O 1º Fórum Médico Franco-Brasileiro teve sua abertura marcada pelas interações entre instituições de ambos os países e pelas preocupações médicas em comum.
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Após as boas-vindas do presidente da Academia Nacional de Medicina do Brasil, Pietro Novellino, o presidente da Fundação da Academia de Medicina francesa, Jean-Marie Dru, explicou que este foi o 1º de vários fóruns, que serão realizados em diversas partes do mundo. “Fizemos questão de realizar o 1º no Brasil, pois estas são as academias de medicina mais antigas do mundo”, ressaltou. “Este fórum consolidará a aproximação entre as academias, compartilhando alguns dos principais desafios da medicina contemporânea”.
O evento também foi aberto com discursos dos embaixadores da França no Brasil, Denis Pietton, e do Brasil na França, José Bustani (este último foi lido pelo coordenador de Relações Internacionais da Cidade do Rio de Janeiro, Laudemar Aguiar).
O belo é o bem-estar do indivíduo
Durante o I Fórum Médico Brasil-França, o cirurgião plástico brasileiro Ivo Pitanguy e o pedo-psiquiatra francês Marcel Ruffo apresentaram suas visões sobre o belo. Pitanguy ressaltou o lado artístico e cultural, relacionado à harmonia e ao equilíbrio entre corpo, mente, ego e psique: “Muitas vezes, o paciente acredita que o cirurgião é como um pintor, escultor, alguém que pode fazer muito mais do que de fato podemos. Infelizmente, temos a limitação do corpo e da forma. Para nós, a beleza tem sentido mais amplo, relacionado ao bem-estar do indivíduo”. Ruffo teve como foco a problemática da autoimagem nos adolescentes, que frequentemente está relacionada a problemas de aceitação e desordens alimentares: “O importante é se aceitar. Para isso, em alguns casos, a cirurgia estética também pode ajudar”.
Para completar a manhã do primeiro dia do evento, diversos representantes de instituições brasileiras e francesas apresentaram algumas colaborações na área médica que já são estabelecidas entre os países, como os franceses Christian Bréchot (diretor do Instituto Pasteur), Alexander Eggermont (do Instituto Gustave Roussy) e os brasileiros Paulo Gadelha (presidente da Fundação Oswaldo Cruz) e Jorge Kalil (presidente do Instituto Butantan). Por fim, Patrick Netter, ex-presidente da Centre National de la Recherche Scientifique, da França (CNRS) e Glaucius Oliva, Presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), apresentaram algumas políticas que incentivam a formação de novas parcerias internacionais entre os países.
Reflexões sobre a epidemia de obesidade
A robótica na cirurgia bariátrica que reduz o estômago foi tema de Luiz Alfredo Vieira de Almeida durante a sessão sobre Obesidade – problema maior de saúde pública no mundo. A apresentação ocorreu na tarde do dia 24 de abril no I Fórum Médico Franco-Brasileiro realizado na Academia Nacional de Medicina. Partindo dos progressos alcançados na área desde as primeiras cirurgias bariátricas por laparoscopia até os dias atuais com a robótica e a visão em 3 D, Vieira resumiu os resultados comparativos entre pacientes operados pela técnica tradicional e aqueles que sofreram intervenção com o auxílio da robótica. No Brasil, são ainda poucos os centros que realizam a cirurgia através da robótica: apenas Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro, disse.
O francês Claude Jaffiol de Montpellier apresentou a cirurgia bariátrica com um sucesso indiscutível nos últimos anos, ocasionando a regressão de doenças associadas como a diabetes e a redução do uso de medicamentos pelos pacientes assim como os índices de mortalidade. Só no ano passado, disse, foram operados 44 mil franceses. Martine Laville, de Lyon, completou com dados sobre a epidemia de obesidade na França ao mostrar que 15% da população está acima do peso. Para Jaffiol, é importante agora aprofundar a discussão sobre a aplicação da cirurgia bariátrica nos casos de diabetes. “Falta escolher a melhor técnica, avaliar as consequências e riscos de uma cura rápida e procurar técnicas menos invasivas. Também é importante convencer os pacientes que se submeteram a esse tipo de cirurgia que devem estar sempre em acompanhamento, pois 50% desaparecem dos consultórios.”
Esta sessão ainda contou com a acadêmica brasileira Eliete Bouskela, professora da Uerj, que apresentou dados sobre sua linha de investigação na busca de métodos não invasivos para avaliação dos riscos cardiovasculares na obesidade através de uma abordagem translacional. Neste projeto, a acadêmica ressaltou os efeitos de dietas e exercícios físicos tanto em animais obesos com em pacientes acima do peso.
A francesa Marie-Aline Charles foi outra palestrante convidada. Ela abordou o efeito da nutrição precoce no desenvolvimento da obesidade e questionou se é possível prevenir a susceptibilidade de futuros obesos com a interferência na gestação de mulheres com sobrepeso. Outro convidado foi Walmir Coutinho, do Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia, que abordou a questão do medicamento Sibutramina, proibido em vários países após a pesquisa intitulada Scout (Sibutramine Cardiovascular Outcome Trial) realizada com cerca de 10 mil pacientes em 16 países e ainda utilizado no Brasil para a redução do peso. O cirurgião plástico Ivo Pitanguy encerrou a sessão com imagens sobre cirurgia de contorno corporal após obesidade.