisco Sampaio
Número acadêmico: 42
Cadeira: 100
Cadeira homenageado: 100
Membro: Titular
Secção: Ciencias aplicadas à Medicina
Eleição: 15/10/1835
Posse: 15/10/1835
Sob a presidência: Joaquim Candido Soares de Meirelles
Falecimento: 28/12/1864
Número acadêmico: 42
Cadeira: 100
Cadeira homenageado: 100
Membro: Titular
Secção: Ciencias aplicadas à Medicina
Eleição: 15/10/1835
Posse: 15/10/1835
Sob a presidência: Joaquim Candido Soares de Meirelles
Falecimento: 28/12/1864
O Dr. Ezequiel Corrêa dos Santos nasceu no dia 10 de abril de 1801, na freguesia do Pilar, hoje pertencente a cidade de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, filho de Ezequiel Antonio dos Santos e de D. Maria Rosa de Oliveira Santos.
Ingressou no curso de Farmácia da Academia Médico-Cirúrgica, provavelmente em 1817, após ter assistido aulas de química na Escola Militar, como previam os estatutos da instituição, matriculando-se no terceiro ano. Depois, teve de praticar por mais de um ano na botica designada pela Escola, a de José Caetano de Barros, Membro Honorário da Academia Nacional de Medicina. Aprovado nos exames finais, o Dr. Ezequiel foi diplomado Boticário (Farmacêutico) por Carta Régia, de 2 de junho de 1819 e doutorou-se adiante pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, apresentando tese intitulada “Monografia do geissospermum vellosii (“Pau Pereira”)”.
Era extremamente interessado nos estudos de Bromatologia e lutava pela elaboração de um novo Código Farmacêutico que levasse em conta a vasta flora medicinal.
Foi eleito Membro Titular da Academia Imperial de Medicina, em 1835, e foi Orador em 1837.
Fundou um laboratório e passou a estudar e preparar especialidades – um estabelecimento que ficava à disposição dos alunos da Faculdade – que posteriormente se chamaria UFRJ. Mais tarde, fundou a Fábrica Nacional de Produtos Químicos e Farmacêuticos Ezequiel & Filho, na atual rua Moncorvo Filho.
Em 1840, apresentou na Academia Imperial de Medicina um estudo sobre o princípio ativo que isolara da casca do “Pau Pereira”, a pereirina, reconhecidamente o primeiro alcaloide isolado no Brasil, cujo preparado sob a forma de cloridrato foi amplamente empregado no combate à malária até o início do século passado XX. A ele também se atribui a síntese do primeiro composto orgânico no Brasil, o clorofórmio, em sua oficina farmacêutica e química na rua do Piolho (hoje rua da Carioca).
Em 26 de julho de 1850, um decreto imperial apontou-o Farmacêutico do Imperador D. Pedro II. Como uma das figuras mais proeminentes dentre os farmacêuticos, o Dr. Ezequiel participou de associações de classe com voz ativa em prol da melhoria do ensino de Farmácia. Ezequiel se destacou, ainda, no combate às epidemias. Durante os surtos de febre amarela e cólera no Rio de Janeiro, forneceu, sem qualquer ônus, medicamentos a postos de saúde, população carente, Hospitais dos Artífices e 4º. Batalhão de Artilharia.
Em 1851, fundou e presidiu a primeira sociedade da classe farmacêutica no Brasil do século XIX, a Sociedade Farmacêutica Brasileira, com fins de regularizar e garantir o exercício da farmácia no Brasil. Criou a “Revista Farmacêutica”, que circulou entre 1851 e 1853 e, mais tarde, entre 1862 e 1864, voltou com o nome “A abelha”.
O Professor Francisco de Paula Cândido, que foi presidente da Academia Imperial de Medicina, e então presidente da Junta Central de Higiene Pública, em novembro de 1851, solicitou a colaboração da Sociedade Farmacêutica Brasileira na organização das tabelas e dos materiais que uma botica deveria conter. Ezequiel Corrêa dos Santos foi nomeado para o cargo de Adjunto, em 7 de julho de 1852, passando a visitar as farmácias e procurando facilitar o papel fiscalizador da autoridade sanitária. Um dos frutos dessa participação foi o decreto de 7 de outubro de 1852, do Governo Imperial, que indicava para uso das boticas do Império, a tabela de medicamentos, as farmacopeias, os vasilhames e instrumentos adequados. Em 1852, nomeada a Comissão de Farmacopeia da qual fazia parte o Dr. Ezequiel, com o objetivo de elaborar o Código Farmacêutico, entretanto, divergências profundas com a Central de Higiene Pública impediram a realização do grande sonho, sendo a matéria somente resolvida muitos anos depois, em 1926, com a elaboração da 1ª Farmacopeia Brasileira.
