A ansiedade é um sinal de alerta, que permite ao indivíduo ficar atento a um perigo iminente e tomar as medidas necessárias para lidar com a ameaça. Em outras palavras, é um sentimento útil. Sem ela estaríamos vulneráveis aos perigos e ao desconhecido. É algo que está presente no desenvolvimento normal, nas mudanças, e nas experiências novas e inéditas.
A ansiedade permite a um ator que estreará uma nova peça, que ensaie o suficiente para ter maior segurança e, conseqüentemente, menor ansiedade; ou então que um jovem se prepare demoradamente e com vários detalhes irrelevantes para um encontro amoroso. Após algum tempo, a preparação para o encontro com uma antiga namorada se torna quase desnecessária, já que não há mais ansiedade.
A ansiedade normal é uma sensação difusa e desagradável de apreensão, acompanhada por vários sintomas físicos: mal-estar epigástrico, aperto no tórax, palpitações, sudorese excessiva, cefaléia, súbita necessidade de evacuar, inquietação etc. Os padrões individuais físicos de ansiedade variam amplamente. Alguns indivíduos apresentam apenas sintomas cardiovasculares, outros apenas sintomas gastrintestinais, há aqueles que apresentam apenas sudorese excessiva.
A sensação de ansiedade pode ser dividida em dois componentes:
1) a consciência de sensações físicas
2) a consciência de estar nervoso ou amedrontado. A ansiedade pode ser aumentada por um sentimento de vergonha: “os outros notaram que estou nervoso”. Alguns ficam surpresos ao notarem que os outros não perceberam sua ansiedade ou não notaram sua intensidade.
A diferença entre medo e ansiedade é questão teórica. Como citado anteriormente, a ansiedade é uma sensação vaga e difusa; leva-nos a enfrentar as situações agradáveis ou não, com sucesso. Já o medo, que também é reação normal, difere da ansiedade porque é ligado a uma situação ou objeto específico que apresenta perigo, real ou imaginário, e nos leva a evitá-lo. Um exemplo é o medo de assalto. Todos evitamos as situações que nos possam deixar mais vulneráveis.
Uma vez que é útil responder com ansiedade a certas situações ameaçadoras, podemos falar de ansiedade normal, contrastando com a ansiedade anormal ou patológica. Essa é uma resposta inadequada a determinado estímulo, em virtude de sua intensidade ou duração. Diferentemente da ansiedade normal, a patológica paralisa o indivíduo, traz prejuízo ao seu bem-estar e ao seu desempenho, e não permite que ele se prepare e enfrente as situações ameaçadoras.
Certamente o transtorno de pânico, um transtorno de ansiedade, não é um problema do nosso tempo: inúmeros relatos literários e folclóricos demonstram a observação de sintomas semelhantes ao que atualmente denominamos transtorno de pânico. Talvez um dos exemplos mais antigos seja da mitologia grega – o deus Pan, responsável pela ansiedade e que deu a origem ao termo pânico.
Os aspectos essenciais são ataques de ansiedade aguda e grave, recorrente (ataques de pânico), os quais não estão restritos a qualquer situação ou conjunto de circunstâncias específicos. Principalmente o primeiro ataque é imprevisível e espontâneo. Duram menos de uma hora, quase sempre apenas alguns minutos, atingindo o máximo de intensidade em 10 minutos.
O transtorno de pânico tem prevalência de 1,5 a 2,0% da população. A proporção entre os sexos é de 2 mulheres para 1 homem. Desenvolve-se mais freqüentemente em adultos jovens, com a idade média de apresentação em torno dos 25 anos de idade, podendo iniciar-se em qualquer idade.
