Correlação entre Métodos de Imagem e a COVID-19 é debatida na ANM

04/06/2020

O que médicos e radiologistas veem nas imagens da Covid-19? E o que a inteligência artificial pode nos ajudar no diagnóstico do raio X e da tomografia computadorizada de tórax durante a epidemia? Alterações oftalmológicas, dermatológicas, abdominais, cardíacas foram abordadas na sessão científica da Academia Nacional de Medicina (ANM), no dia 04 de junho de 2020. A organização da sessão científica foi do acadêmico Giovanni Guido Cerri, da USP. O evento contou com cerca de 150 espectadores.

Aspectos oftalmológicos – Imagem oftalmológica e lesões da retina encontradas em pacientes com Covid foram temas apresentados pelo presidente da ANM, Rubens Belfort Jr. No estudo, publicado recentemente na prestigiada revista internacional The Lancet, foram analisados profissionais de saúde infectados e que não desenvolveram a forma grave da doença e, por isso, não estiveram internados no CTI assim como não utilizaram medicamentos complexos. Observados detalhadamente através da tomografia de coerência óptica foram confirmadas lesões na retina, mas que não provocaram nenhum problema que afetasse a visão. Os achados desta pesquisa podem contribuir para entender se as manifestações da retina são um reflexo do comprometimento do sistema nervoso central e vascular.

Em sua palestra, Belfort Jr. destacou ainda que alterações conjuntivas oculares são muito frequentes em casos da infecção pelo novo coronavírus, causando também sintomas primários como vermelhidão e mudança na mucosa dos olhos e conjuntivite.

Sistema nervoso central – Um dos grandes desafios no enfrentamento da pandemia do novo coronavírus é mapear e entender todas as manifestações que a infecção pode provocar, uma vez que a Covid-19 já demonstrou ser uma doença sistêmica. Entre os danos descobertos e com grande prejuízo ao organismo está o comprometimento do sistema nervoso central, ou seja, os problemas neurológicos causados pelo vírus.

Cefaleia, eventos vasculares como o AVC, crises convulsivas, despertar tardio, delírio e confusão mental, em casos mais graves foram alguns dos exemplos apresentados pela médica Maria da Graça Morais Martin, do Instituto de Radiologia, do Hospital das Clínicas, da Faculdade de Medicina da USP. A médica explica que essas alterações estão vinculadas a mecanismos multifatoriais, principalmente em pacientes do grupo de risco e críticos, além de estarem associados a eventos vasculares como endotelite e estados pró-trombóticos.

Durante o simpósio virtual da ANM “Os métodos de imagem e a Covid-19”, Maria da Graça demonstrou que a Covid-19 causa comprometimento neurais na substância branca do cérebro com sinais de doença desmielinizantes e leucopatia com micro hemorragias que podem deixar sequelas ou levar à morte.

Lesões cutâneas – O acadêmico Omar Lupi, Professor Adjunto de Dermatologia, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro foi outro dos expositores da sessão virtual sobre imagens na Covid-19.

Ele apresentou dados sobre estudo de 88 pacientes contaminados pela doença, tendo 18 deles desenvolvido algum tipo de manifestação cutânea, como erupções maculopapulosas, urticária e varicela-símile. Além disso, segundo ele, 1/3 dos profissionais de saúde apresentou queixas de acne, prurido facial e dermatites por conta do uso da máscara N95.

Omar Lupi ainda falou sobre a família coronavírus e seu potencial epidêmico, que está saltando de animais exóticos de maneira crescente e criando ameaças para espécie humana.

Plataforma de imagens radiológicas – Durante a mesma sessão científica da ANM, a médica Claudia da Costa Leite, do Departamento de Radiologia e Oncologia, da Faculdade de Medicina da USP apresentou a ferramenta RADVID19.

Segundo ela, a RADVID19 tem auxiliado no diagnóstico e definição de grau de comprometimento pulmonar dos pacientes suspeitos e confirmados com Covid-19 e explicou que a triagem dos pacientes, a indicação de internação em leito ou em UTI e no prognóstico de alta têm sido aperfeiçoadas.

