Estratégias brasileiras para a produção de vacinas

11/03/2021

“Precisamos reconhecer o grupo grande de brasileiros cientistas trabalhando para tentar controlar essa situação que vivemos – inclusive o desgoverno que estamos sofrendo de maneira constante. Mas existem sempre oásis e núcleos que inspiram e são os bons exemplos. A Academia Nacional de Medicina vem tentando ressaltar esses exemplos”.

Com esse breve discurso inicial, o presidente da ANM, Rubens Belfort Jr, abriu a live “Estratégia brasileira para a produção de vacinas”, que ocorreu na última quinta-feira (11/3) e reuniu instituições nacionais renomadas para discutir os rumos da ciência brasileira no combate à pandemia da covid-19.

A sessão contou com a coordenação a apresentação do acadêmico Marcelo Morales, atual Secretário de Estado de Pesquisa e Formação Científica do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, que detalhou uma linha do tempo desde a criação da iniciativa RedeVírus MCTI até o sequenciamento da nova cepa do SARS-CoV-2 e publicação de artigos científicos em dezembro de 2020.

A rede conta com mais de dois mil pesquisadores e acadêmicos envolvidos, trabalhando de forma colaborativa e harmônica para que todas as ações sejam bem-sucedidas, e o projeto já investiu cerca de R$ 500 milhões de reais para o enfrentamento da pandemia através de pesquisas científicas, além de R$ 600 milhões de recursos para empresas, com a produção de respiradores e equipamentos de proteção individual.

Morales também compartilhou um infográfico detalhado com estratégias e ações do MCTI no combate à covid-19 que passam pelos pilares: impactos, suporte, sequenciamento, diagnóstico, medicamentos, vacinas e ensaios clínicos. 

“Cada vez mais, precisamos formar uma base forte para a pesquisa brasileira ter uma estratégia contra essa e outras tantas doenças, e a comunidade tem que aprender. Claro que não é fácil, mas o fracasso de um produto não significa que a estratégia foi inadequada – é preciso muitos fracassos para conseguir um sucesso”, destacou o presidente Rubens Belfort Jr.

O acadêmico e presidente da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), Jerson Lima, também coordenador do simpósio, iniciou sua apresentação com uma homenagem aos vários séculos de atuação da ciência brasileira, em especial da Fiocruz e do Instituto Butantan, e expõs os principais desafios da pandemia para os cientistas nacionais: redução de recursos federais e estaduais para pesquisa, redução do financiamento das universidades e institutos de pesquisa (infraestrutura) e atividades remotas.

Segundo Lima, o Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), composto por 18 fundações, reuniu mais de R$ 90 milhões em 21 chamadas públicas, que incluem pesquisas, tratamentos e diagnósticos, além de aproximadamente R$ 300 milhões redirecionados pelas FAPs em projetos e redes de pesquisa. Somente a Faperj apoiou R$ 75 milhões em auxílios e bolsas em 2020, um total de 120 projetos para o combate à covid-19.

O acadêmico detalha as atuações de cada FAP e encerrou com a divulgação de novos editais e programas da Faperj em 2021, que incluem linhas de pesquisa relacionadas à covid-19 – uma delas, um edital de desenvolvimento de imunobiológios, reposicionamentos de fármacos e vacinas (novas e acompanhamento da fase 4 das que estão sendo aplicadas). “Fomentar a pesquisa é transformar recursos financeiros em conhecimento, que retornam multiplicados em emprego e renda para a sociedade”, afirmou.

O professor Ricardo Gazzinelli, do Centro Nacional de Tecnologia de Vacinas, deu seguimento à sessão com foco na atuação da universidade, que faz parte da RedeVírus MCTI. Duas das tecnologias desenvolvidas no combate ao coronavírus foram os kits Elisa, em cinco meses de pandemia, e os testes rápidos IgG e IgM, que já estão sendo distribuídos para alguns laboratórios mineiros.

Gazzinelli afirma que foi importante desenvolver estratégias diferentes na pesquisa sobre a vacina da covid-19 e a influenza foi a candidata principal – a ideia é ser uma vacina bivalente. No entanto, durante o processo, foi constatado que o modelo quimera X+S apresentou resultados mais animadores. A instituição já levou o modelo à Anvisa e encontra-se na fase de lote piloto.

O professor também apresentou um gráfico com a exibição dos investimentos em desenvolvimento de vacinas no Brasil, que é relativamente baixo, além de não ser, de forma majoritária, composto por recursos de empresas privadas, em comparação com demais países.

Para falar sobre as estratégias da Anvisa no enfrentamento à pandemia, Gustavo Mendes, gerente-geral da instituição, faz um breve discurso. O especialista salienta o rigor do órgão na vigilância e no controle da qualidade das vacinas em desenvolvimento e distribuição, que fazem com que uma série de questões administrativas seja importante e indispensável no processo. 

Segundo o gerente-geral, há três vacinas brasileiras em fases avançadas – dentre elas, as desenvolvidas na Universidades Federais de Minas Gerais (UFMG) e a do Rio de Janeiro (UFRJ). Mendes também cita algumas medidas adotadas pela Anvisa para o controle da covid-19, como a aprovação do uso emergencial das vacinas Oxford-AstraZeneca e Coronavac, além do recente registro oficial da Pfizer. Outra medida citada é o aproveitamento de registros e aprovações por outras agências reguladoras consideradas referências pela Anvisa e a garantia da qualidade da fabricação de vacinas aprovadas e produzidas em diferentes laboratórios.

A convidada Marcia Antunes, diretora industrial do Instituto Vital Brazil, divulgou novos projetos do instituto, que incluem soro anti-SARS-CoV-2 em preparação para início dos testes clínicos e vacinas em negociação das parcerias e tratativas com o Ministério da Saúde.

Sobre o soro mencionado, Antunes afirmou que houve um pedido de patente em agosto de 2020, em conjunto com a Fiocruz e a UFRJ, visto que os resultados apresentaram anticorpos neutralizantes 50 vezes mais potentes do que os plasmas de pessoas que foram infectadas.

O vice-presidente da Fiocruz, Marco Krieger, encerrou a sessão falando sobre a análise de riscos feita no início da pandemia para o melhor enfrentamento e uma matriz onde foram consideradas tecnologias diferentes e fases das vacinas em desenvolvimento, que possibilitou, por vias legais, a “importação” da produção desses imunizantes. Também foram detalhadas as fases de trabalho em conjunto com a AstraZeneca, desde a chegada do insumo, em janeiro, até a estimativa da entrega de 110 milhões de doses até julho de 2021.

Para melhorar sua experiência de navegação, utilizamos cookies e outras tecnologias semelhantes. Ao continuar, você concorda com a nossa política de privacidade.