Aconteceu na última quinta-feira (12), na Academia Nacional de Medicina, o Simpósio “Câncer de Próstata (CaP) ”, sob organização dos Acadêmicos José Carlos do Valle, Fernando Vaz e Ronaldo Damião. Além dos Acadêmicos, os Drs. Paulo Martins Rodrigues, Lisa Morikawa e o Honorário Nacional Miguel Srougi, realizaram palestras a respeito de métodos diagnósticos e os diferentes tipos de tratamento para a doença.
O Acadêmico Ronaldo Damião apresentou palestra intitulada “Novos métodos diagnósticos e opção de tratamento no CaP localizado”, na qual descreveu os recentes avanços e os procedimentos mais comuns em câncer de próstata. De acordo com dados apresentados pelo urologista, um em cada sete homens serão diagnosticados com CaP ao longo da vida, enquanto um em treze virão a óbito por conta da doença. Entre os fatores de risco estão idade – acima de 65 anos -, histórico familiar e genética, inflamação ou infecção, fatores ambientais ou nutricionais, e hormônios.
O especialista indicou os principais métodos diagnósticos atuais, como exame digital, Screening – 20% de redução na mortalidade – e biopsia por fusão de imagens – ressonância magnética e ultrassom. Segundo o Acadêmico, estas técnicas possibilitaram o aumento no diagnóstico de neoplasias de pequeno volume e baixo risco. O médico apresentou ainda a Crioterapia Focal, que consiste na atuação unifocal de sondas por via perineal, tratando apenas a parte do órgão onde o tumor está localizado. Concluiu declarando que a ablação parcial é uma opção viável para pacientes selecionados com doença de risco baixo a moderado, e que a técnica apresenta menores índices de incontinência e impotência sexual pós-operatória; entretanto, ressaltou a necessidade de mais estudos comparativos para avaliar sua eficácia oncológica.
Versando sobre “Tratamento cirúrgico de CaP localizado”, o urologista Paulo Martins Rodrigues apontou os principais casos de prostatectomia – remoção cirúrgica de parte ou total da próstata. Segundo ele, existem diversos métodos de tratamento para o câncer de próstata, restando uma pequena parcela de pacientes em que há de fato necessidade de intervenção cirúrgica, devido à complexidade da doença. O especialista declarou que o método existe há mais de 120 anos, e indicou algumas das principais evoluções na técnica cirúrgica, como a prostatectomia retropúbica radical, onde há preservação da função sexual, a medição de PSA (enzima produzida especificamente pelas células da próstata, que alerta para disfunções na glândula, diferenciando os pacientes cuja cirurgia é necessária ou não) e o uso da robótica, um dos principais avanços das últimas décadas. Finalizando sua apresentação, Dr. Paulo Martins afirmou que com o auxílio do robô nas cirurgias de câncer de próstata, a acurácia e efetividade do tratamento aumentou exponencialmente. No entanto, destacou que a necessidade de prostatectomia é cada vez menor, havendo preferência por outros tipos de tratamento.
Em seguida, a Dra. Lisa Morikawa abordou a radioterapia como forma de tratamento para o Câncer de Próstata, discorrendo sobre a evolução do método ao longo dos anos e como é utilizado atualmente. Segundo ela, a cirurgia ainda é um dos principais tratamentos em CaP, entretanto, com o avanço das máquinas e equipamentos, maior precisão e modernização da técnica, o tratamento de câncer por radioterapia vem se tornando cada vez mais eficaz. A especialista comparou as técnicas Radioterapia de Intensidade Modulada e Radioterapia Conformacional Tridimensional, ressaltando que esta segunda trouxe grandes benefícios no tratamento de câncer, por permitir aos médicos maior controle durante o tratamento de tumores e por garantir ao paciente doses de radiação mais elevadas administradas no tumor e menor exposição à radiação dos tecidos saudáveis, diminuindo os efeitos colaterais em relação à primeira.
