Rastreio e prevenção primária, genética, biologia molecular, drogas alvo, segurança e estética no tratamento cirúrgico, a importância dos grupos de pacientes e o papel da imprensa foram os temas que estiveram na pauta do simpósio online “Atualização em câncer de mama”, promovido pela Academia Nacional de Medicina, no dia 8 de outubro de 2020.
“É importante prestigiar as questões sobre prevenção, diagnóstico e tratamento e as fontes de comunicação necessárias para instruir e educar”, declarou na abertura do encontro, o presidente da Academia Nacional de Medicina (ANM), Rubens Belfort Jr. O simpósio teve a coordenação dos acadêmicos Maurício Magalhães Costa e Paulo Hoff.
“Combater o sedentarismo, com a prática de atividade física regular; optar por uma alimentação saudável para o controle da obesidade; consumir com moderação bebidas alcoólicas e tentar diminuir a defasagem entre o rastreio, diagnóstico e o tratamento são medidas importantes de prevenção primária para combater o câncer de mama”, explicou o médico Luiz Henrique Gebrim, do Hospital Pérola Byington de São Paulo.
A Síndrome Li-Fraumeni – uma predisposição rara em mulheres jovens para desenvolver algum tipo de câncer – foi abordada pela professora Maria Isabel Achatz, do Hospital Sírio e Libanês (SP). Segundo a pesquisadora, cerca de 50% das portadoras dessa síndrome têm chances de desenvolver tumores antes dos 40 anos de idade, o que significa 1% da população mundial. Já 90% desse grupo devem desenvolver câncer até 60 anos. A professora explicou ainda que 47% das portadoras dessa síndrome que praticam aleitamento materno, por pelo menos sete meses, não desenvolvem a doença.
A oncoplastia também esteve no centro das discussões. O médico Vilmar Marques, da Santa Casa de São Paulo e Presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia ressaltou a preocupação que o cirurgião atualmente deve ter com o domínio de várias técnicas cirúrgicas para entregar a paciente um bom resultado estético também. “As mutilações e deformidades da mama após a retirada do tumor nas cirurgias convencionais hoje podem ser evitadas através de várias técnicas.”
“Como conseguimos diminuir o abismo entre o SUS e a saúde suplementar no tratamento do câncer? Como ampliar o acesso as terapêuticas com equidade? Não adianta termos drogas de altíssimo custo que o sistema público e as operadoras de saúde não possam absorver. A indústria farmacêutica também precisa colaborar, reduzindo custos de medicamentos, que muitas vezes vêm do mercado americano e essa conta não fecha. Na minha visão, temos que fazer mais parcerias público e privado para ampliar o acesso a novas drogas e terapêuticas para combater o câncer,” enfatizou o médico Gilberto Amorim, do Onco D’Or, do Rio de Janeiro, na palestra “terapia com drogas alvo. A cura é possível?”
Informação de qualidade é poder
A fundadora do Instituto Oncoguia, de São Paulo, Luciana Holtz, fez um breve relato sobre a atuação da ONG, que tem como principal objetivo oferecer informação de qualidade para pessoas com câncer. “O que realmente ajuda e faz diferença na vida de um paciente que está enfrentando um diagnóstico de câncer? A doença ainda é muito marcada de estigma e medo.”
Para Holtz, o cenário não é animador, segundo ela, a previsão é de 660 mil novos casos por ano. “Uma paciente com câncer de mama gasta muito tempo na fila do sistema para fazer o diagnóstico e iniciar o tratamento. E não é um caminho iluminado. É um percurso com muitas dúvidas e medo. Nosso desafio é minimizar a desigualdade e garantir que essa mulher não tenha dor física e emocional”.
A ONG tem vários canais de comunicação com a população e realiza atividades multidisciplinares, além de assessoria e aconselhamento jurídico aos portadores da doença.
“O desafio na cobertura jornalística do câncer é oferecer informação de qualidade e que as pessoas possam entender, lembrando de todos os problemas educacionais e de desigualdade do nosso país”, alertou a jornalista Ana Lúcia Azevedo, do jornal O Globo, durante os debate do simpósio. A repórter especial na área de saúde e ciência também destacou a importância de se comunicar bem a prevenção e os novos tratamentos, mas sem levantar falsas esperanças na população.
“O crescimento das redes sociais abriu canais importantes de comunicação com a sociedade mas, em contrapartida, tivemos um crescimento das fakes news. E, a área de saúde, em especial, é muito prejudicada com falsas notícias. A mídia precisa estar muito atenta e apurar com rigor, mas com isso, perdemos um tempo precioso para desmentir. Tempo que poderia ser investido para gerar mais e mais informação de qualidade”, desabafou a jornalista.
A jornalista Natalia Cuminale, diretora do portal Futuro da Saúde, foi outra convidada para debater o assunto. Cuminale falou sobre a importância da interlocução com médicos, ONGs, academias e entidades de classe da área de saúde para que o jornalista possa levar informação de qualidade para população, uma vez que a notícia impacta a vida das pessoas. Ela também tocou num ponto pouco discutido “precisamos falar sobre custos.
– No Brasil, as pessoas não sabem quanto custa um exame, uma internação. Ninguém fala sobre isso. O papel da imprensa também é de colocar os pingos nos ‘is’. Como vamos engajar a população sem explicar como os sistemas funcionam, tanto no SUS como na saúde suplementar. Precisamos abrir o leque e falar sobre custos”, finalizou.
Nos comentários finais, o presidente da ANM, Rubens Belfort Jr, destacou que “informação de qualidade e relevância social estão em consonância com o compromisso da Academia e, por isso, capitaneado pelo acadêmico Mauricio Magalhães, acabamos de criar o programa “ANM perto de você”. Lá, teremos um canal online permanente de comunicação com a sociedade”, finalizou.
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