Com o tema “Espiritualidade e Saúde: A Visão Científica, Religiosa e Filosófica”, a Academia Nacional de Medicina fechou o ano de 2016 com mais um Simpósio de grande importância. A organização do Simpósio ficou a cargo do Acadêmico e psiquiatra Jorge Alberto Costa e Silva, que convidou autoridades religiosas e o filósofo João Ricardo Moderno para abordarem as mais diversas perspectivas sobre o assunto. Excepcionalmente, a Sessão foi presidida pelo Acadêmico José Galvão Alves, mediante ausência justificada do Presidente Francisco Sampaio.
O bispo Dom Antônio Augusto Dias Duarte, Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro, abordou a visão do Cristianismo, destacando que a manutenção de uma boa saúde também pode ser considerada uma prática religiosa. O Bispo, que também é Médico pediatra formado pela Universidade de São Paulo, abordou questões como a Bioética, ressaltando que por ser um ramo bem específico da ética natural e da moral cristã, utiliza-se dos critérios morais, ou seja, os princípios básicos da conduta humana.
Dom Antônio Augusto Dias Duarte citou Santo Agostinho, que afirmava que “o doente não necessariamente é um enfermo”. Na sua explicação, chamou atenção para o fato de que, mais do que analisar as patologias, é necessário ter a capacidade de analisar se o paciente possui um “eu” saudável – o enfermo é aquele que é debilitado no corpo e na alma e que, portanto, necessita de cuidados que vão além da Medicina clássica, chamando atenção para o fato de que, mais do que uma relação entre médico e paciente, é necessário que se estabeleça a relação entre dois seres humanos.
A visão do Judaísmo foi apresentada pelo rabino Abraham Dahab, que salientou que, para o Judaísmo, a Espiritualidade não é um meio, mas uma finalidade a ser buscada. Além deste fato, destacou que, no Judaísmo, é possível observar que o caminho para a Espiritualidade é trilhado por meio dos preceitos, que muitas vezes estão associados com temas de Saúde. Como exemplo deste fato, destacou que um destes preceitos prega que a primeira coisa a se fazer ao acordar é lavar as mãos.
Na conclusão de sua palestra, o rabino destacou que os ensinamentos do Torá prescrevem que os homens devem cuidar de suas almas para Deus e que, para o Judaísmo, alma e corpo fazem parte do mesmo plano – sendo assim, só é possível alcançar a Espiritualidade por meio do cuidado com a Saúde.
Abordando a visão do Espiritismo, o espírita Dirceu Machado abordou casos de manifestações físicas de moléstias da mente, onde, apesar das manifestações sintomatológicas, os exames especializados não comprovavam a existência de nenhuma patologia. Destacou que existem duas categorias de “sofrimentos”: aqueles de origem espiritual e aqueles de origem material – para este último, ressaltou a necessidade de um tratamento que una o tratamento médico e o tratamento espiritual.
Ao final de sua apresentação, Dirceu Machado discorreu sobre a prática do passe, que consiste no ato de utilizar o movimento das mãos repetidas vezes para magnetizar ou curar pela força mediúnica. A aplicação do passe busca auxiliar a recuperação de desequilíbrios físicos e psíquicos, substituindo os fluidos patogênicos por fluidos benéficos, equilibrando o funcionamento de células e tecidos e promovendo a harmonização do funcionamento de estruturas neurológicas que garantem o estado de lucidez mental e intelectual do indivíduo.
Em seguida, o Monge Alcio Braz Eido Soho abordou a visão do Budismo, chamando atenção para o fato de que há uma diferença entre o que é considerado “saúde” do ponto de vista médico e o que é considerado saúde do ponto de vista espiritual; deve-se lembrar, portanto, que o adepto de uma prática espiritual não é isento de padecer de alguma enfermidade. Segundo o monge, a prática budista encara a Saúde como uma forma de libertação dos sofrimentos humanos.
Ao final de sua conferência, o monge abordou a prática do “mindfulness”, meditação desenvolvida por meio de estudos experimentais do médico John Kabat-Zinn, fundador e diretor da Stress Reduction Clinic, no Centro Médico da Universidade do Massachusetts. A prática propõe uma nova forma de interação mais consciente com elementos do cotidiano moderno e com aspectos do próprio corpo, como a respiração.
Abordando a Interpretação Filosófica, o Prof. João Ricardo Moderno destacou que a Filosofia tem, desde seus primórdios, a defesa da vida como princípio Ético de suas práticas. Indicou, em seguida, o século XIX como um momento de ruptura, onde diversas correntes teóricas da filosofia fragmentaram a defesa da Saúde e da vida de acordo com seus parâmetros, como, por exemplo, a raça.
O Acadêmico e organizador do Simpósio Jorge Alberto Costa apresentou conferência intitulada “Espiritualidade e Saúde: A Visão da Neurociência”, na qual, por meio de suas próprias experiências pessoais, buscou estabelecer vínculos entre ciência, neurociência e espiritualidade. O Acadêmico associou experiências em geral creditadas unicamente ao âmbito espiritual a alterações significativas nas estruturas e sistemas do corpo humano. Apresentou também estudos médicos que relataram que certas áreas do cérebro humano estão ligadas à espiritualidade e que alterações nessas estruturas podem influenciar na propensão a experiências espirituais.
Na conclusão de sua palestra, afirmou que o pensamento cartesiano – com sua clara separação entre mente e matéria – a sociedade moderna, inclusive o conceito de Saúde. Destacou que Médicos em geral se limitam a desenvolver exclusivamente suas capacidades técnicas, evitando se envolver com o estado geral de saúde do paciente, que também diz respeito a questões como o estado emocional ou afetivo do paciente.