Cientista e médico, nascido em Salvador, no Estado da Bahia, em 6 de janeiro de 1873, filho de Manoel do Carmo Moreira Junior, português, e de Galdina Joaquim do Amaral, que trabalhava como doméstica na residência de Adriano Alves Lima Gordilho, o Barão de Itapuã, médico e professor da Faculdade de Medicina da Bahia. Foi criado pela mãe e reconhecido posteriormente pelo pai, um funcionário municipal, inspetor de iluminação pública.
Juliano Moreira iniciou seus estudos primários no Colégio Pedro II e os concluiu no Liceu Provincial, ambos na cidade de Salvador. Foi um menino prodígio, negro e pobre, que ingressou no curso de medicina em 1886, 2 anos antes da abolição formal da escravatura, com apenas 13 anos, e doutorou-se pela Faculdade de Medicina da Bahia em 1891, com apenas 18 anos, com a tese intitulada “Sífilis Maligna Precoce”. Sua tese de formatura ganhou repercussão internacional por propor novas abordagens sobre a sífilis. Mais tarde, foi professor de Clínica Médica desta mesma faculdade.
Com Pacheco Mendes, Nina Rodrigues, Alfredo Brito e outros, fundou a Sociedade de Medicina e Cirurgia, bem como a Sociedade de Medicina Legal, da Bahia.
É interessante assinalar que Juliano Moreira, além de psiquiatra, foi eminente tropicalista, tendo efetuado vários trabalhos sobre o “gundú” (bouba terciária), a leishmaniose tegumentar, a lepra e micetomas. Na Bahia começou a utilizar, pela primeira vez em nosso meio, a punção lombar com fins diagnósticos.
Em 1902, viajou ao Rio de Janeiro para assistir ao embalsamento de seu amigo e mestre Manoel Vitorino Pereira (médico, político e vice-presidente do Brasil no governo de Prudente de Moraes). Eram dias coincidentes com os da posse do Presidente Rodrigues Alves, que teria como Ministro da Justiça e Negócios Interiores o Dr. José Joaquim Seabra. Através de Afrânio Peixoto (médico e político), já então no Rio de Janeiro, estabelece-se a ligação entre J. J. Seabra e Juliano Moreira.
No ano de 1903 recebeu o convite do Ministro J. J. Seabra, para dirigir o Hospício Nacional de Alienados, no Rio de Janeiro. O Hospício torna-se o grande centro de assistência, pesquisa e formação de psiquiatras, de indelével marca na história da medicina brasileira.
O Hospício Pedro II ou Hospital Nacional de Alienados foi inaugurado em 1852, no prédio atualmente ocupado pelo campus da Praia Vermelha da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na Avenida Pasteur, no 250.
Na década de 1960, o casarão da Avenida Pasteur, no 296, ao lado do hospício, tornou-se sede do Serviço Nacional de Doenças Mentais, conhecido como “Casa de Juliano Moreira”, tendo sido desocupado anos depois. Posteriormente, foi reocupado pela recém-criada UNIRIO em 1980, por ocasião da demolição do prédio da Praia do Flamengo, no 132, que forçou a transferência da Escola de Teatro e do Instituto Villa-Lobos para o novo endereço na Urca. Hoje abriga a Reitoria da UNIRIO. Embora a data exata de construção do edifício seja desconhecida, acredita-se que tenha ocorrido no período em que Juliano Moreira foi Diretor do Hospital dos Alienados, que construiu o casarão anexo ao Hospital para servir como sua residência.
Por iniciativa do Dr. Juliano Moreira foram fundadas as Colônias do Engenho de Dentro e de Jacarepaguá, as Sociedades de Psiquiatria, Neurologia e Medicina Legal, bem como inaugurado o Manicômio Judiciário. Psiquiatra inovador, foi de sua iniciativa a lei de assistência aos alienados, promulgada em 1903 e regulamentada no ano seguinte. Nela amparado, promoveu importante obra de reforma e aparelhamento no Hospital dos Alienados, sob sua direção, e aprimorou a assistência a psicopatas, na instituição pública da qual foi diretor-geral por 28 anos. Aboliu o uso de camisa-de-força, retirou as grades das janelas e separou as enfermarias de adultos das de crianças, criando um ambiente humanizado aos pacientes.
Juliano Moreira introduziu as ideias de Freud no ensino da medicina e foi grande opositor do racismo científico.
Em novembro de 1930, Getúlio Vargas assume a presidência do Brasil e dissolve o Congresso Nacional, as Câmaras, as Assembleias Estaduais e nomeia interventores nos estados. Em 8 de dezembro de 1930, Juliano Moreira foi destituído da direção do Hospital Nacional de Alienados, onde também morava. Aposentado, foi morar num hotel em Santa Teresa, mantendo algumas atividades médicas e acadêmicas.
