A depressão é um termo usado para descrever uma variedade de sintomas. Seu sintoma central é o humor deprimido, que se caracteriza por sentir-se triste, vazio ou sem esperança. A depressão é também caracterizada por falta de energia, sentimentos de culpa e capacidade diminuída de se concentrar. Associado a esses sintomas também podem estar presentes a falta de motivação e a perda de interesse em atividades prazerosas. Algumas vezes, mesmo coisas do dia a dia se tornam difíceis, como ir ao trabalho, pagar contas, cuidar da higiene pessoal, sair da cama ou deixar a casa.
O padrão de sono pode estar alterado. Por exemplo, uma pessoa deprimida pode acordar muito cedo, ter dificuldade de adormecer ou ainda acordar no meio da noite. A atividade sexual pode também ficar prejudicada e ser evitada. O apetite pode diminuir ou aumentar levando à perda ou ganho de peso. Algumas vezes, a depressão é uma reação a experiências de vida desagradáveis, como a morte de uma pessoa próxima ou a perda de um emprego. Outras vezes, a depressão pode aparecer sem ser convidada ou sem uma razão clara e ficar por um longo período de tempo.
A depressão é frequente na população. Um grande estudo demonstrou que um total de 14,2% dos adultos sofre de depressão no Brasil. A prevalência é duas vezes maior em mulheres que em homens, sendo que a prevalência em indivíduos de 18 a 29 anos é três vezes maior do que a prevalência em indivíduos acima dos 60 anos. O transtorno depressivo está listado entre as cinco principais causas de anos vividos com incapacidade em todo o mundo. Isso se deve a sua alta prevalência e recorrência. É importante notar que a Organização Mundial de Saúde estima que menos da metade das pessoas com depressão têm acesso ao tratamento.
Um passo importante para identificar a depressão é diferenciá-la da tristeza. A tristeza é uma das emoções básicas descritas e é um estado emocional normal e experimentada por todos nós. Quando ativada, a tristeza tem a função de nos ajudar a refletir sobre nossas emoções, pensamentos e comportamentos, impulsionando-nos em direção a mudanças.
A tristeza é importante para reavaliarmos situações que não estão funcionando de maneira adequada e seguir um novo caminho. É comum ficarmos mais pensativos e reclusos durante a tristeza para que possamos reavaliar algumas experiências de vida. A tristeza é uma experiência emocional passageira e não leva, em geral, a prejuízos na vida de um indivíduo. Entretanto, quando a tristeza é frequente e acompanhada de outros sintomas depressivos, ela pode nos levar a prejuízos no trabalho e na vida pessoal e, em alguns casos, ser o prenúncio de um episódio depressivo.
Depois que entendemos o que é depressão e o que é tristeza, gostaria de compartilhar algumas dicas de como lidar com os sintomas depressivos durante o momento atual. Com a pandemia causada pelo novo coronavírus, várias atividades, tanto laborais como de lazer, estão sendo restringidas. Tais medidas são importantes para reduzir o crescimento do número de casos. Alguns pacientes com depressão, entretanto, podem se sentir preocupados com a alteração da sua rotina e redução do contato social. O receio é a piora (ou surgimento) dos sintomas depressivos com a redução das atividades. Além disso, o receio de contrair a doença, a perda de familiares e amigos e a crise financeira também podem agravar os sintomas de saúde mental. Uma população que está sob maior risco para depressão é a dos profissionais de saúde da linha de frente. Estudos científicos têm apresentado aumento da depressão e ansiedade entre esses profissionais durante a pandemia.
Algumas dicas são interessantes para prevenir e lidar com sintomas depressivos nesse momento. A primeira delas é agir no comportamento. A inclusão de atividades, sobretudo as prazerosas, na rotina, ajudam a melhorar e prevenir os sintomas depressivos. Durante esse período de epidemia o ideal é investir em atividades que possam ser realizadas em casa. Alguns exemplos são ler um livro, fazer algum trabalho manual, trabalhar no seu jardim particular, assistir um filme, brincar com jogos de tabuleiro ou on-line, organizar o armário ou o escritório, aprender um instrumento musical, cozinhar ou até mesmo fazer reparos em casa. Além disso, reservar um horário para cuidar de si e manter um padrão de sono regular também são hábitos importantes.
Uma outra dica é, no início do dia, construir uma “lista de afazeres” para organizar a rotina. Escolha atividades laborais que te dão um senso de realização pessoal. Não esqueça também de preencher com atividades de lazer, como fazer um encontro com amigos remotamente através de uma plataforma on-line.
Está também comprovada a eficácia da atividade física na prevenção e tratamento dos sintomas depressivos. Algumas academias disponibilizaram programas por meio de aplicativos para atividades em casa. É importante, entretanto, que essas orientações sejam realizadas por profissionais. Outra dica interessante para combater os sintomas ansiosos que muitas vezes caminham juntos com os sintomas depressivos são as técnicas de respiração diafragmática, relaxamento muscular, meditação e mindfulness, que podem ser orientadas on-line por profissionais. Tenha em mente também que ficar excessivamente atento a noticiários, sites, redes sociais e até mesmo grupos de Whatsapp pode elevar a ansiedade a um nível prejudicial. Sugerimos, portanto, que você escolha um momento do dia (ou no máximo dois) para se informar acerca do novo coronavírus.
Finalmente, é importante ressaltar que as consultas com psiquiatras, médicos e psicólogos podem ser realizadas de maneira on-line. Portanto, dentro do possível, é interessante manter os atendimentos, tanto clínicos como os de psicoterapia, através de plataformas on-line.
Prof. Dr. Ives Cavalcante Passos
Professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Membro do Programa Jovens Lideranças Médicas 2016-2021
Sob a tutoria do Acad. Antonio Egídio Nardi