A ANM, instituição científico-cultural mais antiga do Brasil recebeu, nesta quinta-feira (25), os confrades da Academia Brasileira de Médicos, para a realização de um Simpósio conjunto. Organizado pelos Acadêmicos Francisco Sampaio (Presidente da ANM e Honorário da ABRAMES) e Leslie Aloan (Presidente da ABRAMES), o Simpósio abordou temas como a visão literária da dor, o futuro da Medicina e a associação dos dois temas. A Academia Brasileira de Médicos Escritores – ABRAMES – é o único silogeu literário exclusivo de médicos que se conhece no mundo, fundada por Marco Aurélio Caldas Barbosa em 17 de novembro de 1987, dia e mês do nascimento de Manuel Antônio de Almeida, patrono da instituição. É composta por cinquenta cadeiras, sendo seus patronímicos ilustres médicos escritores, vários deles pertencentes a Academia Nacional de Medicina, a Academia Brasileira de Letras e congêneres de renome.
Além da realização do Simpósio, a Sessão também abrigou a solenidade de posse do Acadêmico José de Jesus Peixoto Camargo como Membro Titular da ABRAMES. O Acadêmico, nascido em 6 de agosto de 1946 em Vacaria (RS), graduou-se em Medicina na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) no ano de 1970, optando pela Cirurgia Torácica. Foi o pioneiro em transplante de pulmão no Brasil e da América Latina em 1989, sendo o primeiro a realizar transplante de pulmão com doadores vivos fora dos Estados Unidos em 1999. É responsável por dois terços dos transplantes de pulmão feitos até hoje no Brasil.
É médico e escritor, autor de quatro livros de sua especialidade, além dos livros “Não pensem por mim”, “A tristeza pode esperar” e “ Do que você precisa para ser feliz?”, sendo um dos principais especialistas no tema Relação Médico-Paciente.
Na sequência, o Acadêmico Omar da Rosa Santos (ANM) e o Acad. Abilio Kac (ABRAMES) fizeram apresentação a respeito do tema “O Amar: Uma Visão de Vida”. O Acadêmico Omar da Rosa Santos afirmou que reviraria seu “baú de truques verbais” para discorrer sobre como a prática da Medicina é e deve ser revestida de Amor, em seu sentido mais puro. Já o Acad. Abilio Kac afirmou que o amor é o sentimento que predispõe alguém a desejar a outrem o bem absoluto.
Abordando “A Dor: uma Visão Literária”, falaram os Acads. Claudio Murilo Leal (Vice-Presidente da Academia Carioca de Letras) e Edir Meirelles. Claudio Murilo Leal abordou o tema do suicídio, apresentando casos famosos, como o do escritor português Camilo Castelo Branco e o pintor holandês Vincent van Gogh. Ao final de sua apresentação, provocou a plateia com os questionamentos “o que é a dor?”, “o que é o sofrimento?”, “o que é o suicídio?”, convocando todos à reflexão sobre esses importantes temas da existência humana. Em sua contribuição, o Dr. Edir Meirelles afirmou que a dor possui a capacidade de alterar nossa sensibilidade, modificando a forma com a qual enxergamos o mundo e as sensações aqui experimentadas.
Com palestra intitulada “Literatura e Medicina”, o Presidente da ABRAMES, Acad. Leslie Aloan, apresentou uma linha do tempo de ambas as especialidades, traçando o ponto de “encontro” (séc. V a.C.) até o “reencontro” (1975 d.C.), ressaltando que a inquietude do Homem desenvolveu o conhecimento em todas as áreas e em quase todos os momentos. Segundo o Acadêmico, o chamado “reencontro” ficou consagrado com a cunhagem do termo “Medicina Narrativa”, por Rita Charon, e, a partir daí, cursos que utilizam a literatura e a produção de narrativas vem sendo desenvolvidos em escolas médicas de países da Europa e da América do Norte.
Na segunda etapa do Simpósio, o Acadêmico José de Jesus Camargo fez palestra para responder à questão “O Futuro da Medicina: Quo Vadis, Doctor?”, afirmando que o ser humano avançou mais nos últimos 50 anos do que em toda a história da Humanidade. Demonstrou, ainda, a forma como os avanços em determinadas áreas também representaram avanços outras, como no caso de avanços militares que culminaram em avanços nas tecnologias médicas.
Na conclusão de sua apresentação, o Acadêmico falou sobre sua experiência no atendimento aos pacientes, destacando que não é necessário que se “demonize” a figura do médico – há, na relação médico-paciente, um importante dado de afeto, que não pode ser pedido frente aos avanços tecnológicos. O afeto, afirmou o Acadêmico, também faz parte do “fazer terapêutico” e deve ser fazer parte dos conhecimentos a serem passados aos jovens médicos em formação.