A Sessão de quinta-feira, 5 de abril, da Academia Nacional de Medicina realizou Seminário sobre Literatura e Medicina. Com apresentações dos Acadêmicos e organizadores da atividade Ricardo Cruz e Rui Maciel, o evento contou com conferência do Dr. Dante Gallian, que abordou questões de humanidades na prática da medicina, por meio da literatura.
O Acad. Ricardo Cruz deu início à sua conferência ressaltando a importância do ensino de humanidades dentro dos cursos de medicina, indicando a literatura como uma das artes mais destacadas para essa função. Relembrou os congressos a respeito do tema que já aconteceram no Brasil, inclusive o primeiro deles, realizado pela Academia Nacional de Medicina em 2013, sob Presidência do Acad. Pietro Novellino.
Citou o escritor e médico brasileiro Moacyr Scliar, que afirma que “é preciso eliminar as barreiras entre ciência e arte, e entre saúde e literatura”. Apresentou, ainda, uma enquete realizada com profissionais de medicina, na qual os profissionais foram questionados sobre quais seriam as principais obras literárias que os remetem ao tema “Literatura e Medicina”. Entre os principais livros citados, dezoito deles tiveram mais de 50 citações, como “O Doente Imaginário”, de Moliére; “A Moreninha” de Joaquim Manuel de Macedo; “O Alienista”, de Machado de Assis; “Enfermaria Nº 6”, de Anton Tchekhov; e “A Morte de Ivan Ilitch”, do escritor russo Leon Tolstói.
Ao finalizar sua apresentação, mencionou importantes médicos escritores do país, inclusive os Acadêmicos Hélio Aguinaga, Ivo Pitanguy, José de Jesus Camargo e Mário Rigatto. Comentou ainda o currículo do palestrante convidado, Dante Gallian, médico e autor do livro “A Literatura Como Remédio”, entre outros.
Dr. Gallian iniciou sua palestra relacionando as interações entre as humanidades, em particular o campo literário, e as ciências da saúde, particularmente a medicina. O historiador e doutor em História Social pela USP, versou brevemente sobre sua formação – que teve início na área de ciências humanas – e seu primeiro contato com a medicina. Relembrou também o convite que recebeu, em 1999, do então Reitor da Unifesp, Hélio Egydio, para reformular o museu histórico da Escola Paulista de Medicina e criar o arquivo histórico da instituição. A partir dessa tarefa, o Acadêmico procurou se inserir no processo de formação médica e deu início a sua carreira docente na cadeira de história da medicina da Escola Paulista de Medicina, onde atua como Diretor do Centro de História e Filosofia das Ciências da Saúde.
Em seguida, o palestrante abordou a revolução, do ponto de vista cientifico e tecnológico, pela qual a medicina mundial passa nas últimas décadas, e as vantagens na perspectiva de novas descobertas que trouxeram benefícios para o campo diagnóstico e de tratamentos. Citou ainda um contraponto desse desenvolvimento, apontado por teóricos de todo o mundo como o fenômeno da desumanização: quando a mediação de aspectos tecnológicos na relação entre médico e paciente interfere de maneira a criar um distanciamento entre as partes.
O Prof. Gallian apontou como um recurso extremamente importante e eficaz para a solução deste problema a abordagem das humanidades no ensino médico, entre elas a literatura. No entanto, um dos principais obstáculos para alterar uma cultura médica marcada fortemente pelas ciências e tecnologias, é estimular as novas gerações de médicos a observarem a importância de um olhar proveniente, não apenas das ciências biológicas, mas também das ciências humanas, das artes e da literatura.
O convidado concluiu sua palestra apresentando a metodologia utilizada nos Laboratórios de Humanidades, que pretendem incentivar os estudantes a refletir a respeito dos sentimentos provocados pela leitura realizada, a fim de desenvolver a formação humana e da ética no campo médico. Comentou como se deu o surgimento da ideia, sua execução, as expectativas ligadas ao avanço do projeto e os resultados obtidos nas futuras gerações de profissionais da área de saúde.
O Acadêmico Rui Maciel finalizou a conferência com um discurso a respeito dos importantes efeitos reconhecidos pelos alunos do Laboratório de Humanidades da Unifesp. O endocrinologista ressaltou a missão da Academia Nacional de Medicina em colaborar para a formação do bom médico, que possui, além das competências e habilidades técnicas, as características reflexivas do médico humanista. Listou entre as principais qualidades desse profissional a compreensão, capacidade interpretativa, sensibilidade e a ética.
Encerrou sua comunicação citando o pensador e médico espanhol, Gregório Marañón, que afirmou que “o humanismo é muito mais gesto e conduta do que saber”. Como exemplo desta máxima, abordou suas experiências no ambulatório com alunos que participam do Laboratório, e o impacto causado também nos outros alunos que não o frequentavam, a partir das reflexões humanísticas realizadas.