Acadêmico José de Jesus Camargo dá aula sobre relação médico-paciente no Curso de Atualização da ANM

04/11/2015

O Curso de Atualização da ANM, no dia 05 de novembro, através da aula do Acadêmico José de Jesus Camargo, discutiu questões da relação médico-paciente. Em tom de conversa, contando casos que ilustram aspectos louváveis, e outros nem tanto, do relacionamento entre o profissional da área médica e o doente em nossos tempos, o palestrante encantou os alunos com sua prosa fácil e inteligente. O Acadêmico José de Jesus Camargo afirmou, também, que as consultas por planos de saúde, a rapidez com que os médicos querem terminar os atendimentos e o excesso de tecnologia em detrimento da anamnese e exame físico são alguns dos fatores que estão contribuindo para a deterioração da relação médico-paciente.

“Médico tem que gostar de gente”, disse o Acadêmico José de Jesus Camargo, sendo este, provavelmente, o maior ensinamento da aula. A relação médico-paciente é definida por complexas interações psicossociais entre eles e as principais virtudes dos médicos, neste cenário, são a empatia e a capacidade de se colocar no lugar do outro: “médicos devem ouvir verdadeiramente o que os pacientes pensam acerca do que está acontecendo. E não subestimar os que se sentem ameaçados ou vulneráveis. Ouvir, tentar se colocar no lugar do outro, é muito importante. Entre dois médicos qualificados, o paciente sempre vai optar por aquele com um olhar mais humano”. Na sequência, passou a apresentar algumas histórias por ele vividas:

  • A primeira foi sobre uma pessoa com câncer que se tornou muito amiga dele. O paciente chegou, na primeira consulta, com muita angústia e desespero. A atitude inicial do Acadêmico foi levantar-se da sua cadeira, contornar a mesa e sentar-se ao lado do paciente. Conversaram e analisaram os exames ali. No fim do tratamento, já em fase terminal, o paciente disse: “Doutor, eu fui muito bem tratado, estamos chegando ao fim, foi uma parceria que valeu a pena. A melhor coisa que recebi durante todo o tratamento foi aquele dia em que o senhor contornou a mesa para se sentar ao meu lado”;
  • Um menino de 11 anos caiu de uma construção e chegou ao hospital em estado crítico e, dez dias depois, foi considerado em morte encefálica. Quando saiu da UTI, foi informado pela secretária de que nove pacientes estavam esperando por ele. Como não tinha condições de atender ninguém, pediu a ela que passasse os nove ao mesmo tempo para seu consultório. Eles entraram, obviamente, com ar de surpresa. O Acadêmico José de Jesus Camargo relatou o acontecido, disse que estava muito mal e quis saber se estavam com alguma situação de urgência, para que outro médico fosse chamado. “Caso contrário, gostaria muito que voltassem no dia seguinte, porque preciso muito sair do hospital para chorar”. Houve uma comoção geral, todos entenderam perfeitamente a situação e voltaram no dia seguinte.

Durante toda a aula, com extrema vivacidade, o Acadêmico José de Jesus Camargo se preocupou em mostrar, através de muitas histórias, situações práticas que resumem a importância de atitudes mais humanas por parte dos médicos e como estas se refletem no estabelecimento de uma boa relação com seus pacientes. Ambroise Paré, um cirurgião francês do século XVI, certa vez, afirmou: “curar ocasionalmente, aliviar frequentemente e consolar sempre”. Com experiência e brilhantismo, o Acadêmico Camargo transmitiu a relevância que os médicos devem dar a esta frase, ontem, hoje e sempre.

O Acadêmico José de Jesus Peixoto Camargo é graduado em Medicina pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), possui residência em Cirurgia Torácica pela UFRGS e pela Clínica Mayo (EUA). É Mestre e Doutor em Ciências Pneumológicas pela UFRGS. Foi pioneiro em transplantes de pulmão na América Latina, sendo responsável por cerca de 67% dos transplantes de pulmão realizados no Brasil. Atualmente, é Diretor do Centro de Transplantes da Santa Casa de Porto Alegre. É escritor, colunista do Jornal Zero Hora e autor dos livros de crônicas “A tristeza pode esperar”, “Não pensem por mim” e “Do que você precisa para ser feliz?”.

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