Aconteceu na Sessão da última quinta-feira, 30 de novembro, o último ciclo de palestras do Simpósio “Early Intervention and Diagnosis in Paediatric Neurodevelopment Defects in Brazil”, uma parceria da ANM com a Academia Brasileira de Ciências, Fiocruz e a Academia de Ciências Médicas do Reino Unido (UKAMS). O evento durou dois dias e, em sua primeira fase, fechada ao público, foi realizado um workshop com palestras que abordaram temas relacionados a epidemiologia, neurologia pediátrica e doenças como Zika e microcefalia.
A primeira sessão de palestras ocorreu no dia 29 de setembro e abordou epidemiologia, genética e a natureza acerca dos problemas de desenvolvimento neurológico no Brasil e na América do Sul. Essas palestras foram essenciais para o estabelecimento do contexto acerca do qual o restante do workshop se desenvolveu.
Entre os palestrantes, o professor de medicina neonatal Neil Marlow, da University College London, abordou os cuidados no acompanhamento dos casos de danos cerebrais adquiridos, ressaltando a importância em identificar quais crianças estão suscetíveis a desenvolver dificuldades de aprendizagem e a existência de sistemas especializados para o auxílio dessas crianças. O médico apontou ainda que a proporção de pessoas com deficiência física é relativamente pequena quando comparada aos casos de deficiência cognitiva.
A Dra. Melissa Gladstone, da Universidade de Liverpool, fez apresentação sobre avaliações e intervenções nos distúrbios de desenvolvimento, abordando os principais métodos diagnósticos e os indicadores das desordens. Apontou também os tratamentos que podem ser combinados para a resolução do problema, como aumento das interações entre mães e filhos e maiores estímulos psicossociais. Citou também a ligação entre saúde, bem-estar social e educação, fatores altamente afetados pelo baixo desenvolvimento neurológico.
De acordo com a proposta do workshop, após as apresentações os participantes foram divididos em três grupos de trabalho, visando abordar questões levantadas na sessão de abertura e respondendo questões específicas propostas pelo Comitê Organizador do evento.
Com tema “Neuroplasticidade Cerebral e Próximos Passos”, a segunda sessão, conduzida pelo Acadêmico Paulo Niemeyer Filho, tratou a importância da intervenção precoce em distúrbios cerebrais perinatais e na infância, e estratégias de programas de estímulo neurológico como tratamento. O professor da King’s College London, David Edwards, abordou em sua palestra os estudos realizados na busca de tratamentos para distúrbios do desenvolvimento neurológico e explicitou a diferença entre o impacto que os investimentos em pesquisas têm em países de maior e menor relevância socioeconômica. Também se apresentaram nessa sessão os Professores Patricia Garcez (UFRJ) e Alexander Parciokowski (University of Rochester Medical Center).
As sessões do dia 30 tiveram enfoque maior na questão dos estudos e pesquisas pediátricas realizadas após o surto de Zika vírus no Brasil, o que se pôde aprender com o surto e as questões éticas que envolvem estudos pediátricos. A Dra. Andrea Zin, do Instituto Brasileiro de Oftalmologia, abordou o impacto da infecção uterina de Zika vírus no desenvolvimento da visão, e a Dra. Lynn K. Paul, do Instituto de Tecnologia da Califórnia, falou sobre Autismo e Distúrbios Neurocognitivos.
A última sessão de palestras do evento foi aberta ao público e teve como tema políticas públicas de saúde relacionadas a doenças causadoras de distúrbios de desenvolvimento neurológico pediátrico. A discussão abordou as principais conclusões acerca do impacto social resultante da síndrome de Zika e o fortalecimento de intervenções na saúde pública. A médica e Presidente da Fiocruz, Nísia Trindade, refletiu sobre a crise política e econômica do país e seu impacto tanto no desenvolvimento científico e tecnológico quanto no sistema de saúde pública. Evidenciou ainda a importância da participação ativa de toda a sociedade no combate a epidemias, propondo a produção de conhecimento de perspectiva interdisciplinar, a fim de gerar inovação nos campos científico, educacional, político e social.
Em sua conferência, a Diretora do Departamento de Ações Programáticas Estratégicas do Ministério da Saúde, Dra. Thereza de Lamare Franco Netto, apresentou reflexões acerca das perspectivas e problemas da saúde pública brasileira, discorrendo sobre como o país encarou o estado de emergência e o papel do Ministério da Saúde no combate à epidemia. Apresentou ações estratégicas e medidas efetivas de combate, planos de suporte a estados e municípios e os próximos desafios e projetos para lidar com a prevenção, diagnóstico e tratamento das epidemias.
Sob coordenação do Acadêmico Rubens Belfort, “Visibilidade para crianças invisíveis” foi tema da conferência apresentada pela doutora Maria Elisabeth Moreira, do Instituto Fernandes Figueira. A palestrante abordou as causas de mortalidade infantil no Brasil e apresentou as taxas de mortalidade por região dos últimos trinta anos, destacando que, apesar da queda significativa, a região Norte ainda apresenta os maiores índices do país.
Apresentou, ainda, os índices de mortalidade neonatal, que hoje representa mais de dois terços das taxas de mortalidade infantil; ressaltou que a redução dessas taxas é ainda mais difícil se relacionada a outras faixas etárias. Por fim, alertou para as disparidades regionais, socioeconômicas e étnicas envolvidas na medição da mortalidade infantil no Brasil.
O palestrante David Edwards (King’s College London) retornou para tratar do tema “Developmental Connectomics”, um novo tipo de pesquisa que possibilita explorar o desenvolvimento de cérebro através do mapeamento não-invasivo de padrões de conectividade estrutural e funcional. Em seguida, o Professor da UFRJ e Membro Afiliado da Academia de Ciências do Mundo em Desenvolvimento (TWAS) Stevens Rehen falou sobre a questão dos modelos celulares para estudos do cérebro humano, chamando atenção para o fato de que a aproximação entre pesquisa básica, pesquisa clínica e os médicos é imprescindível para o desenvolvimento científico e tecnológico de qualquer país. O Diretor de Pesquisa do Instituto D’Or (IDOR) destacou também as dificuldades científicas que existem em razão da falta de recursos públicos em infraestrutura e na formação de recursos humanos. Nesse sentido, destacou o trabalho do IDOR como exemplo de instituição privada sem fins lucrativos que possibilita uma contribuição significativa na solução de problemas.
A co-fundadora e vice-presidente do IDOR, Fernanda Tovar Moll, abordou a conectividade e o mapeamento do cérebro por imagem em distúrbios neurológicos, explicando que fatores como a nutrição, o ambiente ao qual a criança será exposta e diferentes patologias podem exercer papel fundamental na modulação do cérebro. Salientou, ainda, que qualquer dano ou estímulo na fase pré-natal ou pós-natal impacta de forma significativa a formação do cérebro maduro.