Juliano Moreira introduziu uma nova orientação nos estudos de psiquiatria; não se limitou a uma obra material de reformas, tendo libertado o alienado dos meios físicos de repressão, instituindo a sua verdadeira terapêutica. Com seu vasto cabedal científico modificou várias concepções da psiquiatria. Antonio Austregésilo disse que “a personalidade de Juliano Moreira irradiou-se em todas as fórmulas: escolheu pessoas idôneas para amar a ciência e considerar o doente; distribuiu a bondade que é a fórmula mais elementar e eficiente da psicoterapia; fugiu dos corrilhos burocráticos e teve sempre, para o estudioso, a palavra de ânimo, consolo, solicitude e carinho, que foram os segredos da construção da escola científica, além da certitude da orientação, quase criadora, que embalsamou durante vinte anos a atmosfera da assistência aos insanos”.
Considerado como o fundador da psiquiatria científica no Brasil, Juliano Moreira, no campo da literatura médica, escreveu e publicou obras de grande valor, que reúne mais de cem títulos, entre trabalhos científicos e de outra natureza, destacando-se “Assistência aos alienados no Brasil” (1906), “Les maladies mentales au Brésil” (1907) e “A evolução da medicina brasileira” (1908). Fundou em colaboração com outros médicos, os periódicos “Arquivos brasileiros de psiquiatria, neurologia e medicina legal (1905), “Arquivos brasileiros de medicina” (1911) e “Arquivos do Manicômio Judiciário do Rio de Janeiro” (1930). Foi, ainda, colaborador do periódico “Brasil Médico” e da “Revista Médico-Cirúrgica do Brasil”.
Um dos cientistas brasileiros de maior renome, foi membro de inúmeras instituições científicas, como a Antropologische Gesellschaf de Munique, a Société de Médecine de Paris, a MedicoLegal Society de Nova York e a Medico-Psychological Association de Londres. Foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Ciências, tendo sido seu presidente de 1926 a 1929.
Na Academia Nacional de Medicina foi eleito Membro Titular, em 1903, e transferido para a classe dos Honorários, em 1930. Foi vice-presidente na gestão do Acadêmico Miguel Couto, no período de 1922 a 1923 e de 1925 a 1933, ano de sua morte.
Padecendo de tuberculose, e com a piora da doença, seu médico, Dr. Miguel Couto, encaminhou-o para o Sanatório de Correias, na serra de Petrópolis, onde veio a falecer aos 61 anos, no dia 02 de maio de 1933. Não deixou filhos.
Acad. Francisco Sampaio
Número acadêmico: 235
Cadeira: 57 Juliano Moreira
Cadeira homenageado: 57
Membro: Titular
Secção: Medicina
Eleição: 29/10/1903
Posse: 05/11/1903
Sob a presidência: Joaquim Pinto Portella
Saudado: Carlos Pinto Seidl
Falecimento: 02/05/1933
Número acadêmico: 235
Cadeira: 57 Juliano Moreira
Cadeira homenageado: 57
Membro: Titular
Secção: Medicina
Eleição: 29/10/1903
Posse: 05/11/1903
Sob a presidência: Joaquim Pinto Portella
Saudado: Carlos Pinto Seidl
Falecimento: 02/05/1933
Cientista e médico, nascido em Salvador, no Estado da Bahia, em 6 de janeiro de 1873, filho de Manoel do Carmo Moreira Junior, português, e de Galdina Joaquim do Amaral, que trabalhava como doméstica na residência de Adriano Alves Lima Gordilho, o Barão de Itapuã, médico e professor da Faculdade de Medicina da Bahia. Foi criado pela mãe e reconhecido posteriormente pelo pai, um funcionário municipal, inspetor de iluminação pública.
Juliano Moreira iniciou seus estudos primários no Colégio Pedro II e os concluiu no Liceu Provincial, ambos na cidade de Salvador. Foi um menino prodígio, negro e pobre, que ingressou no curso de medicina em 1886, 2 anos antes da abolição formal da escravatura, com apenas 13 anos, e doutorou-se pela Faculdade de Medicina da Bahia em 1891, com apenas 18 anos, com a tese intitulada “Sífilis Maligna Precoce”. Sua tese de formatura ganhou repercussão internacional por propor novas abordagens sobre a sífilis. Mais tarde, foi professor de Clínica Médica desta mesma faculdade.
Com Pacheco Mendes, Nina Rodrigues, Alfredo Brito e outros, fundou a Sociedade de Medicina e Cirurgia, bem como a Sociedade de Medicina Legal, da Bahia.
É interessante assinalar que Juliano Moreira, além de psiquiatra, foi eminente tropicalista, tendo efetuado vários trabalhos sobre o “gundú” (bouba terciária), a leishmaniose tegumentar, a lepra e micetomas. Na Bahia começou a utilizar, pela primeira vez em nosso meio, a punção lombar com fins diagnósticos.
Em 1902, viajou ao Rio de Janeiro para assistir ao embalsamento de seu amigo e mestre Manoel Vitorino Pereira (médico, político e vice-presidente do Brasil no governo de Prudente de Moraes). Eram dias coincidentes com os da posse do Presidente Rodrigues Alves, que teria como Ministro da Justiça e Negócios Interiores o Dr. José Joaquim Seabra. Através de Afrânio Peixoto (médico e político), já então no Rio de Janeiro, estabelece-se a ligação entre J. J. Seabra e Juliano Moreira.
