Avanços cirúrgicos prometem altas chances de cura para a taquicardia mais frequente, causada pelo ritmo irregular proveniente dos átrios do coração, chamada de fibrilação atrial. O tema foi apresentado na ANM, na sessão de 23/05/2013, por Eduardo Benchimol Saad, médico dos hospitais Samaritano e Pró-Cardíaco, no Rio de Janeiro.
O cardiologista explicou que a fibrilação atrial é a taquicardia mais frequente, se tratando de uma epidemia e grave problema de saúde pública. A incidência aumenta com a idade, principalmente em portadores de doenças cardíacas. O ritmo irregular dos átrios faz o coração bombear menos sangue, gerando sintomas como: palpitação, fadiga, falta de ar, desmaios, tonteira e dor no peito.
No entanto, as principais complicações relacionadas à doença são as chances elevadas de formação de coágulos. Estes caem na circulação e podem entupir artérias em todo o corpo, causando tromboses, ou até acidente vascular encefálico (AVE). Portanto, geralmente esses pacientes precisam de tratamento constante com drogas anticoagulantes, que requerem monitoramento frequente (pois, em contrapartida, aumentam o risco de provocar hemorragias).
Porém, a melhor forma de evitar os coágulos é tratando a causa, ressaltou Saad. “Manter o ritmo cardíaco normal talvez seja a melhor maneira de curar os sintomas do paciente, melhorar a qualidade de vida e prevenir os fenômenos tromboembólicos”. Hoje, é possível corrigir o ritmo cardíaco por meio de algumas drogas, ou com procedimento cirúrgico.
As medicações têm eficácia de 50% a 60%, mas podem ser muito tóxicas e cerca de 30% dos pacientes precisa suspender o tratamento devido aos efeitos adversos. Já a cirurgia teve um grande avanço nos últimos 15 anos: “Passou-se a entender que a parede posterior do átrio esquerdo, na região das veias pulmonares, apresenta um mecanismo intimamente relacionado à fisiopatologia da doença. Isso levou ao desenvolvimento de técnicas bastante modernas para o isolamento das veias pulmonares”, detalha Saad. Assim, a cirurgia consiste na aplicação de energia de radiofrequência através de cateteres, que cauterizam o tecido cardíaco ao redor das veias pulmonares, eliminando os focos das arritmias. O tratamento, chamado de ablação atrial, têm apresentado ótimos resultados, com taxa de melhora de 70% a 80%.
Porém, um dos principais problemas da cirurgia é a recidiva, principalmente de quem já tem alguma cardiopatia. Para tentar evitar isso, existem algumas técnicas que aumentam a estabilidade do cateter e permitem alcançar uma precisão maior, como a manipulação magnética, feita pela força de ímãs acoplados em braços mecânicos. “Estas técnicas permitem fazer lesões mais profundas e, portanto, menos susceptíveis à regeneração tecidual, que causa a recidiva”, explica. Além disso, é preciso adequar a ablação ao paciente, fazendo procedimentos mais agressivos e extensos em formas mais evoluídas e crônicas da doença.
Antes, se fazia a cirurgia apenas em pacientes que não respondiam aos medicamentos, mas Saad aponta que este quadro está mudando e já se recomenda a cirurgia mais precoce. “Inclusive, para alguns pacientes esta pode ser a 1ª opção de tratamento”.
Em seguida, para monitorar a manutenção do ritmo cardíaco, já existe um pequeno chip que é implantado no paciente e faz o monitoramento 24 horas do ritmo cardíaco, começando a gravar caso ocorra alguma arritmia. “É um dispositivo bem pequeno, que acompanha o paciente por três anos”.
Além disso, também estão sendo desenvolvidas novas tecnologias cirúrgicas para evitar que algum coágulo saia do coração para a circulação. Trata-se de uma espécie de rede, que é implantada no átrio para recolher os trombos que porventura possam se desprender. Saad explica que esta é uma boa opção para os pacientes que têm alto risco de hemorragias ao usar anticoagulantes.
Por fim, uma das projeções futuras apontadas por Saad é relacionada ao tratamento através do sistema nervoso simpático, com atuação nos rins. “Os nervos simpáticos passam pela artéria renal e hoje já é possível fazer um tratamento cirúrgico, chamado simpatectomia percutânea, que aplica radiofrequência pelo cateterismo na artéria renal (da mesma forma que se faz no coração) e lesa o nervo simpático. Hoje, esse tratamento é usado para pacientes com hipertensão arterial refratária. […] Mas, já existem trabalhos iniciais mostrando que a combinação da ablação do coração e da artéria renal pode produzir resultados ainda melhores do que simplesmente com a ablação do coração”, completa. “Isso mostra que os mecanismos fisiopatológicos envolvidos na fibrilação atrial são múltiplos, que o sistema nervoso simpático está intimamente envolvido e é possível modulá-lo”.