DOENÇA VENOSA CRÔNICA

21/07/2016

A doença venosa crônica (DVC) é uma das doenças mais prevalentes no mundo, afetando aproximadamente 1 a 3 % da população em geral, constituindo um problema de saúde comum em vários países, inclusive no Brasil.

A DVC é resultante da interação de fatores genéticos com fatores de risco, como por exemplo: idade, ortostatismo prolongado, gênero feminino e número de gestações. A obesidade e diminuição de mobilidade são fatores de risco controversos para a DVC. Por outro lado, fatores como tabagismo, terapia com reposição hormonal de estrogênio, hipertensão e diabetes mellitus provavelmente exacerbam ou contribuem para o aparecimento da doença.

A DVC abrange um amplo conjunto de sinais e sintomas que afetam os membros inferiores, o mais comum deles são as varizes, que podem variar de pequenas vênulas dilatadas (telangiectasias) até varizes calibrosas e alterações da veia safena com a formação de lesões de pele de difícil cicatrização (úlceras de estase venosa), resultado de alterações mais graves da doença venosa.

As telangiectasias são vênulas dilatadas com diâmetro inferior a 1 mm e veias reticulares são veias dilatadas, tortuosas e não palpáveis com diâmetro entre 1 e 3 mm (CEAP 1). As varizes ou veias varicosas, são veias dilatadas, tortuosas e palpáveis com diâmetro superior a 3 mm (CEAP 2). As varizes podem ser acompanhadas de inchaço nas pernas (CEAP 3), escurecimento, enrijecimento, vermelhidão e descamação da pele na região afetada (CEAP 4). A presença de úlcera (CEAP 6) ou cicatriz de úlcera (CEAP 5) são fases mais avançadas da DVC

Outros sintomas relacionados à DVC incluem dor, sensação de peso e cansaço nas pernas, coceira e formigamento, cãibras musculares e latejamento que pioram a qualidade de vida do paciente. A qualidade de vida também é diretamente afetada pelo tempo dispensado às frequentes consultas e aos cuidados médicos que levam o paciente a se ausentar do trabalho podendo, em alguns casos, levar a perda do emprego.

Apesar da complexidade da DVC, normalmente o seu diagnóstico é realizado com base no exame clínico com uma anamnese cuidadosa e exame físico completo. No entanto, para se ter o diagnóstico preciso e, consequentemente, o tratamento adequado é necessário a realização do exame denominado Duplex Scanning ou Eco-Doppler. Esse exame avalia detalhadamente o sistema venoso dos membros inferiores identificando os mecanismos que causam a disfunção venosa, tais como refluxo sanguíneo, obstrução venosa (ou ambos), bem como indica a localização exata da doença dentro do sistema venoso.

A DVC pode ser classificada em primária ou secundária. A causa da DVC primária permanece ainda indefinida. Entretanto, sabe-se que a incompetência das válvulas venosas, o enfraquecimento da parede venosa e dilatação venosa são fatores associados ao surgimento das varizes. Recentemente estudos envolvendo a microcirculação também trouxeram resultados positivos na identificação e mensuração da doença venosa.

A DVC secundária comumente se desenvolve após um episódio de trombose venosa profunda (TVP). Como consequência da TVP, ocorrem alterações crônicas no diâmetro das veias e a combinação de obstrução parcial do fluxo sanguíneo e refluxo venoso.

Quanto aos tratamentos, podemos dividi-los em clinico ou cirúrgico/intervenção. O primeiro, trás diversas opções combinando drogas fleboativas, compressão elástica, terapias físicas e de drenagem linfática além de mudança do estilo de vida e controle das co-morbidades tais quais obesidade, tabagismo e sedentarismo. Já no grupo das intervenções temos as cirurgias de varizes, esclerose de pequenas e microvarizes, esclerose com espuma densa de varizes de médio e grande calibre, tratamento com laser e radio frequência ou a combinação dos métodos seguindo a orientação do cirurgião vascular ou angiologista.

No tratamento clínico, procuramos diminuir as alterações locais e os sintomas além de conter ou retardar a evolução da DVC. O tratamento farmacológico com venotônicos é o padrão nesses casos desde níveis iniciais aos avançados, inclusive nas úlceras venosas. Diversos estudos comprovam a melhoria dos sintomas como edema, dor e peso nos membros inferiores.

A meia elástica de compressão também tem um papel importante na doença venosa, com resposta direta sobre o edema e qualidade de vida dos pacientes e também na prevenção e controle da DVC sendo rotineiramente prescrita para indivíduos que tenham que ficar em pé ou sentados por longos períodos. O uso em viagens aéreas longas e durante o exercício físico também tem se difundido cada vez mais, com relatos positivos na sintomatologia.

O tratamento com drenagem linfática e atividade física orientada no caso de alterações e sequelas deve ser sempre observado, principalmente em gestantes e idosos. O repouso com membros inferiores elevados também deve ser incentivado e tem efeitos positivos no tratamento da DVC.

As intervenções são necessárias quando o tratamento clínico não surte o efeito desejado ou nos casos de evolução da doença. A cirurgia de varizes continua sendo a mais indicada para o tratamento da DVC com ou sem sintomas, principalmente em mulheres, quando há também a queixa estética com ou sem sintomas.

Com a evolução tecnológica, hoje temos a disposição técnicas menos invasivas para o tratamento das varizes. O Laser e rádio frequência, por exemplo, promovem um tratamento sem cortes e com uma recuperação pós-operatória mais favorável, mas não substituem a cirurgia, mas complementam.

A escleroterapia continua sendo o tratamento mais realizado no mundo para tratamentos de diferentes graus de DVC sendo a mais comumente tratada a telangiectasia. Mais recentemente o tratamento de varizes calibrosas e até mesmo das veias safenas pelo método de esclerose por espuma densa ganhou grande importância, principalmente pelo custo relativamente baixo e resposta clinica positiva sem necessidade de repouso ou mesmo de anestesia.

Devemos sempre procurar um médico especialista para o diagnóstico e tratamento adequado da DVC. A Sociedade Brasileira, SBACV, mantem uma lista dos médicos especialistas habilitados.

Autores:

Maria das Graças Coelho de Souza

Bernardo Cunha Senra Barros

Eliete Bouskela – Membro Titular da Academia Nacional de Medicina

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