Na tarde da última quinta-feira, 17 de maio, Acadêmicos e convidados se reuniram na Academia Nacional de Medicina para realizar o Simpósio Avanços em Cirurgia Cardiovascular, sob organização dos Acadêmicos Silvano Raia, Fabio Jatene e Rossano Fiorelli. O tema foi um tributo à memória do cirurgião Adib Domingos Jatene, que contribuiu para as áreas de Bioengenharia, cirurgia de revascularização do miocárdio e cirurgia de cardiopatias congênitas. Sua técnica de correção de transposição dos grandes vasos de base é conhecida hoje como Operação de Jatene, a qual tem sido empregada, com sucesso, em vários Serviços de Cirurgia Cardíaca em todo o mundo.
O Professor da Divisão Cirúrgica do InCor (Instituto do Coração), do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Fábio Antônio Gaiotto, iniciou o Simpósio com a palestra “Transplante Cardíaco: Indicação atual e resultados no Brasil”. Em sua introdução, o médico apresentou dados sobre a evolução das técnicas utilizadas no transplante cardíaco, os índices de mortalidade e as principais doenças cardiovasculares que podem ser tratadas através do transplante. Fábio Gaiotto finalizou sua apresentação demonstrando as técnicas de transplante cardíaco clássica e bicaval, comentando a melhora na qualidade de vida do paciente após a cirurgia.
Palestrando sobre Avanços na Assistência Ventricular Mecânica, o Prof. Dr. Alexandre Siciliano, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, indicou os três domínios da cirurgia cardiovascular, a partir de dispositivos de curta duração, intermediários e de longo prazo. Ao iniciar seu seminário, o médico declarou sua admiração pelo Acadêmico Adib Jatene, seu legado e seu impacto na cirurgia cardiovascular, e, emocionado, agradeceu a honra de estar presente nesta consagrada instituição.
O cirurgião comentou a evolução da engenharia nos dispositivos de assistência ventricular analisando os índices de sobrevida após o tratamento, ressaltando que os dispositivos estão cada vez menores e atuando com maior precisão. Segundo ele, dispositivos de fluxo pulsante (1ª geração) e fluxo contínuo (2ª geração), apresentam baixos índices de sobrevida após um ano da cirurgia, enquanto a bomba centrífuga (3ª geração) apresenta cerca de 80% de sobrevida nos pacientes, se estabilizando após dois anos do tratamento.
Sobre o tema “Evolução da Cirurgia Valvar”, o Acadêmico Henrique Murad versou sobre os principais marcos da especialidade ao longo dos anos e alguns de seus pioneiros, como Sir Henry Souttar, primeiro a realizar a cirurgia da válvula mitral ou cirurgia cardíaca fechada, em 1925, sendo realizada novamente por Charles Bailey e Dwight Harken (1948). O cirurgião pontuou as principais características das próteses mecânicas e biológicas, indicando, através de estudos realizados em pacientes jovens e idosos, qual tipo de tratamento é adequado para cada caso.
O Acadêmico comentou também a Cirurgia de Ross, que consiste na substituição da valva aórtica doente pela valva pulmonar do próprio paciente. Hoje, o método é considerado ideal para substituição da valva aórtica em crianças e jovens. Por fim, fez um comparativo entre os benefícios do reparo e a troca valvar mitral, concluindo que cada caso deve ser avaliado para que o tratamento adequado para cada paciente seja escolhido.
O Prof. Dr. Marcelo Gomide, do Instituto Nacional de Cardiologia da UFRJ, proferiu palestra sobre Cirurgia Cardíaca Pediátrica. Comentou a incidência de doenças cardiovasculares entre crianças e recém-nascidos, como a Comunicação Interventricular, Comunicação Interatrial e Persistência do Canal Arterial, que podem causar arritmias, tromboembolismo, crescimento somático atrasado, bronquite plástica e fibrose hepática, entre outros.
Em sua conclusão, o cirurgião demonstrou novas técnicas e dispositivos no tratamento cardiovascular, afirmando que estas permitiram abordagens menos invasivas e mais eficientes. Alguns dos avanços disponíveis atualmente incluem a melhora no design dos aparelhos cirúrgicos, aprimoramento na seleção dos pacientes, através de ecocardiograma 3D e ressonância magnética nuclear, stents e próteses redilatáveis e melhoras estruturais para estender a tecnologia a pacientes com via de saída do ventrículo direito nativa, dilatada e distendida.
O Acadêmico Fábio Jatene, filho do homenageado, diretor da Divisão de Cirurgia Cardiovascular da USP e vice-presidente do Incor, encerrou o evento com a palestra “Cirurgia Cardiovascular no Terceiro Milênio”. Em sua introdução, ele comentou o contexto atual da especialidade, os progressos técnicos, a realização de cirurgias com agressões operacionais reduzidas, a melhora de resultados e as mais recentes incorporações tecnológicas. Entre os avanços, é possível destacar melhores cuidados anestésicos, redução do tamanho das incisões, o auxílio de equipamentos de videocirurgia e a cirurgia sem o suporte de circulação extracorpórea.
O cirurgião apresentou alternativas à cirurgia convencional (esternotomia) com incisões mínimas, como toracotomia e mini-esternotomia. Segundo ele, os avanços técnicos e tecnológicos permitiram que, atualmente, todas as artérias coronárias possam ser abordadas sem circulação extracorpórea.
Ao final de sua apresentação, o Acadêmico afirmou que o implante de dispositivos de assistência circulatória tem se tornado uma terapia bem estabelecida para a insuficiência cardíaca e que esta tendência, que tem aumentado consideravelmente nos últimos anos, deverá continuar. Concluiu alertando para a importância da colaboração multidisciplinar entre as especialidades para proporcionar o melhor atendimento centrado ao paciente, declarando que o processo de orientação e tomada de decisão do paciente deve ser guiado seguindo os “quatro princípios” para a ética da saúde: a autonomia, beneficência, não maleficência e justiça.