A metástase é quando o câncer se dissemina além do órgão no qual começou para outras partes do corpo. Para o câncer metastático não há cura, mas os cientistas e médicos procuram tratamentos que o transformem em doença crônica. Os avanços para o tratamento das metastáses foi o assunto da última sessão científica, promovida pela Academia Nacional de Medicina, no dia 26 de agosto. À frente da organização do evento, os acadêmicos José de Jesus Camargo, presidente da Secção de Cirurgia da ANM, e Rossano Fiorelli, secretário da Secção de Cirurgia. O encontro contou com a abertura do presidente da ANM, o acadêmico Rubens Belfort Jr.
O acadêmico Paulo Hoff abordou diversos desses progressos no tratamento sistêmico das metástases. Um exemplo é o uso de drogas que bloqueiam o crescimento e a disseminação das células tumorais pela interferência em moléculas específicas envolvida no processo da biologia do câncer, independente de qual órgão primário foi atingido pela doença. O oncologista conceituou esse tipo de abordagem como terapia agnóstica. Hoff explicou que, no passado, o tratamento era direcionado ao tumor e que, atualmente, pode ir muito além e focar em alvos moleculares, expandindo-o para outros órgãos do indivíduo,e não se restringindo a localização primária da neoplasia.
As opções de tratamento para metástases em câncer englobam deste opções locais como cirurgias e terapias ablativas com radiofrequência, microndas, crioterapia, radiocirurgia, entre outras e, quando as metástases são sistêmicas, as opções são quimioterapia, terapia alvo-molecular, anticorpos monoclonais, terapia personalizada e terapia celular. Segundo Hoff, com o advento da pesquisa translacional em oncologia, o câncer deixou de ser uma doença de um único órgão para ser tratado de uma forma mais abrangente, incluindo o olhar do médico para o paciente de forma integral.
A imunoterapia é uma das formas de tratamento das metástases em câncer. Ela estimula o sistema imune e visa bloquear mecanismos de progressão tumoral. Hoff traçou uma linha do tempo, contando sobre os avanços desde o final do século XIX, com as primeiras descobertas a partir da injeção de produtos bacterianos em tumores inoperáveis; até os dias atuais com o uso de medicamentos que melhoraram o prognóstico de alguns tipos.
Outra opção, segundo o oncologista, é a terapia celular adaptativa, que utiliza as células T, naturais na defesa do organismo, e a criação das células CAR-T, geneticamente manipulada, no sentido de reconhecer antígenos e auxiliar o organismo a aumentar a resposta contra o tumor.
Pesquisador do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, Roger Chammas, falou sobre a patogenia das metástases e os fatores envolvidos na gênese, definiu a metástase como o nome de um processo complexo, e explicou que, dentro desse processo, a célula cancerígena ou um conjunto de células se move, entra na corrente sanguínea, ou no sistema linfático, e se espalha, implantando-se em outro órgão.
“Sem dúvida a metástase representa um grande desafio para o controle do câncer”, sentenciou o acadêmico Giovani Cerri que, junto com o médico Bruno Hochhegger, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, discorreram sobre o relevante papel do diagnóstico por imagem na detecção diagnóstica, estadiamento e monitoramento do câncer.
“Os exames de imagem são as ferramentas iniciais na avaliação dos pacientes com câncer. A tomografia computadorizada, a ressonância magnética e o Pet-CT, por exemplo, são os principais exames realizados que fornecem dados para uma decisão terapêutica mais assertiva”, informou Cerri.
O acadêmico José de Jesus Camargo apresentou três casos para ilustrar a discussão com os especialistas convidados. Foram eles: lesão hepática no pós-operatório tardio de câncer de pulmão; tumores sincrônicos de cólon e pulmão e câncer de pulmão com metástase cerebral. Estes temas foram arguidos, respectivamente, com os acadêmicos Octávio Vaz e Raul Cutait e o médico Ramon Rami Porta, do Hospital Universitari Mutua Terrassa, em Barcelona, na Espanha. Numa espécie de sabatina em tempo real com os experts, Camargo indagou com os debatedores sobre as abordagens prioritárias; as condutas terapêuticas; o momento das intervenções cirúrgicas; as possibilidades de combinação de tratamentos para os casos de metástases apresentados, entre outras questões.
O médico Tiago Noguchi Machuca, da University of Florida College of Medicine, dos Estados Unidos, foi outro convidado do evento e, na ocasião, apresentou caso sobre paciente oligometastático. Ao contrário do câncer que se espalha amplamente, o câncer oligometastático pode se espalhar com menos eficiência ou para apenas alguns tipos de tecidos. Segundo a literatura médica, tratar esses tumores isolados com cirurgia ou radiação pode ser curativo.
Diagnóstico, propedêutica e alternativas terapêuticas das metástases cerebrais foram debatidas pelas médicas Gabriela de Almeida Lima, do Instituto Estadual do Cérebro do Rio de Janeiro, e Clarissa Baldotto, do Instituto Nacional de Câncer (Inca). Segundo Almeida Lima, as metástases cerebrais ocupam um importante papel nos tumores cerebrais, sendo responsável por cerca de 50% em adultos.
O acadêmico Paulo Hoff sintetizou que o importante é dar a quem precisa, o que funciona. E, quando não é possível eliminar completamente a doença, a busca é pela estabilização, tornando o câncer uma doença crônica e aumentando a sobrevida dos pacientes.
Para quem quiser, assistir a live, os links são:
Parte I – https://www.anm.org.br/simposio-atualizacao-em-metastases-26-de-agosto-de-2021-parte-i/
Parte II – https://www.anm.org.br/simposio-atualizacao-em-metastases-26-de-agosto-de-2021-parte-ii/