Em 1861, foi formalizado o acordo entre a congregação da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e o Dr. Ezequiel para a cessão do laboratório químico farmacêutico de sua propriedade, onde era ministrada a cadeira da Farmácia Prática. A reivindicação de criação desta cadeira nas faculdades de medicina, dirigida ao Imperador em 1852 e prevista na reforma do ensino em 1854, se concretizava, tendo à frente da Cadeira o seu filho, o Dr. Ezequiel Corrêa dos Santos Júnior.
A trajetória de Ezequiel Corrêa dos Santos nos dá uma ideia do tempo em que viveu. Primeiramente, seu engajamento político nas fileiras do liberalismo, depois como farmacêutico, lutando pelo reconhecimento profissional, pela qualidade do ensino a ser ministrado aos farmacêuticos e pelo combate ao charlatanismo, que invadia o mercado brasileiro de remédios com panaceias e elixires.
Ezequiel Correia dos Santos faleceu no dia 28 de dezembro de 1864, vítima de enterocolite, como noticiou o Diário do Rio de Janeiro, dizendo apenas que havia falecido “um químico habilitado e que era um liberal”.
Após a sua morte, a Academia Imperial de Medicina fez colocar um busto de Ezequiel na sala de suas sessões públicas em homenagem ao cientista, ao historiador de sua classe, ao jornalista e ao político. Em sua homenagem foi dada a uma rua, na Cidade do Rio de Janeiro, na área do Mangue, o nome de Dr. Ezequiel, mas esta desapareceu na reurbanização da Cidade Nova.
O Acadêmico José Messias do Carmo considerava o Dr. Ezequiel Corrêa dos Santos o pai da Farmácia brasileira e, em 29 de março de 1972, o propôs como Patrono da Cadeira 100 da Academia Nacional de Medicina.
● Ezequiel Corrêa dos Santos e o Liberalismo:
(https://www.scielo.br/j/qn/a/HZQss9XmXrSzgvK8kBLsphL/?lang=pt)
Ezequiel era um liberal convicto, com ampla penetração nos movimentos políticos, sendo o principal representante da classe dos boticários na época da Independência. Assinou os autos do Fico e da Aclamação e Coroação de D. Pedro I. Em 1823, após o fechamento da Assembleia Constituinte, Ezequiel ingressou na Sociedade Secreta dos Amigos Livres, onde dois traços característicos de sua trajetória política o acompanharão posteriormente: a luta pelas liberdades e o associativismo.
Nas boticas do Brasil, tanto na época colonial como na imperial, reuniam-se em determinadas horas da tarde ou da noite para discussão de natureza política ou religiosa, para conversas sobre assuntos variados, os homens de importância do lugar. Algumas boticas, como a de Ezequiel, na rua das Mangueiras, eram um espaço de sociabilidade para discussão e propagação das ideias exaltadas. Daí a quadrinha:
“Na botica vende tudo.
Vende da purga ao sudário.
Só não vende, por cautela,
a língua do boticário…”
A partir de 1829 com a radicalização das lutas políticas surge na Corte uma nova facção, os liberais exaltados. Seus membros não eram integrantes da elite política ou socioeconômica do Império, sendo basicamente oriundos das camadas médias urbanas. Os exaltados fazem da imprensa seu principal canal de ação. Dentre os periódicos do período editados na Corte, encontra-se a Nova Luz Brasileira (1829-1831), cujo redator era Ezequiel Corrêa dos Santos. Processado em agosto de 1831, sob a alegação de abuso da liberdade de imprensa, por comprometer a segurança pública ao fazer apologia ao regime republicano, foi absolvido em setembro do mesmo ano.
Após o processo, mudou de tática e de espaço de atuação: findou a publicação da Nova Luz Brasileira e congregou seu grupo em nova associação política, fundada em dezembro de 1831, a Sociedade Federal Fluminense, cujo principal objetivo era derrubar a Regência e proclamar o sistema federativo ou republicano.
A trajetória de “exaltado” de Ezequiel terminou com o Ato Adicional à Constituição em 12 de agosto de 1834, que consagrou a descentralização. Tornou-se membro do Partido Liberal, elegendo-se duas vezes vereador à Câmara Municipal da Corte, muito mais em função de sua ação como boticário que por suas atividades políticas.
Ezequiel era considerado um “Jacobino” na Corte do Imperador. Durante a Revolução Francesa, os jacobinos defendiam reformas sociais e, na Assembleia Nacional, sentavam-se do lado esquerdo da sala de reuniões. No Brasil, os clubes republicanos radicais do fim da monarquia se diziam jacobinos por defender as mesmas ideias dos franceses um século antes.
Acad. Francisco Sampaio