A médica explicou ainda técnicas como a IGRT (radioterapia guiada por imagens) – conjunto de equipamentos de imagem de alta definição que acoplados ao aparelho de radioterapia proporcionam controle extremo e diário do posicionamento do paciente com maior precisão; hipofracionamento, que consiste na redução das sessões radioterapêuticas com maior precisão e menor impacto, aumentando significativamente a qualidade de vida do paciente; braquiterapia, cuja fonte de radiação é colocada dentro ou junto à área que necessita de tratamento, diminuindo o nível de toxicidade; e radiocirurgia, que trata a glândula prostática com precisão submilimétrica, capaz de causar uma ablação do tecido alvo, com toxicidade aceitável e controle bioquímico.
Em sua conclusão, a Dra. Morikawa afirmou que a radioterapia contemporânea vem evoluindo e apresentando resultados cada vez mais eficazes em relação ao câncer de próstata, de menor toxicidade e que não alterarão a qualidade de vida do paciente. Declarou que o investimento contínuo em equipamentos e no treinamento adequado dos profissionais são os principais fatores para a evolução do tratamento radioterapêutico no Brasil.
O Honorário Nacional Miguel Srougi ministrou aula intitulada “Cirurgia do Câncer de Próstata localmente avançado e das recidivas pélvicas”, onde discutiu as diretrizes atuais para o tratamento da doença e os procedimentos relacionados à recorrência da doença após a cirurgia. O especialista apresentou dados referentes a reincidência do CaP em pacientes tratados cirurgicamente ou com radioterapia, e afirmou que não há resposta perfeita para a situação de ambos os casos. Ressaltou que ainda é necessária a realização de mais estudos para que se encontrem armas mais potentes no combate à doença e concluiu que o profissional deve priorizar a qualidade de vida do paciente.
Apresentando a palestra “Tratamento das complicações após cirurgia ou radioterapia do CaP”, o Acadêmico Fernando Vaz ressaltou que estas são, na maioria das vezes, incuráveis, causando um impacto significativo na qualidade de vida do paciente. Segundo ele, um dos principais fatores para a prevenção de complicações após o tratamento de câncer de próstata é a avaliação adequada do caso, tumor e técnica escolhida para tratá-lo. O especialista apontou exemplos de complicações, entre elas: sangramento, lesão do nervo obturador e lesão do reto (complicações transoperatórias); hemorragia, tromboembolismo, contratura e linfocele (complicações pós-operatórias imediatas); disfunção erétil e incontinência urinaria (complicações pós-operatórias tardias).
Na sequência, por meio de casos clínicos, demonstrou o tratamento adequado para cada uma das complicações e declarou finalmente que todos os tratamentos apresentarão algum grau de complicação; portanto, é dever do médico observar com atenção a razão terapêutica e o método escolhido.
Finalizando a sessão, o Acadêmico José Carlos do Valle realizou palestra sobre “Tratamento sistêmico do Câncer de Próstata avançado ou metastático”. Em sua introdução, prestou homenagem a duas importantes figuras para o avanço da especialidade: Charles Brenton Huggins, primeiro homem a realizar castração cirúrgica no tratamento do câncer de próstata, e Andrew Victor Schally, identificador do neurohormônio GnRH, que controla os hormônios Folículo Estimulante e Luteinizante, sistema fundamental no desenvolvimento do câncer de próstata.
Demonstrou por meio de estudos que comparam a eficácia do bloqueio androgênico por castração acompanhado de quimioterápico e do bloqueio androgênico sem quimioterapia que os índices de sobrevida do primeiro grupo são muito maiores que a do segundo, superando em média 17 meses de sobrevida quando há uso de quimioterápico. O Acadêmico concluiu sua palestra apresentando casos clínicos para exemplificar os métodos citados e declarou que atualmente são muitas as opções terapêuticas para o tratamento de câncer.