No ano de 1903 recebeu o convite do Ministro J. J. Seabra, para dirigir o Hospício Nacional de Alienados, no Rio de Janeiro. O Hospício torna-se o grande centro de assistência, pesquisa e formação de psiquiatras, de indelével marca na história da medicina brasileira.
O Hospício Pedro II ou Hospital Nacional de Alienados foi inaugurado em 1852, no prédio atualmente ocupado pelo campus da Praia Vermelha da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na Avenida Pasteur, no 250.
Na década de 1960, o casarão da Avenida Pasteur, no 296, ao lado do hospício, tornou-se sede do Serviço Nacional de Doenças Mentais, conhecido como “Casa de Juliano Moreira”, tendo sido desocupado anos depois. Posteriormente, foi reocupado pela recém-criada UNIRIO em 1980, por ocasião da demolição do prédio da Praia do Flamengo, no 132, que forçou a transferência da Escola de Teatro e do Instituto Villa-Lobos para o novo endereço na Urca. Hoje abriga a Reitoria da UNIRIO. Embora a data exata de construção do edifício seja desconhecida, acredita-se que tenha ocorrido no período em que Juliano Moreira foi Diretor do Hospital dos Alienados, que construiu o casarão anexo ao Hospital para servir como sua residência.
Por iniciativa do Dr. Juliano Moreira foram fundadas as Colônias do Engenho de Dentro e de Jacarepaguá, as Sociedades de Psiquiatria, Neurologia e Medicina Legal, bem como inaugurado o Manicômio Judiciário. Psiquiatra inovador, foi de sua iniciativa a lei de assistência aos alienados, promulgada em 1903 e regulamentada no ano seguinte. Nela amparado, promoveu importante obra de reforma e aparelhamento no Hospital dos Alienados, sob sua direção, e aprimorou a assistência a psicopatas, na instituição pública da qual foi diretor-geral por 28 anos. Aboliu o uso de camisa-de-força, retirou as grades das janelas e separou as enfermarias de adultos das de crianças, criando um ambiente humanizado aos pacientes.
Juliano Moreira introduziu as ideias de Freud no ensino da medicina e foi grande opositor do racismo científico.
Em novembro de 1930, Getúlio Vargas assume a presidência do Brasil e dissolve o Congresso Nacional, as Câmaras, as Assembleias Estaduais e nomeia interventores nos estados. Em 8 de dezembro de 1930, Juliano Moreira foi destituído da direção do Hospital Nacional de Alienados, onde também morava. Aposentado, foi morar num hotel em Santa Teresa, mantendo algumas atividades médicas e acadêmicas.
Juliano Moreira introduziu uma nova orientação nos estudos de psiquiatria; não se limitou a uma obra material de reformas, tendo libertado o alienado dos meios físicos de repressão, instituindo a sua verdadeira terapêutica. Com seu vasto cabedal científico modificou várias concepções da psiquiatria. Antonio Austregésilo disse que “a personalidade de Juliano Moreira irradiou-se em todas as fórmulas: escolheu pessoas idôneas para amar a ciência e considerar o doente; distribuiu a bondade que é a fórmula mais elementar e eficiente da psicoterapia; fugiu dos corrilhos burocráticos e teve sempre, para o estudioso, a palavra de ânimo, consolo, solicitude e carinho, que foram os segredos da construção da escola científica, além da certitude da orientação, quase criadora, que embalsamou durante vinte anos a atmosfera da assistência aos insanos”.
Considerado como o fundador da psiquiatria científica no Brasil, Juliano Moreira, no campo da literatura médica, escreveu e publicou obras de grande valor, que reúne mais de cem títulos, entre trabalhos científicos e de outra natureza, destacando-se “Assistência aos alienados no Brasil” (1906), “Les maladies mentales au Brésil” (1907) e “A evolução da medicina brasileira” (1908). Fundou em colaboração com outros médicos, os periódicos “Arquivos brasileiros de psiquiatria, neurologia e medicina legal (1905), “Arquivos brasileiros de medicina” (1911) e “Arquivos do Manicômio Judiciário do Rio de Janeiro” (1930). Foi, ainda, colaborador do periódico “Brasil Médico” e da “Revista Médico-Cirúrgica do Brasil”.
Um dos cientistas brasileiros de maior renome, foi membro de inúmeras instituições científicas, como a Antropologische Gesellschaf de Munique, a Société de Médecine de Paris, a MedicoLegal Society de Nova York e a Medico-Psychological Association de Londres. Foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Ciências, tendo sido seu presidente de 1926 a 1929.
Na Academia Nacional de Medicina foi eleito Membro Titular, em 1903, e transferido para a classe dos Honorários, em 1930. Foi vice-presidente na gestão do Acadêmico Miguel Couto, no período de 1922 a 1923 e de 1925 a 1933, ano de sua morte.
Padecendo de tuberculose, e com a piora da doença, seu médico, Dr. Miguel Couto, encaminhou-o para o Sanatório de Correias, na serra de Petrópolis, onde veio a falecer aos 61 anos, no dia 02 de maio de 1933. Não deixou filhos.
Acad. Francisco Sampaio