O Simpósio do dia 14 de setembro da Academia Nacional de Medicina abordou “Cirurgias em Ginecologia e Obstetrícia”, sob a coordenação dos Acadêmicos Carlos Antônio Montenegro, Silvano Raia, Hildoberto Carneiro de Oliveira e Jorge Rezende Filho. A primeira parte do Simpósio, sobre ginecologia foi conduzida pelos Acadêmicos Silvano Raia e Hildoberto Carneiro de Oliveira.
O Dr. José Carlos Damian Jr, do Hospital Universitário Pedro Ernesto (UERJ), abordou “A Salpingectomia evita o Câncer de Ovário? ”, chamando atenção para o fato de que o câncer de ovário é de difícil detecção, evolui de maneira muito rápida e em 75% das vezes surge em estágios avançados. Alertou também sobre o alto índice de mortalidade – 70% das pacientes -, que atinge principalmente a população de faixa etária entre 60 e 70 anos. Apresentou a prevenção como principal forma de combate a esse tipo de câncer, já que, apesar da introdução de novas medicações ao longo dos últimos anos, a chance de sobrevida das pacientes não foi alterada.
Abordando o tema “Mioma Uterino – Abordagem Videohisteroscópica ”, o Dr. Ricardo Bassil Lasmar (UFF) destacou que os principais pontos a serem observados antes da realização da cirurgia são a classificação do tipo de mioma, o número de miomas e se há desejo da paciente de engravidar, o que altera a maneira como a cirurgia será feita: caso haja esse desejo, a cirurgia deve ser realizada de forma a não causar danos à cavidade uterina. Se não houver desejo da paciente em engravidar, pode-se ampliar a cirurgia para uma ablação endometrial, destruição cirúrgica do endométrio que aumenta a chance de melhora clínica em relação ao sangramento.
Em sua conclusão, o médico apontou a técnica clássica de fatiamento do mioma com alça energizada (que corta os fragmentos do fundo ao canal e reduz o mioma) como não sendo ideal, pois deixa os vasos periféricos muito abertos e seu tempo operatório é maior. Sugeriu a técnica de mobilização, na qual se circunda o mioma ao invés de fatiá-lo, afim de atingir a pseudocápsula.
Com palestra intitulada “Endometriose – Cirurgia Videolaparoscópica ou Robótica? ”, o Dr. Marco Aurelio Pinho de Oliveira (UERJ) pontuou como indicações para realização de cirurgia de endometriose o risco funcional causado pela doença, dor que interfira na qualidade de vida da paciente e infertilidade. O tipo de indicação influencia na escolha da técnica a ser realizada.
Finalizou sua apresentação apontando as vantagens da robótica, que permite que o cirurgião tenha um controle mais preciso das pinças através do robô, sem precisar segurá-las, o que gera maior acurácia nos movimentos e maior velocidade na realização da sutura e nó intracorpóreo. Há também a diminuição na curva de aprendizado, o que possibilita o aumento de ginecologistas aptos a realizar procedimentos complexos de uma forma minimamente invasiva, o aumento da “vida útil” do cirurgião (elimina tremores, diminui o cansaço e melhora a visão), e a realização de cirurgias complexas à distância por profissionais experientes em centros de excelência.
O Acadêmico Hildoberto Carneiro de Oliveira trouxe o tema “Câncer de Vulva – Tratamento Cirúrgico”, onde ressaltou que, apesar de sua anatomia que permite diversas doenças, o câncer de vulva é o mais raro entre os cânceres ginecológicos (5% de incidência) – destacou, no entanto, a alta taxa de mortalidade (cerca de 770 mortes por ano). Apontou como vias de infecção o HPV (mais frequente em pacientes jovens) e o Liquen Escleroso por Lesões Escamosas (mais frequente em pacientes idosas).
A respeito do tratamento adequado, apontou a cirurgia como principal método em pacientes de estágio I e II; para pacientes em estado mais avançado, a realização de quimioterapia e radioterapia se mostra necessário.
Na sequência, os Acadêmicos Carlos Montenegro, Silvano Raia e Jorge Rezende Filho deram início a segunda parte do Simpósio, convidando o Dr. Joffre Amim Jr., da Maternidade Escola UFRJ, para abordar tema “A Cirurgia Fetal na Atualidade”.
O médico apresentou os tipos de procedimentos realizados em fetos e suas finalidades: Endoscopia, para operação de Hérnia Diafragmática Congênita; Cirurgia aberta, para correção de Mielomelingocele, e Operação com agulhas ou trocartes via punção abdominal, para tratar de cardiopatias e derrames. Apresentou também a possibilidade de conjugar os procedimentos afim de obter-se um melhor resultado e a melhora dos índices de sobrevida.
Ao finalizar sua apresentação, o professor expôs novas técnicas realizadas no Brasil, como a punção intracardíaca, com sucesso de 90% dos casos e diminuição da necessidade de transplantes futuros. A técnica que já é referência em São Paulo ainda não começou a ser realizada no Rio de Janeiro. Citou também a utilização da técnica conjugada de endoscopia e laser para o tratamento de hiperplasia pulmonar, o que diminui os riscos e aumenta as chances de sobrevida do feto.
O Dr. Jair Braga (UFRJ) deu continuidade ao tema, abordando a Síndrome de transfusão feto-fetal, que ocorre em gestações de gêmeos quando os dois fetos dividem a mesma placenta. O tratamento mais indicado é amniodrenagem – por punção, endoscópica ou com agulhas e trocartes. Segundo o médico, a operação é realizada em pacientes de estágio II, III e IV. Ainda se estuda a relevância da operação em pacientes de estágio I.
O professor abordou também o tratamento de Mielomeningocele, defeito congênito onde a medula espinhal do feto não se desenvolve adequadamente, que pode ser realizado através de Fetoscopia ou Mini-histerotomia, e a Ventriculostomia, para o tratamento de hidrocefalia.
Dr. Antônio Braga (UFRJ e UFF) seguiu com o tema “A Cirurgia na Doença Trofoblástica Gestacional”, demonstrando como a doença se manifesta no corpo da gestante. Apresentou como proposta de tratamento cirúrgico a Mola Hidatiforme e a Neoplasia Trofoblástica Gestacional, explicando em qual situação um dos dois procedimentos é o mais adequado.
Ao finalizar sua apresentação, o professor esclareceu que se trata de uma doença rara, que acomete 1 a cada 200 gestantes, e que as pacientes devem ser encaminhadas a centros de referência para realizar o tratamento.
O último palestrante a se apresentar foi o Dr. Ricardo Alves-Pereira (Hospital Santa Joana – SP), que abordou o tema “O Papel da Cirurgia Minimamente Invasiva na Melhora do Prognóstico Obstétrico”. Pontuou os tipos de complicação antes, durante e depois da gravidez que podem ser tratadas através de cirurgias minimamente invasivas.
Apresentou casos clínicos de Tumor Sólido de Ovário na Gestação e Tumor Estromal Esclerosante, e as cirurgias realizadas para o tratamento, a primeira por Circlagem Istmocervical Transabdominal Laparoscópica e a segunda, Miomectomia em Gestação. Ao final de sua apresentação, o Dr. Alves-Pereira esclareceu que complicações causadas pela cirurgia minimamente invasiva acontecem, mas são muito poucas em relação aos casos de sucesso.