Mais de 140 expectadores participaram da sessão virtual promovida pelas Academias de Medicina do Brasil e do Reino Unido, no dia 16 de abril de 2020, para conhecer as ações de cada nação no enfrentamento da Covid-19. Além dos dois países, representantes do Chile, Argentina, Venezuela e Espanha também estavam conectados. No encontro, a importância da colaboração internacional no contexto de uma crise global de saúde. A vice-presidente internacional da Academia de Ciências Médicas do Reino Unido, professora Dame Anne Johnson, falou sobre a necessidade de buscar diálogo com os colegas ao redor do mundo e de trabalharem juntos de forma multidisciplinar.
O professor Mervyn Singer, da University College London, foi outro dos convidados. Em sua apresentação, evidenciou a relevância das colaborações com equipes médicas da China e Itália, países que foram atingidos antes pela atual pandemia, visando entender protocolos médicos adotados com os pacientes tanto no que tange à medicação quanto ao uso de equipamentos de suporte ventilatório.
Parcerias internacionais também foram destaque na fala da professora Maria Zambon, da Public Health England, ao apontar como o Reino Unido conseguiu produzir testes mais rapidamente devido à cooperação com a Alemanha e Hong Kong. Maria Zambon frisou os benefícios da articulação permanente dentro da comunidade científica internacional.
A transmissão viral da Covid-19 a partir da perspectiva comportamental foi o tema da professora Susan Michie, da University College London, em apresentação na mesma sessão científica. Susan é membro do Grupo Consultivo Científico em Emergência, que fornece aconselhamento científico ao governo britânico sobre o gerenciamento da pandemia de Covid-19. Michie descreveu abordagens e estratégias que devem ser adotadas no sentido de orientar a população quanto às medidas de prevenção de contágio e mitigação da crise.
Comunicação clara com a população, que deve ter amplo acesso às informações sobre a doença e as formas de contágio e prevenção, foram as principais recomendações de Michie. Além do conhecimento, é fundamental que as pessoas se sintam motivadas, com mensagens positivas, a aderir às recomendações dos órgãos de saúde, mas é fundamental que haja condições para essa adesão. Celebrar e parabenizar as ações daqueles que estão cooperando com o esforço coletivo e os resultados obtidos também contribuem com o sucesso das políticas adotadas.
Impacto das desigualdades – Pelo Brasil, participaram desta sessão, o acadêmico Paulo Buss e o professor emérito da Universidade Federal da Bahia e também pesquisador da Fiocruz/Bahia, Maurício Barreto.
As curvas de evolução do contágio pelo novo coronavírus, as desigualdades na distribuição dos serviços de saúde, água e saneamento, os impactos sociais da crise no Brasil, e as estratégias para sua contenção foram temas amplamente discutidos por ambos os convidados brasileiros.
Para além da escassez de recursos materiais como respiradores e da distribuição desigual, entre as regiões brasileiras, de leitos de UTI, Maurício destacou a diminuição, verificada nos últimos anos, do percentual de médicos com treinamento em terapia intensiva, bem como a concentração desses profissionais na região Sudeste, sobretudo em São Paulo, onde estão quase 30% desses especialistas.
Buss ressaltou a população invisível, os moradores de rua e os mais desassistidos nas comunidades de baixa renda e, apesar do SUS oferecer acesso universal, destacou que a falta de saneamento básico e água tratada serão grandes entraves para barrar a explosão da epidemia no país. Buss alertou ainda sobre o impacto da decisão do Governo de Donald Trump de suspender a doação de recursos financeiros pelos Estados Unidos para a Organização Mundial da Saúde.
Deste encontro, uma declaração conjunta da Academia Nacional de Medicina e da UK Academy of Medical Sciences sobre Covid-19. Para acessar o documento na íntegra, o link é https://bit.ly/37IruTu.
As sessões científicas estão disponíveis no canal da Academia Nacional de Medicina no YouTube em https://bit.ly/3eByjYS.