Em Sessão que ocorreu na última quinta-feira, 10 de maio, os Acadêmicos José Carlos do Valle e Paulo Hoff organizaram na sede Academia Nacional de Medicina o Simpósio sobre Câncer de Cólon e Reto (CCR). As palestras abordaram questões sobre a manifestação e tratamento da doença, que sofreu um aumento expressivo nas taxas de mortalidade e incidência entre jovens nos últimos anos.
Iniciando o evento, os confrades e organizadores do evento, José Carlos do Valle e Paulo Hoff, apresentaram uma breve introdução a respeito dos dados recentes sobre os tumores colorretais. Em estudo divulgado pela Sociedade Americana de Câncer (American Cancer Society) no ano passado, foi confirmado o aumento entre adultos jovens e de meia-idade, principalmente o cancro no reto — antes mais comum entre idosos. De cada dez pacientes diagnosticados com essa doença, três têm menos de 55 anos. Entre as principais causas estão a obesidade e o estilo de vida sedentário.
O Dr. Jorge Sabbaga, do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, palestrou sobre Síndromes Hereditárias relacionadas ao CCR. Alertando para os altos índices da neoplasia entre pacientes jovens, o oncologista relacionou a possível causa desse aumento a fatores genéticos. Apresentando estudos realizados entre 2005 e 2017, apontou que 30% dos pacientes com menos de 50 anos possuem predisposição genética para Câncer de Cólon.
Comentou também a relação da Síndrome de Lynch com o câncer colorretal. Responsável por cerca de 5% dos casos de câncer de intestino, a doença hereditária é decorrente de uma alteração genética que aumenta o risco de desenvolvimento de tumores no cólon e no reto. Por esta razão, é indicada a realização teste genético para pacientes que possuem histórico familiar da doença. Mesmo sem haver um tratamento de combate à Síndrome, há métodos de rastreamento para detecção precoce de tumores, e, no caso de confirmação da presença do gene, é recomendado acompanhamento médico e exames regulares para monitorar o surgimento do tumor. Se a colonoscopia é feita periodicamente, as chances de evitar que o paciente desenvolva câncer são maiores.
Em seguida, o Acadêmico Gilberto Schwartsmann abordou a utilização de tratamento adjuvante no câncer colorretal. A partir do estadiamento – processo para determinar a extensão do câncer presente no corpo do paciente e sua localização -, são definidos o prognóstico e o provável tratamento da doença. Em sua apresentação, o médico deu ênfase ao câncer de estágio III.
Segundo Schwartsmann, há um significativo número de pacientes em estágio III que recaem algum tempo após a realização de cirurgia com intenção curativa, e por esta razão é indicado o tratamento adjuvante. O Acadêmico afirmou que existem diversas drogas ativas, cuja utilização após a cirurgia pode eliminar micro metástases, aumentando, assim, a curabilidade da doença. Em sua conclusão, o oncologista comentou os casos em que o tratamento pode ou não ser eficaz, e declarou que a indicação de tratamento adjuvante depende de uma análise multidimensional de risco em cada paciente.
Discutindo a conduta terapêutica nas neoplasias iniciais do reto, o Acadêmico Raul Cutait fez um breve levantamento histórico sobre a evolução no tratamento do CCR e apontou as mudanças e novidades das técnicas atuais. Atentou, ainda, para a importância da participação do paciente na decisão terapêutica, que pode variar de acordo com cada caso.
Discorreu sobre os tratamentos existentes, afirmando que a amputação abdominoperineal é utilizada como último recurso, uma exceção, enquanto a preservação esfincteriana é considerada o padrão-ouro das intervenções cirúrgicas realizadas. A ressecção por laparoscopia, explicou o oncologista, é o procedimento mais eficiente, ao passo que robótica e excisão total do mesorreto são técnicas complementares.
Apresentando a última palestra da primeira etapa do Simpósio, referente a tratamentos pouco invasivos, o Acadêmico Octávio Vaz fez uma análise crítica sobre a cirurgia robótica no câncer de cólon. O especialista discutiu os aspectos éticos, aplicabilidade e eficácia do método. Estabeleceu também uma comparação entre as cirurgias laparoscópica e robótica.
O Acadêmico afirmou que, por se tratar de uma técnica recente e em evidência, muitos pacientes requisitam sua utilização. Entretanto, destacou que o método nem sempre é adequado para todos os casos. Segundo ele, cabe ao médico definir os padrões éticos em relação ao seu uso e utilizá-lo criteriosamente. Concluiu afirmando que, comparando as cirurgias laparoscópicas e robóticas, ainda não há indícios de que a cirurgia robótica apresente resultados superiores ao das técnicas vigentes.
O Acadêmico Paulo Marcelo Gehm Hoff realizou palestra intitulada “Tratamento de Câncer Colorretal Metástico em 2018”, na qual apresentou dados sobre o crescimento na incidência da doença nos últimos dez anos, no Brasil e no mundo. O Acadêmico comentou o impacto dos medicamentos 5-Fluorouracil e Capecitabina, que possuem finalidades inibitórias de crescimento de células cancerígenas. Segundo ele, a utilização dos fármacos através da quimioterapia pode aumentar em até 23 meses a média de sobrevida dos pacientes.
O professor da USP, Eduardo Akaishi, tratou sobre indicações de Peritonectomia e Quimioterapia Hipertérmica Peritoneal em Câncer de Cólon e Reto, estabelecendo comparações entre as duas técnicas. O especialista explicou que na Peritonectomia é realizada a ressecção em bloco das metástases peritoneais, a fim chegar à citorredução tumoral máxima, preservando a superfície peritoneal isenta de implantes. A cirurgia é indicada para tratar tumores visíveis (maiores que 1 mm), enquanto a quimioterapia é utilizada para tratar doença residual não visível.
Apresentou estudos referentes ao tratamento cirúrgico de câncer colorretal com metástase hepática utilizando citorredução e Quimioterapia Hipertérmica Peritoneal, concluindo que a cirurgia simultânea é eficaz e segura, com baixa morbidade pós-operatória. Acrescentou que a função primária do oncologista é realizar uma criteriosa seleção do paciente que será submetido ao procedimento cirúrgico, e que, futuramente, novos estudos de longo prazo ajudarão a determinar seu impacto na sobrevida do paciente.