A Academia Nacional de Medicina (ANM) e a Academia Brasileira de Letras (ABL) têm mais em comum do que o fato de terem sido, ambas, criadas por inspiração francesa. Na conferencia “Membros da Academia Nacional de Medicina e da casa de Machado de Assis”, proferida na última quinta-feira, 27, na sede da ANM, o médico, ensaísta, cronista, biógrafo e historiador Hélio Begliomini apresentou detalhes de um levantamento demonstrando que, ao longo da história, pelo menos 24 acadêmicos pertenceram, simultaneamente, às duas instituições. Atualmente, o único membro das duas academias em atividade é o cirurgião Ivo Pitanguy, um dos maiores nomes da cirurgia plástica mundial.
Nomes como Guimarães Rosa, Carlos Chagas Filho, Antonio Austragésilo, Moacyr Scliar, Miguel Couto e Roquete Pinto, já falecidos, entre outros, também fazem parte da lista de acadêmicos das duas instituições. Ao final de sua apresentação, Begliomini instou os presentes a refletir sobre a baixa incidência, nos dias atuais, de médicos e escritores pertencentes às duas academias, ao contrário do que ocorreu em períodos anteriores da história das duas instituições. “Talvez devêssemos nos perguntar se o médico, hoje, já não cultiva o saber universalista que o caracterizava no passado”, disse o conferencista.
De fato, o culto ao saber universalista caracterizou boa parte dos membros simultâneos das duas academias citados por Begliomini. Um deles é o escritor Olavo Bilac que, a bem da verdade, chegou a cursar medicina, mas não concluiu. Há o caso curioso de Guimarães Rosa que, eleito por unanimidade em sua segunda candidatura para a ABL, em 1963, adiou sua posse por quatro anos, temendo morrer devido à forte emoção. Curiosamente, em 19 de novembro de 1967, três dias depois de ter assumido, viria a falecer.
Em seu levantamento, Begliomini destacou que seis dos patronos da ABL são médicos. É o caso de Antonio Peregrino Maciel Monteiro, que também é patrono na ANM da cadeira 23, hoje ocupada pelo acadêmico Raul Cutait. Médico, jornalista, político, orador e poeta, Maciel Monteiro foi conselheiro do Imperador Dom Pedro I e, por conta de sua atuação como diplomata, recebeu o título de Barão de Itamaracá. Outro membro das duas academias destacado por Begliomini foi o acadêmico Miguel Couto, que presidiu a ANM por 21 anos consecutivos, na mais longa gestão da história da instituição.
A apresentação “Membros da Academia Nacional de Medicina e da casa de Machado de Assis”, encerrou o ciclo de conferencias da ANM no ano de 2104, com o retorno das palestras previsto para março do ano que vem. “Encerramos com chave de ouro”, disse o presidente da ANM, professor Pietro Novellino. “A brilhante conferencia aqui apresentada induziu a grandes reflexões sobre o nosso papel na medicina e na cultura”.