Alergia alimentar: da gestação à vida adulta

18/03/2021

Para entendermos a alergia alimentar precisamos voltar ao início de tudo, traçando um paralelo ao momento da gestação e questionar um capítulo intrigante da vida: por que não fomos rejeitados pelo organismo de nossas mães, já que éramos um corpo estranho, habitando-o? 

Tudo isso está relacionado intimamente com a reação do sistema imune que, paradoxalmente, não rejeita o desenvolvimento do feto que possui 50% de componentes genéticos paternos. Este é o milagre da reprodução como definiu o médico Luiz Werber-Bandeira, da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro, em sua live sobre Imunologia da gravidez, na sessão do dia 18 de março de 2021, promovida pela ANM.

Bandeira explicou que a relação imunitária entre a mãe e o feto estabelece comunicações bidirecionais e que existem evidências que o reconhecimento imunitário da gravidez pela mãe é primordial para a manutenção da gestação. 

A partir dessa comunicação intrauterina, começa-se a construir o sistema imune do feto que será maturado após o nascimento com o aleitamento materno exclusivo até os oito meses como reforçou o acadêmico Aderbal Sabrá que coordenou a reunião. Em sua apresentação sobre “Imunologia da Alergia Alimentar”, o professor Sabrá apontou alguns fatores precipitantes para a alergia alimentar: 

  • Amamentação inadequada
  • Infecções pós-natais e uso abusivo de antibióticos
  • Excesso de higiene
  • Alteração da digestão por antiácidos.

O acadêmico Sabrá ainda abordou a polêmica do leite de vaca. O acadêmico disse que a substituição do leite de vaca pelo leite de soja não é indicada, pois 85% dos indivíduos com alergia a essa proteína animal, também desenvolvem intolerância à soja, sendo a melhor indicação as fórmulas hidrolisadas ou de aminoácidos livres disponíveis no mercado. 

Autismo– O acadêmico Aderbal Sabrá abordou as evidências científicas que relacionam o transtorno do espectro autista (TEA) e a alergia alimentar (AA), sendo a última uma das causas da primeira.

Sabrá afirma que o TEA está longe de ter, nos trabalhos publicados até o momento, uma etiologia conhecida, e, por essa razão, seu tratamento segue sendo uma falácia. “Por outro lado, nossos achados mudam esse paradigma e evidenciam como a alergia alimentar pode ser uma de suas causas”, diz o acadêmico, que cita uma lista de nove publicações sobre o tema e detalha cada um dos achados. 

Segundo o especialista, há sete evidências triviais que sustentam a tese de que a alergia alimentar é uma das causas do transtorno do espectro autista. Entre elas, as respostas imunes em pacientes com AA e TEA têm espectros semelhantes; a epidemiologia da AA e do TEA são muito semelhantes, embora diferem quanto à prevalência do sexo e quanto ao gatilho; uma evidência fundamental é: todo paciente com TEA tem AA antes do aparecimento do transtorno.

Sabrá também alerta sobre o retardo no diagnóstico frente às primeiras manifestações dos pais sobre sintomas – em alguns casos, pode demorar vários anos. “É uma tristeza. Se eu começo o tratamento dessa criança com um ano e meio ou dois anos, ela entra em remissão em até um ano e meio. Se é uma criança de sete anos, será preciso tratá-la por três ou quatro anos devido ao progresso do processo inflamatório”.

O acadêmico conclui sua apresentação falando sobre as formas de tratar o problema. “Portanto, se temos o diagnóstico correto da alergia alimentar, tratamos com dieta hipoalergênica, que provoca a desinflamação e, assim, o paciente vai lentamente saindo do transtorno do espectro autista”.

Participaram ainda da sessão sobre alergias alimentares, a médica Selma Sabrá, do Hospital Universitário Antônio Pedro, da Universidade Federal Fluminense, que falou sobre os aspectos endoscópicos da alergia alimentar; Ana Muñoz, do Hospital Nacional Edgardo Rebagliati Martins-Lima, do Peru, que trouxe resultados de um estudo que desenvolveu criando um score para o diagnóstico clínico da alergia alimentar que seria suficientemente baseado na anamnese para detecção do problema. E o médico Mario Cesar Vieira, do Hospital Pequeno Príncipe, de Curitiba, no Paraná. Cesar Vieira falou sobre “Esofagite Eosinofílica”, doença relativamente nova, descoberta no início dos anos 90, e que vem crescendo nos últimos anos. Ela é caracterizada pela inflamaçãocrônicacausada pelo acúmulo de eosinófilos no esôfago que pode ser provocada por uma resposta exagerada do sistema imune a algumas substâncias alergênicas. 

Confira a sessão completa em nosso canal do YouTube: https://www.youtube.com/channel/UCdkjh5HlDk6V49qyIvNJ93A

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