Parece história do Mágico de Oz, mas o coração artificial já é uma realidade médica, indicado a pacientes que não podem ser submetidos a um transplante, ou que não têm mais tempo para esperar por ele. Hoje, cerca de 4 mil norte-americanos já vivem com uma verdadeira bomba hidráulica implantada dentro do peito. No Brasil, são apenas 4 – todos na cidade do Rio de Janeiro. O cirurgião do Hospital Pró-cardíaco, Alexandre Siciliano, é pioneiro no desenvolvimento da tecnologia no país e fez uma apresentação sobre o tema na sessão da ANM de 19 de setembro.
O cirurgião explicou que existem diversos tipos de dispositivos cardíacos artificiais, que auxiliam no batimento cardíaco de diversas formas, desde uma crise aguda até comprometimentos mais avançados. Em casos de grave falência, pode ser implantada uma prótese de válvula ou então uma bomba que fica do lado de fora do corpo. Após determinado tempo (por volta de dias ou semanas), é avaliado se o coração do paciente conseguiu se recuperar. Quando os danos ao coração são irreversíveis, pode ser considerada a possibilidade de se implantar uma bomba artificial acoplada ao coração disfuncional. “Hoje, após 12 anos de aperfeiçoamento da tecnologia, a taxa de sobrevivência chega a 90%, equiparada à do transplante”, comemora.
Porém, o dispositivo fica conectado por um cabo a uma bateria externa que pesa aproximadamente 800 gramas e precisa ser recarregada a cada quatro horas. Portanto, o paciente não pode mergulhar, precisa tomar cuidados no banho e a bateria restringe seus movimentos, além de se tornar uma porta aberta para infecções e facilitar a formação de trombos, que podem entupir artérias. Além disso, o aparelho ainda não está disponível no Brasil e só pode ser importado pelo próprio paciente, com autorização da Anvisa. O preço nos EUA varia de US$ 70 mil a US$ 100 mil, mas Siciliano acha que o valor deve cair nos próximos anos.
No entanto, o coração artificial não provoca rejeição no organismo e, para alguns pacientes é a única solução possível. “Tenho um paciente que ficou muito tempo esperando por um transplante e hoje, com o dispositivo, ele não quer mais transplantar, para evitar o risco de uma nova cirurgia e dos imunossupressores”, completa. “Porém, é preciso rever a formação dos nossos médicos. O futuro da cirurgia cardíaca deve considerar novas habilidades”.