O projeto é um ecossistema composto por órgão públicos, empresas, universidades, parceiros tecnológicos e conta com o apoio do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem.

Danos cardíacos – O comprometimento do pulmão e coração aumenta a mortalidade dos pacientes com Covid-19. A infecção pode induzir a injúria cardíaca ou exacerbar uma cardiopatia pré-existente. Entre os danos mais comuns observados, estão insuficiência cardíaca, miocardite, tromboses e arritmias.

O médico César Higa Nomura, dos Hospitais do Coração e das Clínicas, da Faculdade de Medicina da USP falou sobre um estudo com acompanhamento de 416 pacientes infectados pelo novo coronavírus e que apresentaram elevação dos níveis em um biomarcador que aponta casos de infarto e deve ser investigado, 20% destes tinham lesões miocárdicas. A mortalidade entre pacientes com injúria cardíaca e Covid é de 51,2%, enquanto em indivíduos sem comprometimento do coração fica em 4,5%.

Na apresentação, Nomura também ressaltou alguns métodos de imagem utilizados para investigação cardíaca como eletrocardiograma e ecocardiograma, mas reforçou a importância da tomografia de tórax, pois é útil para o diagnóstico de derrames, trombos e calcificações coronarianas. Além disso, citou o papel ressonância magnética cardíaca para casos suspeitos de miocardite ou para tomada de decisão sobre manejo do paciente.

PET-CT em covid-19 – Cerca de 47% dos pacientes com Covid-19 têm sintomas pulmonares e gastrointestinais e 9% apresentam apenas estes últimos sinais. Os exames de imagem auxiliam no acompanhamento das mais diversas manifestações com gravidade abdominal, incluindo casos de pancreatite, comprometimento hepático ou colecistite aguda.O assunto foi abordado pelo médico Publio Cesar Cavalcante Viana, do Instituto do Câncer e da Faculdade de Medicina da USP.

Felipe de Galiza, do Hospital Sírio Libanês, outro convidado do simpósio virtual, apresentou como o exame utilizado, anteriormente, para investigação oncológica e pesquisa de processos inflamatório como PET-CT, têm sido importantes para acompanhar pacientes com Covid-19. Segundo Galizza, o PET-CT demonstra sinais da atividade inflamatória pulmonar relacionadas ao acometimento causado pela infecção pelo vírus, além de apontar achados sobre a resposta imune do organismo.

O exame de PET-CT tem sido usado para acompanhar pacientes com maior tempo de sintomas da Covid-19, para monitoramento dos efeitos do tratamento e para a investigação adicional de complicações relacionadas à doença. Reforçando o seu potencial como ferramenta de análise do processo de inflação causado pelo SARS-COV2 o que, consequentemente, pode ser um adjuvante ao tratamento.

Virtópsia nas autópsias por Covid-19 – Os aspectos de tomografia computadorizada in vivo e pós-morte foram abordados na palestra do médico Marcio Valente Yamada Sawamura, do Instituto de Radiologia (Inrad), do Hospital das Clínicas, da Faculdade de Medicina da USP. Sawamura falou sobre a virtópsia, ou autópsia virtual, que utiliza a tomografia computadorizada na sala da autópsia como um método minimamente invasivo e acrescenta informações importantes à autópsia dos óbitos por Covid-19.

Exames em áreas remotas – O médico Antônio Sérgio Marcelino, do hospital Sírio Libanês também participou do evento para mostrar as facilidades da ultrassonografia torácica como método de avaliação da Covid-19. O equipamento levado à beira do leito contribui para obtenção, de forma rápida, o resultado que deve ser complementar ao exame clínico. Com isso, análises epidemiológicas e sistemáticas da Covid-19 em áreas remotas do país podem ser incrementadas.

As sessões científicas estão disponível no canal da Academia Nacional de Medicina no YouTube em https://bit.ly/3eByjYS.

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