A Academia Nacional de Medicina realizou o Simpósio Avanços em Cirurgia Torácica na quinta-feira (21), sob organização dos Acadêmicos Silvano Raia, Rui Haddad, José de Jesus Camargo e Rossano Fiorelli, e coordenação do Professor da USP, Dr. Paulo Pêgo Fernandes. Acadêmicos e convidados apresentaram palestras sobre a especialidade, que teve como um de seus principais precursores no Brasil o saudoso Acadêmico Jesse Pandolpho Teixeira, que completa seu centenário natalício este ano.
Dando início ao evento, o Dr. Carlos Eduardo Teixeira Lima, professor de Cirurgia Torácica da UERJ, apresentou palestra intitulada “Alternativas no Tratamento dos Derrames Pleurais Neoplásicos Recidivantes”. Ressaltou como abordagem terapêutica mais frequente a Pleurodese, destacando seu caráter menos incisivo. Segundo ele, os agentes esclerosantes indicados para aplicação da técnica são talco, o nitrato de prata e citocinas proliferativas, como Povidone-Iodine. Analisando os estudos apresentados, concluiu que o uso do talco na técnica apresenta bons resultados, com baixos índices de internação após cinco semanas, sendo, portanto, o agente esclerosante mais indicado.
O Dr. Carlos Gil Ferreira, Presidente do Instituto Oncoclínicas, versou sobre o tema “Tratamento Integrado do Câncer de Pulmão: Onde Estamos?”, na qual discorreu sobre questões relacionadas à incorporação de tecnologias, abordagem integrada multidisciplinar e a relação translacional biológica e clínica no tratamento da doença. O cirurgião apresentou casos clínicos diversos para demonstrar as diferentes e mais indicadas técnicas operatórias para cada paciente.
Ao concluir sua palestra, ressaltou a importância da re-biópsia no tratamento da neoplasia. Segundo ele, o incentivo à ciência no país e investimentos para integrar novas tecnologias de forma consciente são um importante passo para a evolução do tratamento cirúrgico. Finalizou afirmando que alguns dos desafios e perspectivas para a especialidades estão relacionados ao estímulo a políticas de medicina de precisão e abordagem integrada.
Abordando questões sobre Nódulos Pulmonares e seu tratamento, o médico da American Medical City, Dr. Anderson Nassar discutiu as principais etapas da decisão terapêutica em cada tipo de carcinoma. Segundo ele, os nódulos são os mais comuns entre os pacientes com risco de câncer e representam maior índice de mortalidade, com 25% dos pacientes em relação a outros tipos no Brasil. Dr. Nassar apresentou o guideline do procedimento indicado para carcinomas menores que oito milímetros, detalhou os riscos de cada abordagem e ressaltou a importância da decisão junto ao paciente.
Em seguida, a Dra. Maria Morard (UNIRIO), proferiu a palestra “Timectomia nas Patologias Tímicas”. A professora abordou principalmente o tratamento da miastenia grave, que representa a fraqueza e a fadiga rápida dos músculos que estão sob controle voluntário. Apresentando técnicas cirúrgicas indicadas para cada tipo de doença a especialista demonstrou que os melhores resultados do tratamento ocorrem em pacientes miectomizados, ou seja, que tiveram o músculo, ou parte dele, retirados.
Versando sobre o tema “Evolução da Cirurgia Traqueal”, o professor da UFF, Luiz Felippe Judice, apresentou um breve histórico da especialidade e os principais nomes que contribuíram para seus avanços. O médico listou algumas das técnicas disponíveis para o tratamento, entre elas ressecção, estenose e alargamento da traqueia. Por fim, Dr. Judice explicou a utilização de prótese biológica da traqueia, ressaltando os desafios presentes em sua reconstrução e as perspectivas para o avanço do tratamento, destacando a contribuição da microcirurgia.
O Acadêmico Fábio Jatene palestrou sobre “Tratamento Cirúrgico da Embolia Pulmonar Crônica”, apresentando alguns casos clínicos para demonstrar os métodos indicados de tratamento. Segundo ele, o recurso utilizado para pacientes com contraindicações para o uso de medicamentos anticoagulantes e nas recidivas é a implantação de filtro na veia cava, afim de evitar que novos coágulos atinjam os pulmões. O Acadêmico explicou ainda a embolectomia (retirada do êmbolo pulmonar através de cateter) e apontou os casos indicados para o tratamento, realizado apenas nos quadros de embolia pulmonar maciça.
O Acadêmico Rossano Fiorelli, abordou o tema “Manejo dos Traumas Torácicos”, afirmando que traumatismos torácicos representam a terceira maior causa de morte mundial e a primeira entre pessoas abaixo dos 40 anos de idade. De acordo com ele, as lesões torácicas contribuem para 25% das mortes decorrentes de trauma como causa direta e 50% como causa indireta.
Entre os mecanismos de lesão, o especialista apontou os principais como, aceleração ou desaceleração (acidente automobilístico), compressão corporal (esmagamento) e impacto de alta velocidade (feridas por arma de fogo). Ele explicou a fisiopatologia dos tipos de trauma e indicou os procedimentos referentes a exames primários, avaliações e atendimentos iniciais. Por fim, o Acadêmico apresentou os avanços contemporâneos associados a tecnologias em imagem (ultrassonografia, tomografia helicoidal e ecocardiograma transesofágico) e técnicas operatórias (tractotomia pulmonar, sutura mecânica de coração, “stent” traqueal, “stent” endovascular e cirurgia endovascular).
Na segunda parte do evento, o Acadêmico José de Jesus Camargo abordou “Transplante Pulmonar”. Segundo ele, até março desse ano, já foram realizados cerca de 1130 transplantes de pulmão no Brasil, principalmente em São Paulo, Fortaleza e Porto Alegre. O cirurgião apresentou índices de sobrevida e procedimentos no manejo pós-operatório.
A respeito dos desafios em transplantes intervivos de pulmão, o Acadêmico versou sobre a perda funcional de cerca de 17% em doadores normais, o crescimento de órgãos adultos em pacientes pediátricos e o risco permanente de morbi-mortalidade do doador. Em sua conclusão, Dr. José de Jesus Camargo ressaltou a importância da doação de órgãos e a capacidade que a cirurgia tem de transformar vidas.
Por fim, o professor da Universidade de São Paulo, Dr. Paulo Pêgo Fernandes, apresentou palestra intitulada “Análise Crítica e Perspectivas do Uso de Robô em Cirurgia Torácica”. O cirurgião demonstrou casos em que o método foi utilizado através de shunt ou cateter, exemplificando a execução da técnica operatória para cada caso em vídeo.
Em sua conclusão, o médico apontou os principais avanços alcançados com o uso da robótica, a amplitude das perspectivas futuras e a atuação do robô na cirurgia torácica. Ressaltou a importância do treinamento adequado do profissional, seleção cuidadosa do paciente e desenvolvimento de programas robóticos baseados em equipes.