O início do mês de maio na Academia Nacional de Medicina foi marcado pela realização de atividades que trataram de diferentes áreas da Cardiologia. No dia 16 de maio foi a vez de abordar Insuficiência Cardíaca, em Simpósio organizado pelos Acadêmicos Cláudio Benchimol e Fábio Jatene. O Simpósio também faz parte da série de eventos que abordarão doenças de alto custo no Brasil, projeto idealizado pelo Presidente Jorge Alberto Costa e Silva e que no dia 11 de abril discutiu o Diabetes Mellitus.
A abertura dos trabalhos ficou a cargo do Dr. Denilson Campos de Albuquerque (UERJ), que apresentou conferência intitulada “Insuficiência Cardíaca, uma ‘Pandemia’ Brasileira e Mundial. O que Mostram os Registros Epidemiológicos Atuais?”. Em sua exposição, afirmou que nos Estados Unidos são estimados 500.000 novos casos por ano, resultando em mais de 1 milhão de internações no sistema de saúde estadunidense. No Brasil, a Insuficiência Cardíaca é responsável por um terço das internações cardiovasculares e é importante causa de reinternações no país. Ressaltou, ainda, que trata de uma síndrome altamente incapacitante e com alta letalidade, com taxas de 50% de mortalidade nos 5 anos que sucedem o diagnóstico. Abordando os estudos do I Registro Brasileiro de Insuficiência Cardíaca (BREATHE), ressaltou que os resultados apontam para uma necessidade de criação de uma força tarefa nacional para uma abordagem efetiva visando alterar estes números com maior intensidade.
Na sequência, coube ao Dr. Fernando Bacal (HCFMUSP) abordar “Panorama do Manejo da Insuficiência Cardíaca: dos Medicamentos ao Transplante Cardíaco e Ventrículos Artificiais”, ressaltando que a escolha do tratamento adequado permite grande melhora clínica, redução do número de internações, da mortalidade e dos custos associados à doença, que experimentou um aumento exponencial no tempo de internação e na taxa de mortalidade nos últimos anos. Destacou que o tratamento escolhido visa evitar progressão da doença, a prevenção e controle das doenças de base, a melhora da qualidade de vida do paciente e evitar internações hospitalares.
Abordando “Insuficiência Cardíaca por Doença de Chagas: uma realidade brasileira”, o Dr. Félix José Ramires (HCFMUSP) apresentou dados sobre a epidemiologia da doença de chagas: são 9 milhões de pacientes infectados em toda a América Latina, dos quais 2 milhões apenas no Brasil. Chamou atenção para o aumento do número de casos em regiões do Brasil, destacando que cerca de 500 mil pacientes apresentam cardiopatia. Dentre os pacientes que apresentam alguma forma de sintoma cardíaco, de 20 a 30% poderão desenvolver miocardiopatia chagásica crônica, a forma mais grave da doença, com elevados índices de morbidade e mortalidade, seja por falência miocárdica ou por morte súbita.
Durante a apresentação intitulada “Tratamento Farmacológico: o ‘estado da arte’ de acordo com as diretrizes atuais”, a Dra. Silvia Moreira Ayub Ferreira (HCFMUSP) abordou individualmente os principais fármacos utilizados no tratamento da insuficiência cardíaca, como bloqueadores de receptores da angiotensina (BRA), inibidores da ECA, beta-bloqueadores, antagonistas de mineralocorticoides e substâncias como sacubitril, valsartana, ivabradina e hidralazina.
Com apresentação sobre “Marcadores de Risco: o que há de novo?”, a Dra. Jacqueline de Miranda (INCardiologia – RJ) discorreu sobre a importância em determinar o prognóstico da Insuficiência Cardíaca, principalmente em sua forma avançada. Destacou que existe uma baixa correlação na percepção de risco entre os médicos e pacientes na evolução para transplante ou implante. Segundo a médica, índice de acerto em prognosticar como alto risco é de apenas 40%, o que sugere que os médicos podem superestimar o risco.
Na sequência, coube ao Dr. Charles Slater (Hospital Pró-Cardíaco) discorrer sobre “Ressincronização Cardíaca”, definindo-a como o reestabelecimento da contração sincronizada, na tentativa de melhorar a eficiência dos batimentos cardíacos com subsequente melhora da classe funcional. Segundo o Dr. Slater, os fatores determinantes de sucesso do tratamento são a correta seleção dos pacientes, o manejo pré-operatório, o desenvolvimento da técnica cirúrgica e os cuidados pós-operatórios.
Com palestra sobre “Novas Drogas no Tratamento da Insuficiência Cardíaca”, o Dr. Ricardo Mourilhe Rocha apresentou, por meio de diferentes estudos clínicos, os prós e os contras do uso de fármacos como ivabradina, rivaroxabana, quelantes de potássio, dentre outros. Chamou atenção também para o fato de que a Depressão é uma comorbidade muito frequente em pacientes com insuficiência cardíaca, ressaltando que este quadro precisa e precisa ser tratado de forma integrada. Por fim, afirmou que a adequação do tratamento farmacológico é fundamental para a melhora da qualidade de vida, redução da morbidade e da mortalidade dos pacientes. A otimização terapêutica deve ser o produto final, alcançada por meio da priorização das intervenções que reduzem a mortalidade.
Na última etapa do Simpósio, dedicada à Economia em Saúde, o Dr. Marcelo Campos de Oliveira (Ministério da Saúde) discorreu sobre “O Impacto dos Custos Relacionados à Insuficiência Cardíaca no Sistema de Saúde”, destacando que a insuficiência cardíaca é a principal causa de hospitalização no Brasil, correspondendo a 5% dos gastos totais em Saúde. Usou como exemplo a ecocardiografia, considerada o padrão-ouro no diagnóstico da insuficiência cardíaca e que representa um gasto de 60 milhões só no plano ambulatorial. Abordou também os gastos com o tratamento farmacêutico, ressaltando que o impacto financeiro de uma determinada medicação é fator determinante na decisão sobre sua incorporação ou não no Sistema Único de Saúde.
Encerrando as apresentações do Simpósio, coube à Dra. Nadine Oliveira Clausell (Hospital de Clínicas de Porto Alegre) discorrer sobre “Estratégias para Diminuição do Custo na Insuficiência Cardíaca: a Redução da Hospitalização é a Solução?”. Em sua conferência, ressaltou que a definição de uma estratégia de manejo dos pacientes é essencial para que a redução no número de admissões seja feita de maneira otimizada, por meio do manejo multidisciplinar, com diversas equipes desempenhando múltiplas tarefas. Além disso, destacou a importância do acesso universal ao kit básico de medicações, a conscientização da população quanto ao auto-cuidado, a implementação de visita ambulatorial breve pós-alta (7 dias) e a identificação precoce de pacientes com alto risco de re-internação.