O primeiro ataque de pânico é sempre espontâneo, inesperado. Os sintomas começam de forma crescente, atingindo um máximo em torno de 10 minutos. Raramente ultrapassam os 30 minutos. Os sintomas mais comuns são: dispnéia, sensação de sufocação ou de asfixia, vertigem, sensação de instabilidade ou de desmaio, palpitações, tremores, sudorese, náusea ou desconforto abdominal, despersonalização ou desrealização, parestesias, ondas de calor ou de frio, dor ou desconforto no peito, medo de morrer, medo de enlouquecer.
Durante o ataque o paciente pode se sentir confuso, ter dificuldade de concentração, necessidade de abandonar o local para procurar ajuda ou ir para outro lugar melhor ventilado.
Preocupações com os sintomas físicos, principalmente relativos à morte por problema cardíaco ou respiratório podem ser o foco principal de atenção durante um ataque de pânico. Os sintomas depressivos são freqüentes, estando presentes em 80% dos pacientes, inclusive com risco de suicídio.
O curso do transtorno de pânico é variável. Os pacientes alternam, após o primeiro ataque, períodos de ataques freqüentes com períodos assintomáticos. Esses períodos assintomáticos são em parte responsáveis pela dificuldade de adesão ao tratamento, resposta placebo e pelas recaídas incompreensíveis. Há a idéia, com base na experiência clínica, que cerca de 50% dos pacientes se recuperam espontaneamente após um longo período do transtorno. Talvez desapareçam após 20 ou 30 anos, mas a qualidade de vida dos pacientes estará comprometida para sempre.
As complicações do transtorno de pânico são: a agorafobia (75% dos pacientes), a hipocondria (60%), desavenças conjugais, dificuldades financeiras, abuso de álcool e outras drogas, e o suicídio.
A agorafobia (medo de passar mal de repente e não ter uma ajuda imediata), a hipocondria e o abuso de drogas podem ser compreendidos como uma conseqüência dos sintomas físicos intensos que os pacientes sofrem. Devido a eles, ficam com medo de estarem desacompanhados em lugares públicos ou de difícil socorro, surge a idéia de que têm uma doença grave e que apenas exames complementares poderão desvendar. Alguns começam a abusar de drogas que possam diminuir a sua ansiedade antecipatória.
O termo “agorafobia” significa medo de lugares abertos. Na prática clínica designa medo de sair de casa ou de situações onde o socorro imediato não é possível. O termo, portanto, refere-se a um grupamento inter-relacionado e freqüentemente sobreposto de fobias que abrangem o medo de sair de casa, medo de entrar em lugares fechados (aviões, elevadores, cinemas etc), multidões, lugares públicos, permanecer em uma fila, de viajar de ônibus, trem ou automóvel, de se distanciar de casa, e de estar só em uma destas situações. A agorafobia é uma complicação freqüente no transtorno de pânico, onde todas as situações temidas têm em comum o medo de passar mal e não ter socorro fácil ou imediato.
As desavenças conjugais, as dificuldades financeiras e alguns sintomas depressivos, como o suicídio, podem ser compreendidos pela “síndrome de desmoralização” que estes pacientes sofrem. Um adulto, em fase produtiva de sua vida, começa a passar mal freqüentemente, a desenvolver agorafobia e hipocondria, a não conseguir ir ao trabalho sozinho, enfim a depender dos outros. A família, os amigos e, às vezes, até médicos consultados não entendem o problema e questionam a “má vontade” do paciente, como se a simples vontade fosse capaz de decidir se alguém terá ou ficará livre dos sintomas.
O tratamento do transtorno de pânico, visando o controle dos ataques, envolve medidas na área da psicofármacoterapia e das psicoterapias.
As psicoterapias, comportamental e de família, têm o papel fundamental de tratar as complicações do transtorno de pânico. A terapia comportamental visa o tratamento da esquiva agorafóbica. A terapia de família deve ser dirigida à educação e apoio da família do paciente, a qual está sempre comprometida pelas dificuldades de conviver com uma pessoa com transtorno de pânico.
Autor:
Antonio Egidio Nardi – Membro Titular da Academia Nacional de Medicina