“A entrega de uma láurea não apenas contempla quem a recebe, mas acima de tudo a própria Universidade Federal do Rio de Janeiro”, disse o paraninfo Professor Adalberto Vieyra. O discurso foi em homenagem ao presidente da Academia Nacional de Medicina, Marcos Fernando de Oliveira Moraes, durante a outorga do título de Doutor Honoris Causa da UFRJ, em cerimônia realizada no dia 17 de dezembro de 2012.
Vieyra ressaltou as origens do homenageado que nasceu em Palmeira dos Índios, terra do famoso escritor Graciliano Ramos. De uma família humilde e pobre como os personagens de Vidas Secas – obra prima deste grande escritor modernista e retratista como poucos da miséria e da dor -, “Marcos Moraes conseguiu traçar sua caminhada que o traz até esta noite de forma diferenciada e que inclui cenas caudalosas, amazônicas em sua intensidade e de uma grandeza ímpar”. Vieyra detalhou momentos marcantes desde os tempos de Moraes no Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, perpassando o curso de medicina e a direção do Centro Acadêmico da Faculdade de Medicina da hoje Universidade do Estado do Rio de Janeiro, até as conquistas profissionais nos hospitais onde trabalhou como Silvestre, Ipanema, Samaritano e nas instituições criadas ou administradas por ele como a Fundação do Câncer, o Instituto Nacional do Câncer e o Programa de Oncobiologia da UFRJ.
Antes de iniciar seu discurso, Marcos Moraes contou uma história do escritor e acadêmico Austragésilo de Athayde para ilustrar o amor, orgulho que sente o nordestino por sua gente e suas instituições. Ele acabara de chegar de Paris, onde pronunciara um discurso histórico na Assembleia Geral das Nações Unidas sobre a declaração dos direitos humanos de cujo texto foi o redator principal. Athayde se apressa, relata Moraes, em ir ao Recife contar para sua mãe, que acreditava sentiria muito orgulho do filho ilustre, mas que ao escutar faz quase um desdém: “é, mas você nunca discursou no teatro Santa Isabel.”
“É difícil disfarçar o enorme orgulho que nos invade nessa hora, assim como é impossível imaginar a felicidade dos meus pais se aqui ainda estivessem. Dividir com eles a alegria de falar da mais alta tribuna do país para os grandes professores dessa nossa terra. Esta conquista quero repartir com os verdadeiros arquitetos: meus pais, meus amigos, meus professores, meus companheiros de trabalho e com todos aqueles que ao longo da vida aqueceram minha alma com seu afeto e por último com as instituições onde trabalhei por quase meio século”, disse Moraes
Filho mais velho de seis irmãos, sempre aprendeu a dividir. Contou para a plateia características da mãe, que tinha um olhar dedicado para cada um dos filhos; do pai bondoso, boêmio, líder nato, seu exemplo de homem; e do avô, pai Marçal como o chamavam: “um tipo intelectual autodidata, músico, poeta, escritor, fogueteiro de profissão e que mantinha um teatro mambembe que arrecadava fundos para o Natal dos pobres e cujo elenco principal era formado pelas 14 filhas. “Era um gigante de voz e mãos fortes. E quando parti para o Rio de trem, tenho-o em minha memória, agitando seu lenço xadrez.”
O ato de dividir, afirmou Moraes, se reproduz. “Carinhos e estímulos que recebi na infância estão certamente na origem do enorme prazer que tenho na vida de transmitir o que aprendi e de criar os estímulos e condições necessárias para que outros possam fazer de forma mais eficiente”.
Ressaltou suas raízes fincadas na Serra da Boa Vista e no território onde viviam os índios xucurus. “Tenho orgulho da terra onde Zumbi dos Palmares fundou, na Serra da Barriga, a primeira nação negra das Américas”. Moraes ainda falou sobre aspectos marcantes de sua trajetória profissional pelos hospitais cariocas, pela Uerj, no Inca, na Fundação do Câncer, e no Programa de Oncobiologia, onde afirma que acredita apenas ter ajudado na captação de recursos, reunindo benfeitores como Vivi Nabuco. Destacou a relevância da rica história da UFRJ no cenário das universidades brasileiras, que conta hoje com mais de 3.600 professores, 56 mil alunos, 100 cursos de pós-graduação stricto sensu, 300 cursos lato sensu e seis campi em 11 municípios fluminenses.
O Diretor do Instituto de Bioquímica Médica, Mário Alberto Cardoso da Silva Neto, contou, por sua vez, a trajetória do processo de outorga do título de Honoris Causa. Segundo ele, o Instituto de Bioquímica Médica apresentou a proposta original, encaminhada pelos professores titulares Vivian Rumjanek e Jerson Lima Silva. A proposta, como disse, transitou nos vários colegiados da Universidade. “Sempre recebida com muita alegria e especialmente embalada por vários colegas.”
Para finalizar a cerimônia, o Reitor Carlos Levi ressaltou que: “Marcos Moraes se constitui num daqueles claros consensos no que diz respeito à ética, seriedade profissional, à sua generosidade e história de vida com firmes convicções, além de sua capacidade empreendedora demonstrada em vários momentos relatados durante a cerimônia.” Segundo ele, esses relatos só fazem fortalecer e ampliar sua já robusta legião de amigos e fiéis admiradores que o vieram prestigiar. “Marcos Moraes é um homem adiante do seu próprio tempo e a outorga desse título de Doutor Honoris Causa vai muito além da honraria. É uma maneira reflexa porque ele enriquece de forma bastante generosa a nossa seleta galeria de homenageados.”
Participaram da comissão de homenagem além do magnífico Reitor da UFRJ, Carlos Antonio Levi da Conceição, o Vice-Reitor, Antonio Ledo da Cunha, o Diretor da Faculdade de Medicina da UFRJ, Roberto Medronho, o diretor do Instituto de Bioquímica Médica, Mário Alberto Cardoso da Silva Neto, o Diretor do Instituto de Neurologia Deolindo Couto, José Luiz Sá Cavalcante, e mais os pesquisadores da comissão de honra Adalberto Vieyra, Vivian Rumjanek, Ottilia Mitidieri, Jerson Lima, e Antonio Paes de Carvalho.