São duas as principais funções: uma dita exócrina, ou seja, de limpeza dos produtos do metabolismo do nosso organismo. Estes produtos são geralmente substancias que se forma após a utilização pelo nosso organismo dos nutrientes, alimentos que ingerimos. A outra função é endócrina, através da qual nossos rins produzem uma série de hormônios que controlam por exemplo a nossa pressão arterial sanguínea, a produção de sangue pela medula óssea, a produção de vitamina D, etc.
Ao nascermos, cada rim tem aproximadamente 1 milhão de “ filtros”, cujo termo médico é “ nefrons”. Daí a razão de que esta estrutura ao se inflamar, chamamos a isto de nefrite. Cada nefron (filtro) tem uma estrutura corpuscular que se parece a um novelo de se fazer tricot, que está envolto por uma capsula (membrana) e se comunica com uma estrutura tubular. O sangue ao circular por cada nefron (filtro), produz um filtrado do sangue que ao percorrer a estrutura tubular é quase todo reabsorvido, deixando no entanto as impurezas para serem excretadas. De sorte que num período de 24 horas, os dois rins produzem 180 litros de uma “ pré-urina”, mas devido a reabsorção tubular, eliminamos apenas 1.5 litros. Ou seja, os rins têm uma capacidade extraordinária de concentrar a urina. Esta compreensão é importante para entendermos porque ao serem lesados, os rins eliminam mais urina e não menos, ou seja, perdem a capacidade de concentração. Logo, quando uma pessoa diz: “ urino muito, logo meus rins devem ser bons”, não se justifica dentro do exposto. As pessoas que perdem 90% da capacidade dos rins e fazem por exemplo diálise (limpeza artificial do sangue), urinam no início do tratamento, em torno de 3-4 litros por dia, devido a esta perda de concentração.
Infelizmente os sinais e sintomas são tardios, ou seja, uma pessoa pode perder de 70-80% das funções dos rins sem ter nenhum sinal de alerta. Isto ocorre porque com a destruição dos filtros (nefrons), há uma adaptação dos filtros remanescentes que acabam dando conta do recado, até não suportarem mais. Este ponto também é importante porque as pessoas precisam saber se pertencem a algum grupo de risco capaz de serem mais propicias a terem alguma enfermidade renal (vide o texto Como manter a saúde dos rins neste site da Academia Nacional de Medicina).
No entanto, alguns sinais e sintomas podem nos alertar de que algo está errado:
Estes são alguns dos sinais e sintomas mais precoces que podem alertar sobre algum problema renal.
Diz-se que há perda total da função renal quando nos resta menos de 10% da capacidade de filtração dos rins. O cálculo mais exato da função renal geralmente é feito pela coleta de urina de 24 horas com realização de um cálculo chamado clearance de creatinina.
Nesta fase, com menos de 10% de função, os rins não conseguem mais manter nosso sangue limpo e as impurezas se acumulam, causando sintomas como náuseas, vômitos, inapetência, fraqueza, insônia, etc. É um quadro de intoxicação.
O ideal é que a perda de função dos rins seja detectada mais precocemente, por exemplo, quando ainda temos 25% de função renal remanescente. Aí podemos apresentar as opções: diálise (limpeza artificial do sangue) ou transplante renal. Muitas vezes podemos realizar um transplante renal sem necessidade de passar pela dialise. Isto é possível quando temos um doador vivo (potencial doador na família).
Na fase descrita acima, com menos de 10% de função e já com sintomas de intoxicação, a dialise é inevitável.
Infelizmente, no Brasil mais de 70% pessoas que procuram um especialista chegam tardiamente, necessitando de diálise imediata.
Há dois tipos principais de diálise:
Hemodiálise: neste tipo de tratamento, há a circulação extracorpórea de sangue que ao passar por um filtro especial, limpa as impurezas do sangue. Este tratamento geralmente é feito em clinicas especializadas, em sessões de 3- 4 horas e com a frequência de 3 vezes na semana.
Diálise peritoneal: neste tipo uma solução liquida especial é colocado no abdômen onde ocorre a retirada das impurezas. Este tratamento não envolve circulação extracorpórea de sangue e é o único tratamento domiciliar existente no Brasil. Pode ser feito a noite, enquanto o paciente dorme.
Os dois métodos são eficazes e tem os mesmos resultados a longo prazo. A decisão é tomada em conjunto com a família e o médico especialista.
Apesar da diálise filtrar o sangue artificialmente, o único tratamento que realmente reestabelece a função renal por completo é o transplante renal. O transplante proporciona uma melhor qualidade de vida e sobrevida, incluindo maior liberdade, mais energia e uma dieta menos restrita quando comparado com a diálise.
O transplante renal é uma operação no qual o paciente com doença renal recebe um rim de outro individuo (Figura 2). Este novo rim então assume o papel dos rins originais. Existe dois tipos de transplante renal, um com doador vivo e outro com doador falecido. O transplante com doador vivo (ex. Familiar) tem os melhores resultados mas para pacientes que não tem potenciais doadores na família, a espera em uma lista de doadores falecidos é recomendada. Infelizmente, a espera por um rim de doador falecido pode ser longa devido ao grande número de pacientes com doença dos rins e o número limitado de órgãos disponíveis.
O principal problema do transplante é a rejeição, no qual o sistema imune do paciente que recebe o novo rim reconhece o rim transplantado como sendo um órgão estranho e tenta destruí-lo. Para evitar a rejeição, é necessário tomar uma combinação de medicamentos que acalmam o sistema imune e previnem a rejeição. Essa medicação tem alguns efeitos colaterais incluindo um maior risco de infecções e certos canceres a longo prazo. Essas medicações a qual chamamos de imunossupressores devem ser tomados para o resto da vida após o transplante pois a interrupção mesmo por curto período de tempo (ex. dias) pode levar a rejeição do rim transplantado.
O transplante renal não é indicado para todos os pacientes com doença renal avançada. Opções de tratamento para cada indivíduo devem ser discutidas com o médico especialista nos rins (nefrologista).
Figura 1. Função dos rins.
Figura 2. O transplante renal é uma operação que requer anestesia geral. O novo rim é posicionado na parte inferior do abdômen e os rins originais do paciente não são geralmente removidos. O rim doador é conectado aos vasos e à bexiga do paciente receptor. A urina produzida pelo novo rim é então eliminada de forma similar aos rins originais.
Autores:
Cristian V. Riella -Research Fellow em Nefrologia, Beth Israel Deaconess Medical Center e Harvard Medical School, Boston, USA
Leonardo V. Riella – Assistant Professor of Medicine, Medical Director of Vascularized Composite Allotransplantation, Associate Director of Kidney Transplantation Brigham and Women’s Hospital Harvard Medical School
Miguel C. Riella – Membro da Academia Nacional de Medicina